CHAMADA DOSSIÊ TEMÁTICO: Dar fim a pesquisa como conhecemos: poéticas negras feministas, bichas e indígenas em conversa

2024-12-13

“Se é verdade que somos aprisionados pela linguagem, então, a fuga dessa prisão exige poetas da linguagem”. A proposta deste dossiê é inspirada por esta afirmação de Donna Haraway e esperamos contribuições de pesquisadores(as), artistas e ativistas de diferentes partes do país e internacionais, que borrem as fronteiras entre a prática de pesquisa e o exercício poético. Muito já se escreveu a respeito de gênero, sexualidade e raça e suas intersecções. Ao longo do século XX, diferentes áreas das ciências humanas e sociais dedicaram-se a entendê-las como normas, representações, práticas, técnicas, saberes, genealogias e identidades. Todavia, uma inquietação move a proposta desse dossiê: estaríamos mais confortáveis com as críticas epistemológicas do que com as possibilidades de repensar radicalmente a ontologia?

Pretendemos reunir estudos em torno da questão autobiográfica, exercícios de fabulação crítica, deslocamentos das artes do objeto a ser pensado para a força com o qual se pensar, num apelo de ir além do reconhecimento da diferença. Desejamos realizar uma abertura para trabalhos sobre ontologia, estética e tempo nos estudos das relações étnicoraciais, bichas e indígenas cada vez mais inquietos com a institucionalização de gênero, sexualidade, raça e etnia como temas ou objetos de pesquisa. Com foco no incomensurável, ensejamos experimentos que interroguem esferas ontológicas pouco problematizadas das nossas tradições metodológicas de pesquisa: o legado colonial da transparência, as intrusões de um Eu auto suficiente, a temporalidade linear e progressista com suas figurações do Outro, e as tradições empiristas de pesquisa social com suas lógicas extrativas de dados. 

Nos dias de hoje, isso significa pensar não sobre gênero, sexualidade, raça e etnias como categorias, mas pensar com as políticas e poéticas de nossas dissidências latinoamericanas, indígenas e negras. Acima de tudo, significa travar contato com a radicalidade de um pensamento incendiário, não somente capaz de apresentar as estratégias de normalização da atualidade, mas também as inúmeras possibilidades de errância e fuga. Se permanecemos numa sombra enigmática lançada sobre o projeto humano, a forma como poderíamos escrever seria diferente do fazer pesquisa como conhecemos hoje. 

Longe de se conformarem a um ideal humano remodelado pela diversidade, pensar esse dossiê em conversa com as estéticas negras feministas, bichas e indígenas aponta para uma reimaginação de ferramentas da linguagem de pesquisa a partir da escuridão fabulosa e informe de um mundo anti-diferença. Contra todos os universalismos liberais e positividades científicas, esta proposta insiste que a poética é um meio de habitar o choque dessa realidade sem nunca se tornar totalmente parte dela. 

 

COORDENAÇÃO

 

Iris Verena Oliveira (UNEB)

Professora da Universidade do Estado da Bahia/UNEB - Campus XIV (Conceição do Coité) e do Mestrado Profissional em Educação e Diversidade/UNEB. Pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação - PROPED/UERJ, como bolsista PNPD/CAPES. Doutorado em Estudos Étnicos e Africanos/UFBA. Mestrado em História Social/UFC. Coordenou o Projeto de Formação para professores/as de escolas quilombolas de Nordestina e a formação continuada de professores/as através da "Rede Colaborativa Combinamos de Escreviver", além do projeto " Escrevivências em Rede: Coworking Virtual" financiado pela Agência de Inovação da UNEB. Desenvolve pesquisas sobre educação antirracista, currículo, formação docente, educação escolar quilombola, diferença e Currículo Bahia. Integra a Associação de Pesquisadores em Educação (ANPED), na qual coordena o GT de currículo na região Nordeste, a Associação de Pesquisadores Negros (ABPN), a Associação Brasileira de Currículo (ABdC) e o Grupo de Pesquisa: Currículo, Escrevivências e Diferença (@curriculoeescrevivencias). Coordena o projeto "Cativeiro Estatístico: Currículo, Expulsão escolar e genocídio da juventude negra.", financiado pelo Edital Universal/Cnpq 

 

Thiago Ranniery (UFRJ) 

Professor Adjunto da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e atua como Professor Permanente do Programa de Pós-graduação em Educação e do qual está como Coordenador do PPGE/UFRJ. Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Sergipe com Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais e Doutorado em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, instituição na qual foi Pós-Doutorando Júnior com bolsa do CNPq (2017-2018). Jovem Cientista Nosso Estado da FAPERJ desde 2018 (2018-2021/2022-2025) e bolsa de Produtividade em Pesquisa do CNPq Nível 2 desde 2022. Integra o Projeto FundãoBiologia, coordenando o projeto de extensão Fundão-Biologia nas fronteiras da diferença, e Laboratório Núcleo de Estudos de Currículo (LaNEC) da mesma universidade, no qual é líder pesquisador do Bafo! - Grupo de Estudos e Pesquisas em Currículo, Ética e Diferença (CNPq/UFRJ). Membro do Comitê Científico da Associação Nacional de Pós- Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) e membro da Associação Brasileira de Currículo (ABdC) e da Sociedade Nacional de Ensino de Biologia (Sbenbio) 

 

Paulo de Tássio Borges da Silva (UFF/UFSB/UEA) 

Possui graduação em Pedagogia: Docência e Gestão dos Processos Educativos pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), Mestrado em Linguística e Línguas Indígenas pelo Museu Nacional (UFRJ) e Doutorado em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - ProPED/UERJ, no qual fez o Pós-Doutorado com o projeto "Ficções de itinerários de pesquisa em Educação Escolar Indígena. É coordenador do grupo de pesquisa "Kijetxawê: Currículo, Diferença e Formação de Professores". É professor adjunto do Departamento de Educação (DED) da Universidade Federal Fluminense (UFF), professor permanente no Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-raciais - PPGER/UFSBA, e professor visitante no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). É Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ (2024-2027), membro da Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisas em Educação (ANPEd) e da Associação Brasileira de Currículo (ABdC). 

 

Francisco Ramallo (UNMP - Argentina) 

Doutor em Humanidades y Artes pela Universidad Nacional do Rosario (UNR), Docente y investigador del Departamento de Ciencias de la Educación de la Facultad de Humanidades de Universidad Nacional de Mar del Plata (UNMdP), en donde se desempeña como Jefe de Trabajos Prácticos de la cátedra "Problemática Educativa”, miembro del Grupo de Investigadores en Educación y Estudios Culturales (GIEEC) y de la red “Tejidos Pedagogías del ser: Educadores, experiencias descoloniales y queers”, ambos con sede en el Centro de Investigaciones Multidisciplinares en Educación (CIMED).