REVISTA ACENO - CHAMADA DE ARTIGOS - DOSSIÊS TEMÁTICOS 2025-2026
A Aceno – Revista de Antropologia do Centro-Oeste (ISSN: 2358-5587– Qualis A2), publicação eletrônica semestral de caráter público, ligada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Mato Grosso, convida membros da comunidade acadêmica e pesquisadores a apresentarem artigos aos seus próximos dossiês.
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Volume 12, Número 28 (janeiro-abril de 2025)
Antropologias dos desertos: Ecologias, povos e cosmologias entre os vazios e as abundâncias de um mundo em transformação
COORDENADORAS: Dra. Antonela dos Santos (Universidad de Buenos Aires, CONICET); Dr. Gabriel Rodrigues Lopes (UFS); Dr. Pedro Emilio Robledo (Universidad Nacional de Córdoba, CONICET)
RESUMO: Na América Latina, a palavra ‘deserto’ adquire conotações que vão além do geográfico-ambiental. Diversas noções de deserto influenciaram as definições político-ideológicas dos diferentes projetos coloniais e nacionais na região, desempenhando um papel central tanto nas crônicas coloniais quanto nas discussões relacionadas aos processos de consolidação dos Estados-nação. Além das características locais adquiridas por esse fenômeno, em todos os casos certos territórios foram vistos e conceituados como inóspitos e vazios não devido as suas condições ambientais, mas sim a rejeição de seus habitantes a modos de vida baseados na exploração capitalista dos recursos. Esses territórios, hostis a colonização, foram geralmente associados ao sombrio e ao selvagem, assim como a improdutividade e ao atraso. Estigmas que perduram até os dias atuais para justificar iniciativas político-econômicas de mapeamento e conquista territorial em nome da civilização, da razão e do progresso. É notório que esses lugares designados como desertos são marcados pela violência, subordinação, deslocamento e exploração laboral das populações locais, bem como pela implementação de projetos extrativistas em larga escala, do tipo plantation, como o cultivo de cana-de-açúcar, café, espécies para curtume, assim como a produção pecuária e a extração de minerais. Portanto, embora a construção dos desertos americanos seja, em princípio, discursiva e ideológica, suas implicações geralmente se traduzem em reconfigurações ecológicas e demográficas em larga escala. O contexto atual, marcado por uma crise política e ecológica generalizada, colocou em destaque a discussão sobre os desertos, mostrando que eles constituem territórios humanos altamente dinâmicos e de grande vitalidade, atravessados por conflitos ideológicos, ontológicos e epistemológicos com os quais diversos atores que os habitam, transitam e/ou os conceituam tem que enfrentar. Este dossiê se propõe a mapear comparativamente essas ‘outras faces' dos territórios que tem sido habitualmente concebidos e/ou construídos como desertos na América Latina, reunindo textos que explorem etnograficamente como e até que ponto as ideias e práticas cotidianas daqueles que habitam esses espaços tensionam a distinção entre a vida e a não vida, o vazio e a abundancia, consideradas uma premissa pouco questionável em outros tipos de teorizações. Interessa-nos refletir de forma conjunta sobre o enredo superpovoado de ritmos, experiencias, ideias e histórias humanas e mais-que-humanas que constituem esses territórios, assim como sobre os efeitos antropológicos de estar, ou ter estado, neles.
SUBMISSÕES ATÉ 30 DE JANEIRO DE 2025
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Volume 12, Número 29 (maio-agosto de 2025)
Mídias digitais e suas implicações na vida cotidiana: contribuições antropológicas
COORDENADORAS: Dra. Carolina Parreiras (USP); Dra. Lara Roberta Rodrigues Facioli (UFPR)
RESUMO: Este dossiê temático tem como objetivo principal reunir investigações sobre as complexas relações entre cultura, sociedade e mídias digitais. Pretende abordar uma variedade de tópicos interligados, incluindo a midiatização de diferentes aspectos da vida social, os chamados processos de plataformização e digitalização da vida, o desenvolvimento dos formatos de comunicação digital, a influência das mídias nas identidades individuais e coletivas, os aspectos metodológicos em torno da realização de pesquisas que se utilizam (ou tomam como foco) o digital, e questões éticas relacionadas à privacidade e à participação digital. Assim, buscamos compreender como a midiatização afeta e é afetada por diversas esferas sociais, examinando suas implicações culturais, políticas e nos processos de subjetivação. Além disso, exploraremos como as mídias digitais estão moldando as formas de comunicação e interação entre indivíduos e comunidades, bem como seu papel no ativismo e na mobilização política.
SUBMISSÕES ATÉ 30 DE ABRIL DE 2025
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Volume 12, Número 30 (setembro-dezembro de 2025)
Enfoques Contemporâneos sobre os Estudos do Cuidado.
