Misturando massihiyin aos limites do Estado laico

Autores

  • John Tofik Karam Departamento de Espanhol e Português Centro Lemann de Estudos Brasileiros Universidade de Illinois, Urbana-Champaign

DOI:

https://doi.org/10.22228/rtf.v13i2.1044

Resumo

Este trabalho indaga sobre a aparente “mistura” de massihiyin (cristãos em árabe), tanto da igreja ortodoxa do patriarcado antioquina quanto dos ritos maronita e melquita (ou oriental) que pertencem à igreja católica romana. Argumenta-se que a “mistura” significa não a diluição mas a contenção e a conversibilidade da diferença. Por um lado, os maronitas, os melquitas e os ortodoxos de origem árabe adotaram o catolicismo de rito latino, protestantismo e em menor grau, espiritismo, umbanda e candomblé. Por outro lado, os brasileiros sem nenhuma ascendência árabe se converteram às denominações maronita, melquita e ortodoxa. A diferença cristã árabe é construída e contida no que o antropólogo Richard Wilk chamou de “estrutura da diferença comum”. O conteúdo cultural assume uma forma “mutuamente inteligível,” se variável, na chamada “mistura”. Em vez de ser um benefício ou direito outorgado do Estado laico, a construção minoritária desses e outros sujeitos revela a própria contradição ainda não-resolvida do laicismo. This work explores  the apparent “mixture” of massihiyin (Christians in Arabic), both from the Orthodox Church of the Antiochian Patriarchate and from the Maronite and Melkite (or Eastern) rites that belong to the Roman Catholic Church. It is argued that “mixing” means not dilution but containment and convertibility of difference. On the one hand, Maronites, Melchites and Orthodox of Arab origin adopted the Catholicism of Latin rite, Protestantism and to a lesser extent, Spiritism, Umbanda and Candomblé. On the other hand, Brazilians with no Arab ancestry converted to the Maronite, Melkite and Orthodox denominations.  Arab Christian difference is constructed and contained in what anthropologist Richard Wilk called "the structure of common difference". Cultural content takes on a “mutually intelligible” form, if variable, in the so-called “mixture”. Instead of being a benefit or right granted by the secular state, the minority construction of these and other subjects reveals the  unresolved contradiction of secularism and the secular state.Este trabajo indaga sobre la aparente "mezcla" de massihiyin (cristianos en árabe), tanto de la Iglesia Ortodoxa del Patriarcado Antioqueño como de los ritos maronitas y melkitas (u orientales) que pertenecen a la Iglesia Católica Romana. Se argumenta que "mezclar" significa no dilución sino contención y convertibilidad de la diferencia. Por un lado, los maronitas, melquitas y ortodoxos de origen árabe adoptaron el catolicismo de rito latino, el protestantismo y, en menor medida, el espiritismo, el umbanda y el candomblé. Por otro lado, los brasileños sin ascendencia árabe se convirtieron a las denominaciones maronita, melquita y ortodoxa. La diferencia cristiana árabe está construida y contenida en lo que el antropólogo Richard Wilk llamó "la estructura de la diferencia común". El contenido cultural adquiere una forma "mutuamente inteligible", si es variable, en la llamada "mezcla". En lugar de ser un beneficio o un derecho otorgado al estado secular, la construcción minoritaria de estos y otros temas revela la contradicción muy no resuelta del secularismo.

Biografia do Autor

John Tofik Karam, Departamento de Espanhol e Português Centro Lemann de Estudos Brasileiros Universidade de Illinois, Urbana-Champaign

Formado em antropologia, Karam é Diretor do Centro Lemann de Estudos Brasileiros e Professor Associado no Departamento de Espanhol e Português na Universidade de Illinois, Urbana-Champaign. 

Referências

ALMEIDA, Ronaldo; MONTEIRO, Paula. Trânsito religioso no Brasil. São Paulo Perspectivas, 15:3, pp. 92-100, 2001.

AMADO, Jorge. Tocaia grande: a face obscura. São Paulo: Companhia das Letras [2008] 1984.

ARAÚJO, Oscar Egidio de. Enquistamentos Étnicos. Revista do Arquivo Municipal, 6: 65, pp. 227-46, 1940.

AZEVEDO, Solange. O arcebispo da era digital. Revista Época, 472, jun. 2007.

BAKOUR, Houda Blum. A igreja ortodoxa antioquina na cidade do Rio de Janeiro: Construção e manutenção de uma identidade religiosa dispórica no campo religioso brasileiro. Tese de doutorado. Universidade Federal Fluminense, 2007.

