Editorial
DOI:
10.48074/aceno.v6i11.10222Resumo
A décima primeira edição da Aceno – Revista de Antropologia do Centro-Oeste, periódico científico semestral on-line do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal de Mato Grosso, segue o projeto deste periódico de contribuir com a produção antropológica fora dos grandes centros.
Voltamos com a sessão Conferência, onde temos a honra de publicar o artigo “Antropologia Urbana: da metrópole à aldeia”, de autoria de José Guilherme Cantor Magnani, da Universidade de São Paulo (USP), um dos maiores expoentes da Antropologia Urbana no Brasil. O trabalho resulta da aula inaugural de 2018 do PPGAS/UFMT e mostra as atualizações da antropologia realizada nas cidades do ponto de vista deste autor que, desde a década de 1980, tem produzido reflexões que inspiraram e inspiram gerações de antropólogos. Magnani apresentou, em Cuiabá, resultados de pesquisas recentes, realizadas por ele e seus orientandos, que apontam novas possibilidades para a antropologia em novas configurações urbanas, como o estudo com comunidades indígenas, que ocupam cada vez mais as cidades, sem com isso deixarem de produzirem suas culturas. Num estilo ao mesmo tempo simples e sofisticado, Magnani nos instiga a pensar que uma mesma cidade pode ser lida em diversas chaves, tornando-se uma nova cidade a cada olhar, seja de surdos, skatistas, cultivadores de hortas, índias sementeiras, índios “peladeiros” de futebol, punks ou metaleiros.
O Dossiê Temático deste número, Políticas patrimoniais contemporâneas e os novos desafios da antropologia, organizado pelas antropólogas Patricia Silva Osorio (UFMT) e Simone Pondé Vassallo (UFF), traz quatro artigos, etnografias de diferentes regiões brasileiras, que nos alertam para o crescimento do conservadorismo no Brasil e como este contexto, associado a políticas neoliberais, coloca em risco os patrimônios material e imaterial, trazendo novos desafios às práticas de antropólogos, arqueólogos e museólogos. Lugar de uma prática acadêmica engajada, o patrimônio cultural é um espaço privilegiado de observação de como as políticas públicas se transformam ao sabor das tendências partidárias, de onde a necessidade de termos leis e ações que protejam as conquistas das últimas décadas.
Na sessão de Artigos Livres, trazemos três trabalhos que representam questões urgentes do contemporâneo e os novos sujeitos do campo das ciências humanas em suas relações com a saúde, no sentido amplo do bem estar ou do bem viver. O trabalho de Haydeé Tainá Schuster resulta de sua dissertação de Mestrado em Antropologia pela UFMT, realizada junto mulheres travestis, sobre as relações territoriais delas num espaço de prostituição famoso na Baixada Cuiabana, trazendo novas formas de se pensar em corporalidades, violência e transfobia, um desafio às políticas públicas da saúde e da segurança. Já o trabalho de Márcio Neman do Nascimento et al. aborda as escutas oferecidas a mulheres em privação de liberdade de um centro de detenção de Rondonópolis, por um projeto de extensão do Curso de Psicologia da UFMT. As narrativas dessas mulheres aprisionadas nos revelam o peso da institucionalização no projeto de vida delas. Na mesma linha de diálogos desta revista com outros campos das ciências humanas, o artigo de Marcia Montanari Corrêa et al., pesquisadores da Saúde Coletiva, traz uma importante reflexão sobre como o uso de agrotóxicos se tornou um modelo imposto às atividades agroeconômicas de Mato Grosso, colocando em risco a segurança alimentar e a saúde da população, por ser um “modelo de produção de alimentos pautado no uso de insumos químicos, produção de monocultivos e transgenia”.
Voltamos também com a sessão de Ensaios Etnográficos, com o belo trabalho de Domingos Sávio de Almeida Cordeiro, resultante de uma incursão turística na aldeia Xavante Etenhiritipá, em Canarana (MT). As imagens destacam a masculinidade entre os Auê, presente em momentos marcantes do cotidiano.
Por fim, na sessão Resenhas, trazemos mais dois livros da Coleção Brasil Plural, publicada pela Editora da UFSC e pelo Instituto Brasil Plural (IBP), resenhados pelos colaboradores Ana Carolina Belei e Bruno Fadel Daschieri: O Regime Imagético Pankararu: Performance e Arte Indígena na Cidade de São Paulo, de Marcos Albuquerque, e Diálogos com os Guarani: Articulando compreensões antropológicas e indígenas, organizado por Nádia Heusi Silveira, Clarissa Melo e Suzana Cavalheiro de Jesus. Os dois livros mostram as resistências indígenas no Brasil contemporâneo, seja nas cidades, nas aldeias ou nas universidades, e mantém a tradição do IBP em torno dos saberes plurais e no que eles podem pressionar e desafiar as políticas públicas.
Boa leitura!
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