Concordância verbal no português brasileiro oitocentista:
uma análise em cartas do sertão baiano
Palavras-chave:
Português brasileiro, Concordância verbal, Variação, Sociolinguística Histórica, Sertões da BahiaResumo
Neste trabalho, discute-se o encaixamento histórico da variação da concordância verbal de terceira pessoa do plural no português brasileiro (PB) oitocentista, a partir de corpus constituído por 101 cartas escritas por 16 remetentes e dirigidas a Cícero Dantas Martins, Barão de Jeremoabo, nos sertões da Bahia. Para a discussão e análise, utilizaram-se as edições fac-similares e semidiplomáticas editadas por Carneiro (2005). Embora, a variação da concordância verbal de terceira pessoa do plural tenha sido exaustivamente estudada em dados do PB contemporâneo, tratar desse fenômeno linguístico sob uma perspectiva história ainda se coloca como um desafio ao pesquisador, haja vista as limitações impostas pela natureza dos corpora que permitem investigar fases pretéritas da língua. A par dessas limitações e em caráter ainda preliminar, fundamenta-se o presente trabalho nos princípios teórico-metodológicos da Sociolinguística Histórica (ROMAINE, 1982; CONDE SILVESTRE, 2007; HERNANDEZ-CAMPOY; CONDE-SILVESTRE, 2012), buscando observar as variáveis linguísticas e sociais que condicionam a variável depende presença/ausência de marcas explícitas de plural nas formas verbais de terceira pessoa. Os dados apontam para a influência das variáveis independentes posição do sujeito em relação ao verbo e saliência fônica na aplicação da regra variável de concordância verbal de terceira pessoa do plural, no corpus analisado. De modo geral, o estudo abre caminhos para uma maior compreensão e discussão sobre o processo histórico da variação da concordância verbal, “pedra de toque” do português brasileiro, na direção de fazer um melhor uso de dados “limitados” e fragmentários.
Referências
BAXTER, Alan. Concordância verbal. In: LOBO, Tânia; OLIVEIRA, Klebson (Org.). África à vista: dez estudos sobre o português escrito por africanos no Brasil do século XIX. Salvador: EDUFBA, 2009. p. 317-337.
BERGS, Alexander. The Uniformitarian Principle and the risk of anachronisms in language and social History. In: HERNÁNDEZ-CAMPOY, Juan Manuel; CONDE-SILVESTRE, Juan Camilo (Org.). The Handbook of Historical Sociolinguistics. Oxford: Wiley-Blackwell, 2012. p. 80-98.
BRITO, Rosana Carvalho; LACERDA, Mariana Fagundes de Oliveira; ARAÚJO, Silvana Silva de Farias. “Dirga au meus cumpadis qui não esqueça”: a concordância verbal com a terceira pessoa do plural em uma documentação epistolar do sertão baiano. In: BARROS, Isis Juliana Figueiredo de; SILVA, Jéssica Carneiro da; PARANHOS, Ramon Arend; ASSIS, Thamiris Santana Coelho (Org.). Português baiano: de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Salvador: EDUFBA, 2022. p. 131-146.
CARNEIRO, Zenaide de O. Novais. Cartas brasileiras (1808-1904): um estudo linguístico-filológico. 2005. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2005.
CONDE SILVESTRE, Juan Camilo. Sociolingüística Histórica. Madrid: Editorial Gredos, 2007.
CONDE-SILVESTRE, Juan Camilo; HERNÁNDEZ-CAMPOY, Juan Manuel. Introduction. In: HERNÁNDEZ-CAMPOY, Juan Manuel; CONDE-SILVESTRE, Juan Camilo (Org.). The Handbook of Historical Sociolinguistics. Oxford: Wiley-Blackwell, 2012. p. 1-8.
GIMENO MENÉNDEZ, Francisco. Hacía una sociolingüística histórica. E.L.U.A – Estudios de Lingüística Universidad de Alicante, n. 1, p. 181-226, 1983. Disponível em: http://rua.ua. es/dspace/handle/10045/6678?mode=full. Acesso em: 2 jul. 2022.
HERNÁNDEZ-CAMPOY, Juan Manuel; SCHILLING, Natalie. The application of the quantitative paradigm to Historical Sociolinguistics: problems with the generalizability principle. In: HERNÁNDEZ-CAMPOY, Juan Manuel; CONDE-SILVESTRE, Juan Camilo (Org.). The Handbook of Historical Sociolinguistics. Oxford: Wiley-Blackwell, 2012. p. 63-79.
LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. Tradução de Marcos Bagno, Maria Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Cardoso. São Paulo: Parábola, [1972] 2008.
LASS, Roger. Historical linguistics and language change. Cambridge: Cambridge University Press, 1997.
LEMLE, Mirian; NARO, Anthony Julius. Competências básicas do português. Rio de Janeiro: Fundação MOBRAL; Fundação Ford, 1977.
MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Caminhos da Linguística Histórica: ouvir o inaudível. São Paulo: Parábola, 2008.
MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. Idéias para a história do português brasileiro: fragmentos para uma composição posterior. In: CASTILHO, Ataliba Teixeira de (Org.). Para a história do português brasileiro: vol. 1, primeiras idéias. São Paulo: Humanitas-FFLCH/USP; FAPESP, 1998. p. 21-52.
MEDINA MORALES, Francisca. Problemas metodológicos de la sociolingüística histórica, Forma y Función, Universidad Nacional de Colombia, Bogotá, n. 18, p. 115-137, 2005.
NEVALAINEN, Terttu; RAUMOLIN-BRUNBERG, Helena. Historical Sociolinguistics: origins, motivations, and paradigms. In: HERNÁNDEZ-CAMPOY, Juan Manuel; CONDE-SILVESTRE, Juan Camilo (Org.). The Handbook of Historical Sociolinguistics. Oxford: Wiley-Blackwell, 2012. p. 22-40.
ROMAINE, Suzanne. Socio-historical linguistics: its status and methodology. Cambridge: Cambridge University Press, 1982.
SOUZA, Pedro Daniel dos Santos. Concordância verbal em português: o que nos revela o período arcaico? 2005. Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2005.
SOUZA, Pedro Daniel dos Santos. Português brasileiro, sintaxe e história: usos da concordância verbal no século XIX. Revista Philologus, Rio de Janeiro, CiFEFiL, ano 20, n° 58, p. 705-715, jan./abr. 2014.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1) Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
2) Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3) Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.