Emojis, práticas sexuais e vulnerabilidades: análise das interações no Grindr entre HSH no Nordeste brasileiro
DOI:
https://doi.org/10.29327/2410051.8.23-40Palavras-chave:
Emojis, Grindr, HSH, Interseccionalidade, Saúde sexualResumo
Desde sua criação em 2009, o ambiente virtual do Grindr tem se mostrado fértil para o estudo das interações sociais entre o público LGBTQIAPNb+, especialmente entre homens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH). Este estudo analisa o uso de emojis nas interações desses usuários, com o objetivo de compreender como essas representações comunicam e modelam as práticas sexuais e de cuidado. A coleta de dados foi realizada por meio de uma roda de conversa online com seis usuários, recrutados por amostragem bola de neve. Os dados foram transcritos e analisados com o auxílio do software Iramuteq, resultando em um corpus textual que revelou temas centrais sobre posições sexuais, expressões de gênero, práticas sexuais, uso de substâncias e exclusão étnico-racial. Os achados indicam que, embora o aplicativo se apresente como um espaço seguro, muitos usuários relatam experiências marcadas por racismo, hostilidade e exclusão. A análise evidenciou que os emojis, além da comunicação, também funcionam como dispositivos de poder, condensando discursos e práticas sociais que delimitam quem é aceito e quem é excluído. Em conclusão, o estudo aponta que a separação entre as esferas real e virtual é ilusória, revelando como experiências online são marcadas por processos sociais já presentes no cotidiano. Por fim, o estudo reforça a urgência de repensar as interações online e desenvolver políticas públicas e estratégias de saúde sexual e cuidado que considerem interseccionalidades.
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