“Saúde é em geral né, é ter um bom alimento pra manter em pé”: por entre sentidos e práticas (trans)viadas de/em saúde
DOI:
10.31560/2595-3206.2020.11.10581Resumo
O presente artigo, busca compreender o modo como sujeitos transexuais na busca de seus sentidos de saúde tencionam e questionam os dispositivos transexualizadores. Foi assim que, por meio de uma pesquisa de campo de viés etnográfico realizada junto a um Ambulatório Transexualizador localizado no Mato Grosso do Sul, à uma reunião entre o Fórum LGBT/MS e a Secretaria Municipal de Saúde (SESAU), e uma entrevista realizada com uma mulher trans dona de uma casa de prostituição de Campo Grande, pudemos pensar tanto os mecanismos que restringem acessos, direitos e reconhecimento quanto as estratégias dos sujeitos trans para seu questionamento e subversão. Assim, a partir das observações e diálogos estabelecidos, foi possível perceber como as experiências trans, a partir do ponto de vista do saber-poder biomédico, ainda estão inseridas numa inteligibilidade cisgênera, binária e heteropatriarcal. Ao mesmo tempo, as microresistências forjadas por esses sujeitos no interior das tecnologias cisheteronormativas dão conta das instabilidades, precariedades e limites dos dispositivos disciplinadores contemporâneos, atribuindo sentidos de saúde que não se restringem à lógica dos processos transexualizadores.
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