“Nós somos o Crime na Fronteira” As Bocas Familiares e o PCC “correndo junto” em corumbá-ms

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22228/rtf.v14i2.1088

Resumo

Este artigo é fruto de uma parceria de mais de uma década de pesquisas etnográficas realizadas na fronteira Brasil-Bolívia (Corumbá, Ladário e Puerto Quijarro – Puerto Suarez). O principal objetivo desse texto é demonstrar de que modo os atores sociais, moradores da região envolvidos com o narcotráfico, mobilizam a fronteira como um recurso, ressaltando a importância da escala “micro” e local no funcionamento de grandes redes transnacionais de comércio de drogas, garantindo sua eficácia comercial. O artigo aponta também para a reorganização recente do comércio local de drogas ilícitas a partir da emergência e estabelecimento do PCC (Primeiro Comando da Capital), inicialmente no presídio da cidade de Corumbá e posteriormente para as ruas nos últimos anos.

Biografia do Autor

Giovanni França Oliveira, UFGD

Possui graduação em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2010), mestre em Estudos Fronteiriços pela UFMS(2013) é doutorando em História pela Universidade Federal da Grande dourados. Pesquisador Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Ensino de História (GEPEH-UFMS), Pesquisador do Observatório da Violência e Sistema Prisional- UFMS. Atua principalmente nos seguintes temas: Ensino de História, História Regional, violência e Fronteiras.

Gustavo Villela Lima da Costa, UERJ

Possui graduação no Bacharelado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001), Mestrado em Antropologia Social pelo PPGAS/ Museu Nacional/ Universidade Federal do Rio de Janeiro (2004) e Doutorado em Antropologia Social pelo PPGAS/ Museu Nacional/ Universidade Federal do Rio de Janeiro (2008). Atuou como professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, entre 2009 e 2013 no Campus do Pantanal, em Corumbá, e em 2014 no curso de Ciências Sociais do CCHS, em Campo Grande. Atualmente é professor Adjunto no Departamento de Ciências Humanas da Faculdade de Formação de Professores (FFP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Realiza pesquisas sobre Conflitos em Áreas de Preservação Ambiental, Turismo e Mudança Social na Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e também realiza pesquisas na Fronteira Brasil-Bolívia (estudos sobre identidade, conflito, segurança, economia informal e ilegal).

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Entrevista

Carlos. Giovanni França Oliveira. 12/2011

Felix. Giovanni França Oliveira. 02/2020

Thor. Giovanni França Oliveira. 03/2011

Bernardo. Giovanni França Oliveira. 03/2020

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Publicado

2022-02-10

Como Citar

Oliveira, G. F., & da Costa, G. V. L. (2022). “Nós somos o Crime na Fronteira” As Bocas Familiares e o PCC “correndo junto” em corumbá-ms. Revista Territórios E Fronteiras, 14(2), 322–346. https://doi.org/10.22228/rtf.v14i2.1088