BOLETIM informativo - Associação Comercial, Industrial e Agro-Pecuária São José dos Campos, Front Associação Comercial, Industrial e Agro-Pecuária São José dos Campos, 1969.

BRASIL. Censo 2010. IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2010. Disponivel em: <https://censo2010.ibge.gov.br/>, acesso em: 23 mar. 2021.

CALIXTO, Marcos. O Cristão e o Islamismo. Rio de Janeiro: MK Editora, 2004.

CALIXTO, Marcos. Árabes, os Judeus e o Presidente. Facebook, 6 janeiro 2019. Disponível em: https://www.facebook.com/Igrejaevangelicaarabebrasileiraemcuritiba/> Acesso em: 03 jun. 2020.

CALIXTO, Marcos. O mundo precisa de Deus. Igreja Batista do Bacacheri Curitiba. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sKXRYTNqvS8. Acesso em: 03 jun. 2020.

CARDOSO, Fernando Henrique Cardoso; IANNI, Octávio. Côr e mobilidade social em Florianopolis. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1960.

CARDOSO, Rodrigo. O novo retrato da fé. Veja. 19 ago. 2011.

DELAGE, Paulo Audebert. Igreja Evangélica Árabe de São Paulo: Inserção, estruturação e expansão na adversidade-diversidade sócio-cultural da cidade de São Paulo. Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2009.

DIÉGUES, Manuel. Etnias e culturas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1976 (1952).

ELLIS JR, Alfredo. Populações paulistas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1934.

Em Brasília é inaugurada a Paróquia Maronita em honra a São Charbel. Disponível em: <https://noticias.cancaonova.com/igreja/em-brasilia-e-inaugurada-paroquia-maronita-em-honra-sao-charbel/ >. Acesso em: 03 jun. 2020.

GONZÁLEZ ECHEVARRÍA, Robert. Myth and Archive: A Theory of Latin American Narrative. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

HASENBALG, Carlos. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

HATOUM, Milton. Relato de um certo oriente. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

HATOUM, Milton. “Arabescos Brasileiros”. Mashriq & Mahjar: Journal of Middle East and North African Migration Studies, v.1 n.2, pp. 3-13, 2013.

FEDERAÇÃO Árabe vê falta de projetos para investimentos. Jornal do Brasil, 12 nov. 1975, p. 16.

FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977 [1933].

FRIGERIO, Alejandro. Analyzing Conversion in Latin America: Theoretical Questions, Methodological Dilemmas, and Comparative Data from Argentina and Brazil. In: STEIGENGA, Timothy J.; CLEARY, Edward L. (eds.). Conversion of a Continent: Contemporary Religious Change in Latin America. New Brunswick: Rutgers University Press, 2007, p. 33-51.

GEBARA, Ivone. As águas do meu poço. Reflexões sobre experiências de liberdade. São Paulo: Paulinas, 2005.

JAMIL e dr. Jairo: defesa. Jornal da Républica. 26 novembro 1979, p. 10-11.

JUNIOR, Amarílio. As vantagens da imigração Syria no Brasil. Rio de Janeiro, 1935.

KADUNC, Murillo. Jamil Rachid: Este homem é o pai de 350 mil crentes. Veja, 11 dez. 1976, p. 122-4.

KARAM, John Tofik. Um outro arabesco: etnicidade sírio-libanesa no Brasil neoliberal. São Paulo: Martins Editora, 2009.

KATZ, Felipe Beltran. O Iconostasis paulistano - Igrejas Orientais em São Paulo: mediação da multiplicidade, 1950-2011. Dissertação de Mestrado. PUC-São Paulo, 2012.

KHATER, Akram Fouad. Inventing Home: Emigration, Gender, and the Middle Class in Lebanon, 1870-1920. Berkeley: University of California Press, 2001.

KHATER, Akram Fouad. How Does New Scholarship on Christians and Christianity in the Middle East Shape How We View the History of the Region and Its Current Issues? International Journal of Middle East Studies, 42:3, 2010.

KHATER, Akram Fouad. Embracing the Divine: Passion & Politics in the Christian Middle East. Syracuse: Syracuse University Press, 2011.

KOTSCHO, Ricardo. O ‘boom’ do umbandomblé e cia. Jornal da Républica, 26 nov. 1979, p. 10-1.

LESSER, Jeffrey. Immigration, Ethnicity, and National Identity in Brazil, 1808 to the Present. Durham: Duke University Press, 2013.

