Determinação social do processo saúde-adoecimento mental de trabalhadores rurais no Brasil

Autores

DOI:

10.48074/aceno.v7i14.9815

Resumo

Pesquisas sobre saúde mental de trabalhadores rurais no Brasil são relevantes pela expressividade do setor agropecuário na economia nacional. Supõe-se que os impactos do agronegócio sobre o meio ambiente, o processo de trabalho e modos de vida no meio rural têm repercussões sobre as condições de saúde mental. Assim, discute-se a determinação social da saúde mental de trabalhadores rurais brasileiros, a partir de revisão narrativa da literatura. Os resultados indicaram ocorrência frequente de sofrimento psicológico, transtornos mentais comuns, acometendo principalmente mulheres e trabalhadores temporários e maior prevalência de suicídio em contextos rurais. Conclui-se que as pesquisas indicam a relação da intoxicação por agrotóxicos com o surgimento de agravos à saúde mental dos trabalhadores rurais cujo sofrimento é intensificado pela precariedade das condições de vida, trabalho, ausência de políticas públicas e violência no campo e contra as mulheres.

Biografia do Autor

Maelison Silva Neves, Universidade Federal de Mato Grosso

Docente do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso e pesquisador do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador - Instituto de Saúde Coletiva

 

Wanderlei Antônio Pignati, Universidade Federal de Mato Grosso

Professor do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT

Marta Gislene Pignatti, Universidade Federal de Mato Grosso

Professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT

Márcia Leopoldina Montanari Corrêa, Universidade Federal de Mato Grosso

Professora do Instituto de Saúde Coletiva  da UFMT

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Publicado

2020-12-22

Edição

Seção

Artigos Livres