Agenciamentos da benzedura: O sistema de cura no Quilombo da Casca/RS.
DOI:
10.48074/aceno.v3i6.4255Resumo
Neste artigo discuto uma prática que vem assegurando a saúde das pessoas e das terras no Quilombo da Casca/RS desde “o tempo que a memória alcança”, a benzedura. Com base nos dados do trabalho de campo que realizei nessa Comunidade descrevo histórias de benzedeiras que falam sobre diferentes tratamentos. O aprendizado da benzedura aparece como herança via parentesco aliada à vontade “individual” de aprender fórmulas e por em prática o dom. Entre as fórmulas e o dom há um continuum de possibilidades, improvisos, adivinhações que são acionadas na escolha do tratamento. Os “pacientes”, por seu turno, combinam a benzedura com outras práticas terapêuticas de modo criativo na busca da cura. Com base nos dados etnográficos proponho que as noções de “itinerários terapêuticos” e de “intermedicalidade” sejam deixadas de lado, em prol da ideia da pura e simples busca da eficácia a partir de um “sistema” que captura, conecta e descarta “tratamentos”, baseado na criatividade das benzedeiras, de um lado, e dos próprios “pacientes”, de outro. Sem, entretanto, que “pacientes” e benzedeiras sejam pares opostos do “sistema”. A natureza eminentemente etnográfica da comunicação visa descrever os acontecimentos em que diferentes “tratamentos”, benzedeiras e “pacientes”, continuum entre dom e fórmulas aprendidas, entram em agenciamento. Esses eventos singulares asseguram o enfraquecimento das possibilidades de sofrimento, resgatando potências de vida no que usualmente nominamos como curar.Referências
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