Apresentação ao dossiê

Authors

  • Luiz Augusto Sousa Nascimento olhardetela2000@gmail.com
    IFMA
  • Flávio Rodrigo Freire Ferreira olhardetela2000@gmail.com
    IFRN

DOI:

10.48074/aceno.v11i25.17813

Abstract

A proposta visa reunir pesquisas etnográficas relacionadas ao movimento indígena na América Latina e, especificamente no Brasil. Por movimento indígena, a antropologia consagra um conjunto de ações relacionadas ao protagonismo de lideranças indígenas como sujeitos políticos e históricos. Ao longo dos processos intersocietários na América Latina e, sobretudo, no Brasil, os indígenas foram considerados pelo Estado como sujeitos relativamente incapazes, portanto, desprovidos de qualquer ativismo políticos. No Brasil, somente a partir da década de 1960, lideranças indígenas de diferentes grupos étnicos começam a se organizar para garantir direitos territoriais e pautar reinvindicações genéricas, tais como cuidados à saúde e por uma educação que primasse pela diversidade sociocultural e linguística, iniciando uma etapa em que a antropologia consagra como etnopolítica ou política étnica. A política étnica ganhou força nas décadas seguintes e foi crucial para defender direitos nos processos constituintes que norteou pela primeira vez na história constitucional do Brasil, um capítulo exclusivo dos Índios, rompendo com a ideia do indígena como relativamente incapaz e abrindo novas perspectivas para os movimentos indígenas. Com a promulgação da Constituição brasileira de 1988, a política étnica ganhava novos contornos, sobretudo, quando a Funai deixa de ser o órgão centralizador da política indigenista oficial.

Nesse emaranhado, algumas frentes tornaram-se imprescindíveis para o debate do movimento indígena, destaque para as pautas pela garantia territorial, educação que garantisse as especificidades das culturas e uma política de saúde que levasse em consideração às práticas terapêuticas dos especialistas locais (xamãs, pajés, sacacas etc.), todas negadas pelo Estado assentado na política assimilacionista. Nesse contexto, a etnopolítica e a cosmopolítica se interseccionam nas estratégias discursivas das lideranças indígenas. Por etnopolítica ou indigeneidade (CADENA, 2010), compreendemos as ações políticas orientadas e pautadas pelos indígenas que participam dos embates institucionais frente às esferas dos Estados nacionais, que negam a diferença ontológica da indigeneidade ainda que faça através de práticas de inclusão. A etnopolítica se manifesta pela etnicidade cuja comissão de frente comporta lideranças letradas que transitam sistematicamente com o debate da política nacional. Por cosmopolítica estamos apoiados nas concepções de Justin. Shaffner, Huon Wardle (2017) e de Isabelle Stengers (2018), que consideram como uma política em que o cosmos, que designa o desconhecido, constitui mundos múltiplos divergentes, articulados e coloca na pauta da ciência e da política, a natureza e um mundo comum. Stengers (2018) chama a proposta cosmopolítica, de fazer o cosmos – o que não é reconhecidamente político o mundo das ontologias indígenas e das indeterminações – insistir sobre a política, fazer. Com que a construção do mundo e do que chamamos natureza, seja incluída numa luta política. Portanto, territórios ontológicos, educação específica e sistema de saúde com terapias próprias incursionam pela cosmopolítica. Nesse sentido, nossa proposta visa trazer para o debate, pesquisas etnográficas que transitam pelo movimento indígena, considerando etnopolítica e cosmopolítica como fenômenos interseccionais.

Published

2024-09-02

Issue

Section

Dossiê Cosmopolítica e Etnopolítica na Interseccionalidade do Movimento Indígena