MAHMOOD, Saba. Religious Difference in a Secular Age: A Minority Report. Princeton: Princeton University Press, 2016.

MASSUELA, Amanda. Um rebelled no rebanho. Revista Cult. 10 março 2017. Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/home/uma-rebelde-no-rebanho/>. Acesso em: 03 jun. 2020.

NEGRÃO, Lísias Nogueira. Entre a cruz e a encruzilhada: formação do campo umbandista em São Paulo. São Paulo: Edusp, 1996.

‘O PROFETA’ discute Religião e Ciência. Correio Braziliense. 17 nov. 1979, p. 40.

OSMAN, Samira Adel. Cristãos e Muçulmanos na Experiência Migratória Árabe no Brasil. In: DIETRICH, Ana Maria; MOURA, Carlos André Silva de; SILVA, Eliane Moura da. (Org.). Viajantes, Missionários e Imigrantes: olhares sobre o Brasil. 1ed. Campinas: UNICAMP, 2013, v. 1, p. 209-239.

PADILHA, Gilberto. Testemunha da história da 25 de Março e do Brasil: Proprietário da loja mais antiga da região, Niazi Chohfi viveu a fase de maior crescimento e os problemas de sua rua, da cidade e do País. Jornal da Tarde, 18 jun. 2000.

PADILHA, Gilberto. Nesta rua os árabes resistem aos shoppings e aos camelôs: Vindos da Síria e do Líbano, eles tornaram a Rua 25 de Março um dos centros atacadistas mais prósperos da América Latina. Jornal da Tarde, 18 jun. 2000.

PINTO, Paulo Gabriel Hilu da Rocha. Árabes no Rio de Janeiro: uma identidade plural. Rio de Janeiro: Cidade Viva Editora, 2010,

PITTS JR., Montie Bryan. Forging Ethnic Identity through Faith: Religion and the Syrian-Lebanese Community in São Paulo. Dissertação de Mestrado. Vanderbilt University, 2006.

Programa com o Pastor Marcos Calixto, Programa Juntos, 139. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zCO4nEkURhA>. Acesso em: 03 jun. 2020.

RACHID, Duca. Tocaia grande. Rede Manchete, 1995-6.

RIO, João do (Paulo Barreto). As religiões do Rio. Rio de Janeiro: Editora Companhia Nacional, 1928.

ROQUETTE-PINTO. Edgar. Rondônia. 3rd ed. Rio de Janeiro: Editora Companhia Nacional, 1935.

SAFADY, Wadih. Cenas e cenários dos caminhos de minha vida: depoimento e contribuição para a história de imigração dos povos árabes para o Brasil. São Paulo: Penna Editora, 1966.

SARAVA: 100 anos de Umbanda. São Paulo: Chama Produções, 2008.

SOLENIDADE. Assembléia Legislativa do Estado de Goiás. 16 nov. 2015. Disponível em: <https://portal.al.go.leg.br/noticias/ver/id/138126/solenidade> Acesso em: 03 jun. 2020.

SOUZA, Rafael Paula. Contribuição á etnologia paulista. Revista do Arquivo Municipal 3:3, pp. 95–105, 1937.

TRUZZI, Oswaldo. Patrícios: Sírios e Libaneses em São Paulo. São Paulo: Editora Hucitec, 1997.

TRUZZI, Oswaldo. Religiosidade Cristã entre Árabes em São Paulo: Desafios no Passado e no Presente, Religião e Sociedade, vol.36, n.2, pp. 266-291, 2016.

TUMA, Rezkalla. Editorial. II Congresso Panamericano Árabe: São Paulo-Brasil. São Paulo: FEARAB, 1975, p.1.

VIANA, Oliveira. Raça e assimilação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1932, p.120 - 22.

WAGLEY, Charles, ed., Race and Class in Rural Brazil. Paris: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, 1952.

WILK, Richard, Learning to Be Local in Belize: Global Systems of Common Difference. In: Miller, Daniel (ed.). Worlds Apart: Modernity through the Prism of the Local. New Brunswick, N.J.: Routledge, 1995, pp. 110 - 133.

Downloads

Publicado

2021-04-01

Como Citar

Karam, J. T. (2021). Misturando massihiyin aos limites do Estado laico. Revista Territórios E Fronteiras, 13(2), 99–114. https://doi.org/10.22228/rtf.v13i2.1044

Edição

Seção

Dossiê Temático