Processamento de sintagmas ambíguos entre leitura de aposto e de vocativo
Palavras-chave:
Psicolinguística Experimental, Processamento Sentencial, Aposto, VocativoResumo
Este estudo objetivou investigar o processamento de sintagmas ambíguos entre leitura de aposto e vocativo. A questão investigada foi se, em uma estrutura como "Ontem, Joana, professora, mentiu no encontro", haveria uma preferência pela interpretação do sintagma "professora" como aposto ou como vocativo. Para refletir em termos teóricos e experimentais sobre esse fenômeno, foi feita uma revisão de literatura sobre Psicolinguística Experimental e Processamento de Sentenças (Frazier, 1979; Maia, 2015; Leitão, 2011; Bezerra, 2017), sobre o processamento de parentéticos (Dillon et. al., 2014), e sobre aposto e vocativo (Perini, 2006; Moraes, 2000; Burton-Roberts, 1994; Moreira, 2013; Moreira, 2017). Conduzimos um experimento a partir da técnica de leitura automonitorada com falantes nativos de português brasileiro e partimos da hipótese de que haveria uma preferência de interpretação do sintagma ambíguo como aposto. Os resultados do experimento mostraram que, de modo geral, a maioria dos participantes apresentou uma preferência pela interpretação como aposto. Nesta linha, o experimento e a revisão de literatura apontaram que o vocativo está diretamente ligado ao discurso e depende de um contexto – não sendo favorecido pelo presente experimento –, ao contrário do aposto, que, mesmo não estando completamente ligado à estrutura gramatical, e estando na dimensão dos parentéticos, ainda está dentro da estrutura ao fazer referência aos termos de mesma classe gramatical, estando mais visível para o processador.
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