Por uma abordagem perspectivista e “ecológica” do contato linguístico entre português e nheengatu

Autores/as

Palabras clave:

Contato linguístico, Português Brasileiro, Nheengatu, Línguas indígenas, Perspectivismo

Resumen

Este trabalho parte de uma análise preliminar do uso de marcadores de evidencialidade na narração de histórias tradicionais por uma falante de português e nheengatu (família Tupi-Guarani) para propor uma abordagem interdisciplinar e perspectivista (VIVEIROS DE CASTRO, 2004a; 2004b) dos fenômenos de contato linguístico. Partimos da teoria de evolução linguística, ecologia do contato e seleção e competição de traços de Mufwene (2001; 2008) para a análise dos dados linguísticos, mas pretendemos dar um passo além, ao defendermos que o fenômeno atestado – o uso da expressão “dizque” como marcador de evidencialidade – carrega mais do que informações linguísticas per se: a variedade de português que emerge de tal situação de contato pode ser também veículo de expressão de regimes de historicidade, poética e tradição inerentes aos falares do nheengatu.

Citas

AIKHENVALD, Alexandra Y. Baré. München/Newcastle: Lincom Europa, 1995.

AIKHENVALD, Alexandra Y. Evidentiality (Oxford Linguistics). Oxford: Oxford University Press, 2004.

AIKHENVALD, Alexandra Y. Information Source and evidentiality: what can we conclude? Revista di Linguistica, n. 19.1, 2007. p. 209-227.

BARROS, Maria Cândia D. M.; BORGES, Luiz C.; MEIRA, Márcio. A Língua Geral como identidade construída. Revista de Antropologia, v. 39, n. 1, 1996. p. 191-219.

CAMPBELL, Lyle. American Indian Languages: The Historical Linguistics of Native American. Oxford: Oxford University Press, 1997.

CASSEB-GALVÃO, Vânia. Gramática discursivo-funcional e teoria da gramaticalização: revisitando os usos de [diski] no português brasileiro. Filologia linguística portuguesa, v. 13, n. 2, 2011. p. 305-335.

CHERNELA, Janet. Language in an ontological register: Embodied speech in the Northwest Amazon of Colombia and Brazil. Language & Communication, v. 63, 2018. p. 23-32.

COURSE, Magnus. Of words and fog: Linguistic relativity and Amerindian ontology. SAGE Publications, v. 10, n. 3, 2010. p. 247–263.

COURSE, Magnus. Words beyond meaning in Mapuche language ideology. Language & Communication, v. 63, 2018. p. 9-14.

CRUZ, Aline da. Fonologia e Gramática do Nheengatú. A língua geral falada pelos povos Baré, Warekena e Baniwa. Utrecht/Amsterdã: LOT/Vrije Universiteit, 2011.

DEACON, Terrence W. The symbolic species: the co-evolution of language and the brain. New York: Norton,1997.

EDELWEISS, F. G. Estudos Tupis e Tupi-Guaranis: confrontos e revisões. Rio de Janeiro: Livraria Brasiliana Editora, 1969.

EPPS, Patience; STENZEL, Kristine (org.). Upper Rio Negro: cultural and linguistic interaction in Northwestern Amazonia. Rio de Janeiro: Museu Nacional/Museu do Índio-Funai, 2013.

FACUNDES, Sidney; MOORE, Denny; PIRES, Nádia. Nheengatú (Língua Geral Amazônica), its History, and the Effects of Language Contact. UC Berkeley: Department of Linguistics, 1994. Disponível em: https://escholarship.org/uc/item/7tb981s1

FARACLAS, Nicholas et al. Creoles and acts of identity: convergence and multiple voicing in the Atlantic Creoles. PAPIA-Revista Brasileira de Estudos do Contato Linguístico, v. 24, n. 1, 2014. p. 173-198.

FERNANDES, Ulysses; HERRERO, Marina (Org.). Baré: povo do rio. São Paulo: Edições Sesc, 2015.

FINBOW, Thomas. The Nature and Emergence of the Língua Geral Amazônica according to Mufwene’s Language Ecology Model. Revista do GEL, v. 19, n. 2, p. 75-112, 2022.

FINBOW, Thomas; O’NEILL, Paul. “Koineization and language contact: the social causes of morphological change in and with Portuguese”. In: LEDGEWAY, Adam; SMITH, John Charles; VINCENT, Nigel. (Org.). Periphrasis and Inflexion in Diachrony: a View from Romance. Oxford: Oxford University Press, 2022. p. 381-412.

FLOYD, Simeon. The Poetics of Evidentiality in South American Storytelling. Proceedings from the Eighth Workshop on American Indigenous Languages, Santa Barbara Papers in Linguistics, v. 16, 2005.

FREIRE, José R. B. Da Língua Geral ao Português: para uma história dos usos sociais das línguas na Amazônia. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2003.

