A questão da estrutura fenomenológica da consciência em Para uma filosofia do ato, de Mikhail Bakhtin
Palavras-chave:
Fenomenologia, Consciência, IntencionalidadeResumo
Este artigo, fruto dos nossos mais recentes debates em nosso grupo de pesquisa, busca discutir teoricamente uma das mais importantes relações filosóficas mantidas pelo filósofo russo Mikhail M. Bakhtin [1895-1975], aquela que, a nosso ver, Bakhtin estabeleceu de maneira criticamente dialógica com a fenomenologia transcendental de Edmund Husserl [1859-1938]. O nosso foco interpretativamente teórico incide sobre alguns dos aspectos fenomenológicos presentes no livro de Bakhtin, postumamente publicado, Para uma filosofia do ato (1993 [1986]). Mais especificamente, a nossa atenção está direcionada para o problema da consciência apresentado nessa obra. Discutimos como Bakhtin propôs o seu conceito de arquitetônica como uma definição sinteticamente epistêmica da estrutura fenomenológica da consciência. Também apresentamos como compreendemos o conceito de ato responsável como a versão bakhtiniana para o de intencionalidade da fenomenologia transcendental, enquanto uma proposta que, ao mesmo tempo, parece buscar distanciar-se do transcendentalismo de Husserl, ao principalmente tentar lidar com os problemas referentes à consciência e à condição dos entes humanos a partir de uma perspectiva historicamente cultural, segundo uma ética das relações humanas na história. Para realizarmos essa nossa discussão, seguimos especialmente as diretrizes analíticas de Brandist (2002) e de Sobral (2005; 2019). Inicialmente, partimos de uma breve especificação do problema da consciência na fenomenologia husserliana. Em seguida, dedicamo-nos a discutir as questões já mencionadas na referida obra do filósofo russo. Com este artigo, esperamos contribuir minimamente para os estudos bakhtinianos que procuram esclarecer tanto as múltiplas relações axiológicas e epistêmicas estabelecidas por Bakhtin, quanto os fundamentos epistemologicamente filosóficos da sua teoria.
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