Testamento Vaginal Deixado Por Lilith: Corpo, Performance & História A Partir Da Obra Feminista De Carolee Schneemann

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22228/rtf.v13i1.1020

Resumo

O presente artigo objetiva compreender o processo de ressignificação das representações das imagens das mulheres pelo paradigma da performance que, de certa maneira, questionam o continuum de uma tradição de imagéticas femininas na história da arte. Assim, a ambiência contextual e sensível da segunda metade do século XX, sobretudo a partir da década de 1960, viabilizou a percepção do corpo como objeto de arte em seu “desenvolvimento de qualidades expressivas” (CARLSON, 2010, p. 115). Essa perspectiva será analisada por meio de performances artísticas, como Interior scroll [Pergaminho interior, 1975], da performer feminista Carolee Schneemann, pela qual é possível perceber as alterações que esse novo paradigma, a performance, oportunizou na história da arte – a hibridação de mídias, suportes e linguagens referentes à prática artística, em um processo de intersecção do corpo como produtor de visualidades, em que se pode consubstancialmente investigar uma “partilha do sensível” que infere no próprio campo da arte, dialogicamente interligando estética e política, visando, nesse caso, investigar a relação entre as corporeidades da mulher e as mídias, a tecnologia e as tendências comunicacionais e suas respectivas opressões. Outrossim, compreendemos os trabalhos de Schneemann como um ato de dessacralização do feminino sob as lentes e sonoridades produzidas com e pelo corpo, sendo ele suporte e meio. Suas performances são como um ato de quebra dos valores convencionais das relações entre arte e sociedade, sobretudo na própria história da arte e do feminismo naquele contexto contracultural, na medida em que, a partir de seu flerte com o grotesco, inverte a dialética de objetificação do corpo feminino inerente ao olhar masculino ao longo da história ocidental.

Biografia do Autor

Robson Pereira da Silva, LEDlin/UFMS - NEHAC/UFU

Doutor em História Social pela Universidade Federal de Uberlândia. Mestre pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Goiás (Mestrado). Licenciado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso. Membro do Laboratório de Estudos em Diferenças & Linguagens - LEDLin/ UFMS e do Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura (NEHAC/UFU). Membro associado da Rede de Pesquisa em História e Cultura no Mundo Contemporâneo.Tendo experiência na área de História, com ênfase em História Cultural, e Ensino de História. Autor do Livro Ney Matogrosso... para além do bustiê: performances da contraviolência na obra Bandido (1976-1977). 

Aguinaldo Rodrigues Gomes, UFMS

Possui graduação em História pela Universidade Federal de Uberlândia (1997), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (2000) e doutorado em Doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2015). Atualmente é voluntário do CONSELHO MUNICIPAL DE CULTURA E DO PATRIMÔNIO CULTURAL, docente do corpo permanente - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS CULTURAIS, docente do corpo permanente - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO RONDONÓPOLIS, docente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Tem experiência na área de História atuando principalmente nos seguintes temas: História e Ditadura, Educação e Comunismo, Gênero e Sexualidade, Estudos Culturais.

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Publicado

2020-07-31

Como Citar

Silva, R. P. da, & Gomes, A. R. (2020). Testamento Vaginal Deixado Por Lilith: Corpo, Performance & História A Partir Da Obra Feminista De Carolee Schneemann. Revista Territórios E Fronteiras, 13(1), 218–241. https://doi.org/10.22228/rtf.v13i1.1020