FREIRE, José Ribamar Bessa. Rio Babel: A história das línguas na Amazônia. 2. ed. Rio de Janeiro: EdUerj, 2011.

GARCIA, Lorena. “Tupi-Carib Histories in the Middle-Lower Xingu”. In: BARRETO, Cristiana et al (Org.). Koriabo, from the Caribbean Sea to the Amazon River. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2020. p. 227-244.

HAUCK, Jan D; HEURICH, Guilherme O. Language in the Amerindian imagination: An inquiry into linguistic natures. Language & Communication, v. 63, 2018. p. 1-8.

HEMMING, J. Amazon Frontier. The Defeat of the Brazilian Indians. 2nd ed., London: Papermac, 1995.

HEMMING, J. Red Gold. The Conquest of the Brazilian Indians. 2nd ed., London: Papermac, 1987.

HUGH-JONES, Stephen. “Escrever na pedra, escrever no papel”. In: ANDRELLO, Geraldo (Org.). Rotas de criação e transformação: narrativas de origem dos povos do Rio Negro. São Gabriel da Cachoeira, AM : FOIRN - Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, 2012. p. 138-167.

LASS, R. Historical Linguistics and Language Change. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.

LENCLUD, Gérard. “A tradição não é mais o que era”: sobre as noções de tradição e de sociedade tradicional em etnologia (1987). História, histórias, v. 1, n. 1, 2013.

LÉVI-STRAUSS, Claude. “Como morrem os mitos”. In: LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural Dois. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1993. p. 261-274.

LIMA, Ademar dos Santos; MARTINS, Silvana Andrade; PEDROSA, Jéssica Nayara Cruz. Os últimos falantes da língua baré. Tellus, ano 19, n. 39, p. 207-226, 2019.

LÜPKE, Friederike et al. Comparing rural multilingualism in Lowland South America and Western Africa. Anthropological Linguistics, n. 62, v. 1, 2020. p. 3-57.

LÜPKE, Friederike. Patterns and perspectives shape perception: epistemological and methodological reflections on the study of small-scale multilingualism. International Journal of Bilingualism, n. 23 (pré-print), 2021.

MEIRA, Márcio. “Articulações políticas e identidade étnica no Alto Rio Negro”. In: D’INCAO, Maria Angela; SILVEIRA, Isolda Maciel Da (Org.). A Amazônia e a crise da modernização. Belém: ICSA/UFPA - Museu Paraense Emílio Goldi, 2009.

MEIRA, Márcio. Livro das Canoas: documentos para a história indígena da Amazônia. São Paulo: Núcleo de História Indígena e Indigenismo e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, 1994.

MEIRA, Márcio. O tempo dos patrões: extrativismo, comerciantes e história indígena no noroeste da Amazônia. Lusotopie, v. 3, p. 173–187, 1996.

MELLO, Antônio A. S.; KNEIP, Andreas. Novas evidências linguísticas (e algumas arqueológicas) que apontam para a origem dos povos tupi-guarani no leste amazônico. Literatura y Linguística, n. 36, 2015. p. 299-312.

MILROY, James. Internal vs. external motivations for linguistic change. Multilingua, n. 16, 1997. p. 311–23.

MITHUN, Marianne. “Morphologies in Contact. Form, Meaning, and Use in the Grammar of Reference”. In: STOLZ, Thomas; VANHOVE, Martine; OTSUKA, Hitomi; URDZE, Aina. (Org.), Morphologies in Contact. Berlin: Akademia Verlag. 2012. p. 15-36.

MONSERRAT, Ruth. “O Tupi do século XVIII (tupi médio)”. In: FREIRE, José R. B., Rosa, Maria Carlota (Org.). Línguas Gerais. Política linguística e catequese na América do Sul no período colonial. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2003. p. 185-194.

MONSERRAT, Ruth; BARROS, Cândida. de; MOTA, J. Comparação entre dois diálogos de doutrina jesuíticos tupi: João Filipe Bettendorff (1687) e José Vidigal (1740). I: Anais da XIII Jornadas Internacionais Missões Jesuíticas, Dourados. XIII Missões jesuíticas, 2010.

MOORE, D. “Historical Development of Nheengatu”. In: MUFWENE, Salikoko S. (Org.). Iberian Imperialism and Language Evolution in Latin America. Chicago: University of Chicago Press, 2014, p. 108-142.

MUFWENE, Salikoko S. Language Evolution: Contact, Competition and Change. Londres/Nova York: Continuum International Publishing Group, 2008.

MUFWENE, Salikoko S. The ecology of Language Evolution. Cambridge: Cambridge University Press, 2001.

NEGRÃO, Esmeralda V.; VIOTTI, Evani. Em busca de uma história linguística. Revista de Estudos da Linguagem, v. 20, n. 2, 2012. p. 309-342.

NEVES, Eduardo Góes. Arqueologia, história indígena e o registro etnográfico: exemplos do Alto Rio Negro. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, v. 3, p. 319–330, 1999.

