O cronotopo bakhtiniano e a entextualização na análise do discurso jurídico

Autores

Resumo

O conceito de cronotopo de Bakhtin (1981), que engloba relações de conectividade intrínseca entre espaço e tempo é o foco deste trabalho. Embora o autor tenha apresentado tal conceito em relação a estudos literários, é imprescindível considerar que a experiência dos significados em qualquer área de conhecimento e em qualquer situação narrativa em que o indivíduo se encontre se dá por relações espaço-temporais. A vida social é uma sequência de situações definidas cronotopicamente, através das quais nos movimentamos continuamente, adaptando e ajustando nossas identidades e modos de conduta nas interações com o outro. Segundo Blommaert (2018), o cronotopo envolve história, cultura, sociedade e língua, e vai além da definição de contexto por apresentar uma estrutura mais ampla. Assim, neste artigo, abordamos a teoria bakhtiniana, os contextos e os cronotopos jurídicos (VALVERDE, 2015), buscando entendimentos sobre como as interações por meio da linguagem específica desse meio são performadas pelos mais diversos interlocutores que fazem parte de um processo judicial, desde o réu, passando pelo Ministério Público e por um representante legal, até o magistrado que vai proferir uma sentença tomando como base suas leituras sobre o enredo do processo, suas traduções, entextualizações (BAUMAN E BRIGGS, 1990; BRIGGS 2007; ERLICH, 2015) e retextualizações.

Biografia do Autor

Deise Ferreira Viana de Castro, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Universidade Católica de Petrópolis

Graduação em Letras (Português - Inglês) PUC-Rio, mestrado Interdisciplinar em Linguísticxa Aplicada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutorado em andamento no Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Referências

AUSTIN, J. L. Quando dizer é fazer – palavras e ação. Tradução Danilo Marcondes de Souza Filho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990

BAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

______. Forms of time and of the Chronotope in the novel. In: HOLQUIST, M. (ed) The Dialogic Imagination. Four essays by M. M. Bakhtin. Austin: University of Texas Press, 1981, p. 84-110 e 243-258.

BAUMAN, R.; BRIGGS, C. Poética e performance como perspectivas críticas sobre a linguagem e a vida social. Annual Review of Anthropology, v. 19, p. 59-88, 1990. (Tradução)

BLOMMAERT, J. Contexto é/ como crítica. Critique of Antrophology. Vol 21[1] p. 13-32, 2001.

______. Discourse – A Critical Introduction. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.

______. Commentary: Mobility, contexts, and the chronotope. Language in Society 46, 95–99.2017

______. Are Chronotopes helpful? In: Alternative Democracy Research, 2018. https://alternative-democracy-research.org/2018/06/22/are-chronotopes-helpful/

______.Jan Blommaert on Chronotope. YouTube. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=r4yluKPhTKE&t=1s 18 de junho de 2020. Acessado em 10 de outubro de 2022.

BLOMMAERT, J., & DE FINA, A. Chronotopic identities: On the spacetime organization of who we are. In A. De Fina, D. Ikizoglu, & J. Wegner (Eds.), Diversity and Superdiversity: Sociocultural Linguistic Perspectives; p. 1-15). Georgetown University Press. 2017.

BORTOLUZZI, V. I. O gênero acórdão e a recontextualização dos atores sociais. V SIGET – Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais. Caxias do Sul: Agosto, 2009 ISSN 1808-7655.

BRASIL. Casa civil. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.

______. Casa Civil. Lei no. 13.257, de 08 de março de 2016. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm, acessado em 10/09/2017.

______. Casa Civil. Lei no. 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm acessado em 20/11/2020.

______. Casa Civil. Lei no. 7.210 de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7210.htm

______. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Decreto -lei 3689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del3689.htm

______. Secretaria Geral. Subchefia para Assuntos Jurídicos Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. .Código de Processo Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm

______. Secretaria Geral. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006 Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm

BRIGGS, C. Anthropology, Interviewing, and Communicability in Contemporary Society. Current Anthropology, 2007, Vol. 48, No. 4.

CARRANZA, I. E. Truth and Autorship in Textual Trajectories. Telling Stories: Language, Narrative and Social Life. In: Schiffrin, D. De Fina, A. & Nylund, A. Telling stories: Language, Narrative and Social Life. Washington: Georgetown University Press, 2010.

CASTRO, D. F V de. “Não ficou demonstrada a imprescindibilidade da mãe no cuidado com as crianças” : avaliações sobre gênero e maternidade nas decisões judiciais a respeito da prisão domiciliar. Tese (doutorado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Letras, 2022

CATUNDA. E. L. Um estudo do gênero jurídico acórdão Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Ceará. Centro de Humanidades. Programa de Pós-Graduação em Linguística, 2004.

______. Polifonia e discurso jurídico: um estudo das vozes nas sentenças. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Ceará. Centro de Humanidades. Programa de Pós-Graduação em Linguística, 2010.

COULTHARD, M., JOHNSON, A. e WRIGHT, D., An Introduction to Forensic Linguistics – Language in Evidence. 2 ed, New York: Routledge, 2017 [2007].

ERLICH, S. Narrative, Institutional Processes and Gendered Inequalities. In: De Fina, A. and Georgakopolou, A. The Handbook of Narrative Analysis. Sussex: John Wiley & Sons Inc, 2015.

______. Legal discourse and the cultural intelligiblity of gendered meanings. Journal of Sociolinguistics 11/4, p. 452–477, 2007.

FARACO, C. A. Autor e autoria. In: BRAIT, Beth (org). Bakhtin: conceitos-chave. 5 ed, 3a. reimpressão. São Paulo: Contexto, 2016.

______. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do Círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009

FREITAS, L. G. Valores tradicionais sobre gênero em processos da Lei Maria da Penha. In: SILVEIRA, S. B., ABRITTA, C. S e VIEIRA, A. T. (Orgs) Linguística Aplicada em Contextos Legais. Jundiaí: Paco Editorial, 2015.

FUZER, C. e BARROS, N. C. Processo penal como sistema de gêneros Linguagem em (Dis)curso – LemD, v. 8, n. 1, p. 43-64, jan./abr. 2008

GEE, J.P. An Introduction to Discourse Analysis – Theory and method. New York: Routledge, 2005.

GOFFMAN, E. A situação negligenciada. In. RIBEIRO, B. T. e GARCEZ, P. M. (orgs.) Sociolinguística Interacional. 2 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2013.

LINDE, C. Evaluation as linguistic structure and social practice. In: Gunnarson B.L., Linell, P., Nordberg, B. The construction of professional discourse. New York: Routledge,1997

______. Life Stories – The Creation of Coherence. Oxford: Oxford University Press, 1993

SILVA, D. O texto entre a entextualização e a etnografia: um programa jornalístico sobre belezas subalternas e suas múltiplas recontextualizações. Linguagem em (Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 14, n. 1, p. 67-84, jan./abr. 2014.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Habeas Corpus 143.641. São Paulo, 2018.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Habeas Corpus 143.641. Decisão complementar. São Paulo, 2018

VALVERDE, M. Chronotopes of Law: Jurisdiction, scale, and governance. London: Glasshouse/Routledge, 2015.

WORTHAM, S & RHODES, C. R. Narratives across speech events. In: De Fina, A. and Georgakopolou, A. The Handbook of Narrative Analysis. Sussex: John Wiley & Sons Inc, 2015.

Downloads

Publicado

2024-01-07

Como Citar

Castro, D. F. V. de. (2024). O cronotopo bakhtiniano e a entextualização na análise do discurso jurídico. Revista Diálogos, 11(3), 317–336. Recuperado de https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/revdia/article/view/15754