A antropologia perspectiva e o método de equivocação controlada

Autores

  • Eduardo Viveiros de Castro antropologia@marcoaureliosc.com.br
    Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

10.48074/aceno.v5i10.8341

Resumo

Este artigo sustenta que fazer antropologia é comparar antropologias. A comparação não é apenas nosso instrumento de análise primário; ela é também nossa matéria-prima e nosso contexto último. Pois o que comparamos são sempre, de uma forma ou de outra, comparações. Se, como sugere Marilyn Strathern, a cultura consiste no modo pelo qual as pessoas estabelecem analogias entre diferentes domínios de seus mundos, então cada cultura é um processo multidimensional de comparação. Da mesma forma, se a antropologia estuda a cultura através da cultura, então, como observa Roy Wagner, as operações que caracterizam nossa investigação —sejam elas quais forem—devem ser também propriedades gerais da cultura. As relações intraculturais, ou comparações internas, e as relações interculturais, ou comparações externas, estão em estrita continuidade ontológica. Mas a comparabilidade direta não significa necessariamente tradutibilidade imediata, assim como a continuidade ontológica não significa transparência epistemológica. Como podemos restituir as analogias estabelecidas por, digamos, os povos indígenas amazônicos nos termos de nossas próprias analogias? O que acontece com nossas comparações quando as comparamos com as comparações indígenas? A perspectiva que aqui se advoga é a do perspectivismo e a da equivocação controlada.

Referências

ASAD, Talal. “The Concept of Cultural Translation in British Social Anthropology.” In CLIFFORD, James & MARCUS, George. Writing Culture: The Poetics and Politics of Ethnography. Berkeley: University of California Press, 1986.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. “Pontos de vista sobre a floresta amazônica: Xamanismo e tradução.”Mana, v. 4, n. 1, pp. 7-22, 1998.

CHENERY, Dorothy L. & SEYFARTH, Robert M. How Monkeys See the World: Inside the Mind of Another Species. Chicago: University of Chicago Press, 1990.

DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Felix. Qu’est-ce que la philosophie? Paris: Minuit, 1991.

DELEUZE, Gilles. Le pli. Leibniz et le baroque. Paris: Minuit, 1988.

EGGAN, Fred. “Social Anthropology and the Method of Controlled Comparison.” American Anthropologist, n. 56, pp. 743–763, 1954.

HERZFELD, Michael. “Orientations: Anthropology as a Practice of Theory.” InHERZELD, Michael (org.). Anthropology:Theoretical Practice in Culture and Society.London: Blackwell / UNESCO, 2001.

KEIFENHEIM, Barbara. “Identité et alterité chez les indiens Pano.” Journal de la Société des Américanistes, n.78, pp. 79–93, 1992.

KENSINGER, Kenneth.How Real People Ought to Live: The Cashinahua of Eastern Peru. Prospect Heights: Waveland Press, 1995.

LAMBEK, Michael. “Body and mind in mind, body and mind in body: some anthropological interventions in a long conversation.” In LAMBEK, Michael & STRATHERN, Andrew (orgs.). Bodies and Persons: ComparativePerspectives from Africa and Melanesia. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

LATOUR, Bruno.Petite réflexion sur le culte moderne des dieux faitiches. Leplessis-Robinson: Les Empêcheurs de Penser en Rond, 1996.

LÉVI-STRAUSS, Claude.Tristes tropiques. Paris: Plon, 1955.

______. “Race et histoire.” InAnthropologie structurale deux, pp. 377–422. Paris:

Plon, 1973 [1952].

MCCALLUM, Cecilia. “Cashinahua (Huni Kuin) Death, Dying and Personhood.” Trabalho apresentado no XLVII International Congress of Americanists, New Orleans, 1991.

SAHLINS, Marshall.Islands of History. Chicago: University of Chicago Press, 1985.

SIMONDON, Gilbert. L’Individu et sa génèse physico-biologique. Paris: Millon, 1995 [1964].

STRATHERN, Marilyn. Reproducing the Future: Anthropology, Kinship, and the New ReproductiveTechnologies. New York: Routledge, 1992.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena.” InVIVEIROS DE CASTRO, Eduardo (org.). A inconstância da alma selvagem (e outros ensaios de antropologia). São Paulo: Cosac & Naify, 2002a.

______. “O nativo relativo.” Mana, v. 8, n. 2, pp. 113–148, 2002b.

WAGNER, Roy.The Invention of Culture. Chicago: University Press, 1981.

WEISS, Gerald. “Campa Cosmology.” Ethnology, v. 11, pp. 157–172, 1972.

Downloads

Publicado

2019-07-07