COORDENADORAS: Dr. Fabio de Medina da Silva Gomes (Unemat); Dra. Ludmila Rodrigues Antunes (UFF)
RESUMO: O trabalho do cuidado vem sendo compreendido como uma atividade de múltiplas dimensões na vida social, envolvendo desde o cuidado de outras pessoas, o autocuidado, o cuidado da casa, bem como ações governamentais direcionadas para determinados grupos sociais. Nesse sentido, esse dossiê pretende reunir pesquisas etnográficas sobre o trabalho do cuidado, com especial enfoque para questões envolvendo as múltiplas concepções sobre o chamado trabalho reprodutivo realizado, majoritariamente, por mulheres e dentro das casas.
SUBMISSÕES ATÉ 30 DE AGOSTO DE 2025
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Volume 13, Número 31 (janeiro-abril de 2026)
Epistemologias étnica e racialmente diferenciadas: diálogos possíveis
COORDENADORAS: Dra. Jane Felipe Beltrão (UFPA); Dra. Talytta Suenny Araújo (Museu Paraense Emílio Goeldi); Dr. Rhuan Carlos dos Santos Lopes (UFC e UNILAB); Dr. Almires Martins Machado (PPGA)
RESUMO: Em A vida das linhas Tim Ingold (2015) diz que todo o ser, para viver, precisa traçar uma linha e que ao longo da vida, essas linhas se entrelaçam com outras. A vida, para o autor, é vivida ao longo dessas linhas, assim cada ser é uma linha e vive ao longo da linha de sua vida e das linhas de vida de outros seres. Os escritos de Ingold refere uma outra ontologia, que se relaciona com o mundo sem estar centrada unicamente no ser humano, pois é possível considerar outras “linhas” nesse “emaranhado” da vida. Similarmente, outras ontologias são igualmente reivindicadas por povos e comunidades tradicionais. Ailton Krenak (2022) em seu livro Futuro ancestral destaca em diferentes momentos sobre a narrativa que foi sendo construída a respeito da “centralidade” do ser humano que implica no silenciamento/apagamento de “todas as outras presenças”, e nesse silenciamento estaria o capitalismo a “empobrecer a existência” nossas existências. O dossiê tem como objetivo apresentar outras ontologias/epistemologias, considerando estudos centrados nas formas com que povos e comunidades tradicionais compreendem e se relacionam com seus territórios, patrimônios e ambiente em geral. Para isso, visamos obter artigos que sejam escritos pelas próprias pessoas pertencentes aos povos e comunidades tradicionais, sem descuidar dos trabalhos que possam ser escritos junto com acadêmicos não indígenas, e mesmo por pesquisadores não indígenas, na tentativa equilibrar as multivozes que se deve abrigar nas revistas acadêmicas, afinal muitas são as pessoas de povos e comunidades tradicionais que são pesquisadoras/es. A proposta justifica-se pela necessidade de diálogo acadêmico equitativo com as epistemologias diferenciadas. As políticas públicas desenvolvidas nas universidades tanto na graduação e como na pós-graduação possibilitaram maior equidade de direitos para que as pessoas etnicamente diferenciadas alcancem a educação formal em nível superior. A inserção tem sido objeto de debate acadêmico e reivindicação de movimentos sociais, essas políticas públicas não devem se limitar ao ingresso, mas também à permanência e à formação de qualidade, que respeite e integre os diversos saberes possibilitando qualificação ao mundo acadêmico e do trabalho. Considera-se que o racismo impediu e impede o ingresso de pessoas etnicamente diferenciadas nas universidades, entretanto a presença de professoras/es, de outros saberes e escritas são bem-vindas. O racismo acadêmico dificulta e/ou subvaloriza as publicações de povos e comunidades tradicionais, assim o dossiê se propõe a ser um entre os espaços de apresentação das pesquisas conduzidas por pesquisadoras/es de povos e comunidades tradicionais associadas/os as/aos demais pesquisadoras/es.
