A expansão da fronteira escrava ao sul do Brasil (Santa Maria da Boca do Monte, 1814-1822)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22228/rtf.v15i1.1194

Palavras-chave:

Escravidão, Hierarquias sociais, Batismos, Brasil Meridional

Resumo

Nas primeiras décadas do século XIX, os luso-brasileiros invadiram e se apropriaram das terras dos índios guaranis, no oeste do atual Rio Grande do Sul. Nesse processo, ao mesmo tempo que capelas e vilas foram sendo erguidas, uma sociedade católica e baseada na exploração da mão de obra escrava, isto é, nos mesmos moldes de outras partes da América portuguesa, foi sendo organizada. Para análise desse processo, o foco do presente estudo recai sobre o povoado de Santa Maria da Boca do Monte, entre os anos de 1814 e 1822. Ao contrário do que a historiografia costumava afirmar até os anos 1980, o espaço agrário sul rio-grandense caracterizou-se pela diversidade sócio-econômica e cultural dos agentes históricos. Nesse sentido, as informações obtidas por meio da quantificação dos registros de batismo da Capela Curada de Santa Maria expressam que, desde os primeiros tempos da ocupação e povoamento luso-brasileiro, esta localidade fora marcada por uma considerável presença de escravos, inclusive africanos, e pela significativa diversidade étnica. Esta última circunstância nos sugere que, embora a dinâmica social tenha ocorrido sob a hegemonia da matriz cultural ibérica, o produto cultural resultante teve considerável contribuição das matrizes culturais guarani(s) e africana(s). Por sua vez, a significativa presença de cativos africanos indica que essa região era tocada pelo tráfico atlântico de escravos, o qual, por seu turno, cumpria a função sociológica de reproduzir o lugar social de uma elite que buscava se distanciar do restante da população livre.      

Biografia do Autor

Leandro Goya Fontella, Instituto Federal Farroupilha - IFFar

Professor de História do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha - Campus São Borja (IFFar-SB). Doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil (2017). Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGH-UFRGS). Licenciado em História pela Universidade Franciscana (UFN). * Realizou todo o Ensino Básico em escolas públicas. Está realizando estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGH-UFRGS) sob supervisão do Prof. Eduardo Santos Neumann.

Marcelo Santos Matheus, Instituto Federal do Rio Grande do Sul - IFRS

Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul. Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com estágio doutoral na Universidade de Brown (EUA). Participa dos grupos de pesquisa Sociedades e hierarquias no Brasil Meridional (1750-1930) e Grupo de Pesquisa em Ciências Humanas e Educação Profissional. Pesquisa História do Brasil Império, com ênfase nos temas Escravidão, Hierarquia e Desigualdade Social e Liberdade.

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Publicado

2022-09-16

Como Citar

Goya Fontella, L., & Santos Matheus, M. (2022). A expansão da fronteira escrava ao sul do Brasil (Santa Maria da Boca do Monte, 1814-1822). Revista Territórios E Fronteiras, 15(1), 27–56. https://doi.org/10.22228/rtf.v15i1.1194