NIMUENDAJÚ, Curt. Reconhecimento dos rios Içana, Ayari e Uaupés: apontamentos linguísticos e fotografias. Rio de Janeiro: Museu do Índio - Funai, 2015.

NOBRE, Wagner A.. Línguas gerais na história social-linguística do Brasil, PAPIA-Revista Brasileira de Estudos do Contato Linguístico, São Paulo v. 26, n. 1, 2016. p. 7-52.

OLIVEIRA, Ana Gita de. O mundo transformado: um estudo de fronteira no Alto Rio Negro. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1995.

OLIVEIRA, Christiane C. de. Uma descrição do Baré (Arawak). Aspectos fonológicos e gramaticais. Dissertação de Mestrado, Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 1993.

PAYNO GOMES, Mariana. Brazilian Portuguese and Nheengatú in São Gabriel da Cachoeira (AM): some effects of language contact. Cadernos de Linguística, v. 2, n. 4, 2021. p. e480

RODRIGUES, A. D. “Tupi, tupinambá, línguas gerais e português do Brasil”. In: NOLL, V.; DIETRICH, W. (Org.). O português e o tupi no Brasil. São Paulo: Contexto, 2010. p. 27-47.

RODRIGUES, Aryon D. “Aspectos da História das Línguas Indígenas da Amazônia”. In: SIMÕES, M. S. (org.). Sob o signo do Xingu. Belém: IFNOPAP/UFPA, 2003. p. 37-51.

RODRIGUES, Aryon D. As línguas gerais sul-americanas. PAPIA-Revista Brasileira de Estudos do Contato Linguístico, n. 4, v. 2, 1996. p. 6-18.

RODRIGUES, Aryon D. Some cases of regrammaticalization in Tupí-Guaraní languages. Revista Brasileira de Linguística Antropológica, v. 2, n. 2. 2010a. p. 65-74.

RODRIGUES, Aryon D.; CABRAL, Ana Suelly A. A contribution to the linguistic history of the Língua Geral Amazônica. Alfa, v. 55, n. 2, 2011. p. 614-639.

ROSA, Maria Carlota. Descrições missionárias de língua geral nos séculos XVI-XVII: que descreveram? Revista Papia, v. 1, 1992. p. 85-98.

ROSA, Maria Carlota. The 16th and 17th centuries: Tupi or Lingua Geral? The grammars of Anchieta and Figueira. I: Actes: La “découverte” des langues et des écritures d'Amérique”, 1990.

SANTOS, Fernando Sergio Dumas Dos. O povo das águas pretas: o caboclo amazônico do Rio Negro. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, v. 14, p. 113–143, 2007.)

SANZ, Rafael López. El baré. Estudio lingüístico. Caracas: Universidad Central de Venezuela, 1972.

SARMENTO, Francisco. O Alto Rio Negro indígena em mais de dois mil anos de história. Revista Brasileira De Linguística Antropológica, v. 11, n. 2, 2019. p. 41-72.

SORENSEN, Arthur P. Jr. Multilingualism in the Northwest Amazon. American Anthropologist, n. 69, 1967. p. 670-684.

STENZEL, Kristine. Multilingualism in the Northwest Amazon, Revisited. Memorias del Congreso de Idiomas Indígenas de Latinoamérica-II27, University of Texas at Austin, 2005.

STENZEL, Kristine; WILLIAMS, Nicholas. Toward an interactional approach to multilingualism: Ideologies and practices in the northwest Amazon. Language & Communication, v. 80, p. 136-164, 2021. .

TAYLOR, Anne Christine; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Um corpo feito de olhares (Amazônia). Revista de Antropologia, v. 62, n. 3, 2019. p. 769-818.

VEYNE, Paul. “Divisão social do saber e modalidades de crença”. In: VEYNE, Paul. Os gregos acreditavam em seus mitos?. São Paulo: Editora Unesp, 2014. p. 53-69.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Arawete: uma visão da cosmologia e da pessoa Tupi-Guarani. Rio de Janeiro: Museu Nacional-UFRJ, 1984.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Exchanging perspectives: the transformation of objects into subjects in Amerindian ontologies. Common Knowledge, v. 10, n. 3, 2004a. p. 463–484.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Perspectival anthropology and the method of controlled equivocation. Tipití - Journal of the Society for the Anthropology of Lowland South America, v. 2, n. 1, 2004b. p. 3–22.

WEINREICH, Uriel. Languages in contact: findings and problems. New York: Linguistic Circle of New York, 1953.

Publicado

2024-01-01

Cómo citar

Payno Gomes, M., & Finbow, T. D. (2024). Por uma abordagem perspectivista e “ecológica” do contato linguístico entre português e nheengatu. Revista Diálogos, 11(2), 1–29. Recuperado a partir de https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/revdia/article/view/15758