SUBMISSÕES ATÉ 30 DE NOVEMBRO DE 2025
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Volume 13, Número 32 (maio-agosto de 2026)
Masculinidades, curso de vida e cuidado
COORDENADORES: Dr. Esmael Alves de Oliveira (UFGD); Dr. Marcos Nascimento (IFF/Fiocruz/RJ); Dr. Camilo Braz (UFG)
RESUMO: A presente proposta de dossiê temático busca congregar pesquisas e reflexões voltadas a pensar e analisar a intersecção entre as construções de masculinidade(s), o curso de vida e as práticas de cuidado – incluindo o autocuidado, o cuidado em saúde e o cuidado com outros (como, por exemplo, a parentalidade). Nos interessam contribuições que busquem compreender, a partir de diversas perspectivas teóricas e metodológicas em diálogo com a antropologia e/ou com a etnografia, como repertórios simbólicos sobre masculinidade impactam a forma como homens concebem e praticam o cuidado ao longo de diferentes momentos de suas vidas. No âmbito dos estudos de gênero, observa-se uma tendência de associação da masculinidade com traços de dominação, autoridade e distanciamento emocional. Autoras como Elisabeth Badinter e Helena Hirata problematizam o quanto as normas tradicionais de gênero frequentemente estabelecem que o papel do homem esteja mais voltado para o sustento econômico e a proteção, enquanto o cuidado tem sido predominantemente atribuído às mulheres. Essa divisão contribui para a construção social de masculinidades baseada numa suposta independência e invulnerabilidade e na limitação de expressões afetivas e emocionais. Assim, se no âmbito do curso de vida, as masculinidades são influenciadas por transições e marcos prolongados, como infância, adolescência, idade adulta e velhice, desde uma perspectiva antropológica, o desafio que se apresenta é o de se levar em consideração o modo como as representações históricas e culturais da masculinidade influenciam os modos como homens se envolvem em práticas de autocuidado e de cuidado com/de outros/as. Aqui nem masculinidades, nem cuidado são categorias ontológicas, antes são compreendidas como resultantes de práticas históricas e socioculturais constituídas e atravessadas por valores, significados e normas que precisam ser situadas a partir dos marcadores sociais de diferença. Deste modo, em nossa proposta, tanto masculinidade quanto cuidado e curso de vida emergem como categorias centrais e em articulação, considerando que os modos como homens cuidam de si mesmos, de suas famílias e de suas comunidades estão intrinsecamente relacionados com modelos de masculinidade, marcadores geracionais e outras categorias de pertencimento tais como orientação sexual, identidade de gênero, raça, classe, entre outros. Portanto, serão bem-vindas contribuições que tenham como foco central de análise a intersecção entre masculinidades e práticas de cuidado; masculinidades, cuidado e emoções; masculinidades, curso de vida e cuidado; masculinidades e saúde; masculinidades, cuidado e interseccionalidade.
SUBMISSÕES ATÉ 30 DE MARÇO DE 2026
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Volume 13, Número 33 (setembro-dezembro de 2026)
Etnografia, escrita de si e escrita entre os seus: experimentações, desafios e potencialidades
COORDENADORAS: Dr. Leandro de Oliveira (UFMG); Dr. Felipe Tuxá Sotto Maior Cruz (UFBA)
RESUMO: A Antropologia, desde sua institucionalização como disciplina, foi marcada por um viés coletivista/ objetivista, priorizando noções como cultura, sociedade, estrutura e totalidade em detrimento de uma atenção à subjetividade, ao "biográfico" e à experiência pessoal. Nos anos 1970 surgem etnografias em que a/o antropóloga/o se constrói como personagem ativa no texto, tanto na interação com interlocutores quanto em uma explicitação seletiva de aspectos de sua trajetória e vida pessoais (articulada a posicionamentos político-epistemológicos). Esta antropologia reflexiva é coetânea à formação de pesquisadoras/es oriundas/os de comunidades tradicionalmente estudadas por antropólogas/os, que também recorrem a uma escrita de si em suas etnografias, dando ênfase a pertencimentos coletivos mais que a um exame da própria interioridade. Tais abordagens, por vezes rotuladas em bloco como autoantropologia ou autoetnografia, já foram alvo de suspeição por seu suposto individualismo e por seu distanciamento do ideal cientificista clássico. Não obstante, contribuem para a crítica ao presente etnográfico e autoridade etnográfica, e a reflexão sobre aspectos ético-políticos da pesquisa - contribuindo, nos termos de Donna Haraway, para a proliferação de "saberes localizados". A recente e crescente ocupação de espaços acadêmicos por pessoas negras, indígenas, transexuais e outros grupos minoritários tem potencializado a produção de pesquisas etnográficas por pesquisadores vinculados a estes grupos e categorias, que não somente falam sobre suas próprias experiências e comunidades, mas também tem atuado ativamente na denúncia e visibilização da branquitude, da cisgeneridade e das formas de letalidade e epistemicídio que estas direta ou indiretamente promovem. O dossiê pretende, simultaneamente, oferecer espaço para estas perspectivas antropológicas emergentes e um panorama da produção afinada com estas problemáticas.
SUBMISSÕES ATÉ 30 DE JULHO DE 2026
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Esperamos também artigos livres, em fluxo continuo.
As submissões devem ser feitas no site:https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/aceno/announcement/view/82