Chamada Pública para Dossiê "Ter e poder: o domínio territorial régio da paisagem natural ibero-atlântica (1250-1550)" (prazo 30 de agosto de 2023)

2023-06-15
Ter e poder: o domínio territorial régio da paisagem natural ibero-atlântica (1250-1550) Ao longo dos séculos, o exercício do poder por parte de imperadores, reis e outros soberanos assumiu uma dimensão de domínio efetivo sobre um território. Simbolicamente representada em mudanças célebres – e também problemáticas – como é o caso da alteração da designação de Rex francorum para Franciae rex durante o reinado de Filipe Augusto (r. 1179-1223), esta identificação do domínio régio com um território definido multiplicou as vias de ação destes governantes, gerindo o território, estabelecendo monopólios, proibindo ou levantando interdições sobre certas práticas em certas áreas, enfim, exercendo um poder efetivo sobre o território sob seu domínio e demonstrando a primazia da sua jurisdição sobre todas as restantes. O estudo das dimensões simbólicas destas transformações tem uma longa tradição. Contudo, a aplicabilidade desta normativa dependia de um conjunto de oficiais régios e municipais. Quem eram os homens que, em nome do rei, garantiam in loco a aplicação da legislação régia sobre o território? De que forma atuavam? Quais eram os seus antecedentes, e de que forma se relacionavam com o poder local? Tinham meios suficientes para exercer as suas funções? Abusavam do poder que lhes era conferido? Questões centrais como as que aqui se levantam poderão conduzir a respostas essenciais sobre a materialização efetiva do poder régio, as suas implicações, contextos e consequências. Estudar como um rei reinaria sobre o solo, subsolo e costas do seu domínio, da Idade Média ao advento da Modernidade, é a premissa fundamental deste dossier temático. Focando-nos nas monarquias ibéricas e nos territórios por estas dominados até meados do século XVI (ilhas atlânticas, Brasil das capitanias, vice-reinos do Peru e da Nova Espanha), e alterando um pouco o eixo tradicional de análise, este dossier pretende resgatar questões sobre aproveitamento e gestão de recursos naturais, como florestas, cursos de água e stocks de pesca, exploração de espécies animais e vegetais e conflito entre algumas daquelas e o Homem, como os carnívoros ou herbívoros silvestres, enfim, resgatar uma dimensão da história ambiental medieval a partir da territorialização efetiva e prática do poder régio sobre a terra e dos homens que a garantiam. Possession and power: the regal territorial domination of the Iberian-Atlantic natural landscape (1250-1550) Over the centuries, the exercise of power by emperors, kings and other sovereigns presumed their effective dominion over the territory. Symbolically represented in celebrated – however problematic – instances of political re-labelling, such as the change of title from Rex francorum to Franciae rex by Philip Augustus (r. 1179-1223), the identification of the regal domain as being a well-defined territory implied a variety of actions from those rulers, such as managing the territory, establishing monopolies, or prohibiting or lifting bans on specific practices in certain areas; in short, exercising effective power over the land under their rule and the primacy of their jurisdiction over every other. The symbolic dimensions of these transformations has long been studied. However, the extent to which such regulations could – and indeed were – applied depended on a set of royal and municipal officials. Who were the men who, in the name of the king, guaranteed that royal legislation was followed on the ground? How did they act? What was their background? How did they relate to local powers? Did they have the means to carry out their functions adequately? Did they misuse their powers? Questions such as these are decisive to understanding how royal power effectively materialised, and what were the implications, contexts and consequences of that. The premise of this dossier is to explore how medieval and early modern sovereigns ruled over the soil, the subsoil and the coastline which made up their domains. The focus will be on the Iberian monarchies and the territories they dominated overseas until the mid-sixteenth century: namely the Atlantic islands, the captaincies of Brazil, the viceroyalties of Peru, and New Spain. Changing slightly the traditional axis of analysis, this dossier aims to recover questions such as the exploration and management of natural resources, including forests, watercourses and fishing stocks, the exploitation of animal and plant species, and the conflict between some of those (such as carnivores and wild herbivores) and man. In short, we aim to recover, as a dimension of medieval environmental history, the territorialisation and practice of royal power and the men who sought to enable it. Domination et pouvoir : le contrôle territorial royal du paysage naturel ibéro-atlantique (1250-1550) Au fil des siècles, l'exercice du pouvoir par les empereurs, les rois et les autres souverains a pris une dimension de domination effective sur un territoire. Symboliquement représentée par des changements célèbres - mais aussi problématiques - comme le passage du titre de Rex francorum à Franciae rex sous le règne de Philippe Auguste (r. 1179-1223), cette identification de la domination royale à un territoire défini a multiplié les moyens d'action des souverains qui gèrent le territoire, établissent des monopoles, interdisent ou lèvent des interdictions sur certaines pratiques dans certaines zones, bref, exercent un pouvoir effectif sur le territoire qu'ils dominent et démontrent la primauté de leur juridiction sur toutes les autres. L'étude des dimensions symboliques de ces transformations a une longue tradition. Cependant, l'applicabilité de ces règlements dépendait d'un ensemble de fonctionnaires royaux et municipaux. Qui sont les hommes qui, au nom du roi, assurent l'application de la législation royale sur le terrain ? Comment agissent-ils ? Quelle est leur formation et quels sont leurs rapports avec le pouvoir local ? Disposaient-ils de moyens suffisants pour exercer leurs fonctions ? Ont-ils abusé du pouvoir qui leur était conféré ? Ces questions centrales peuvent apporter des réponses essentielles sur la matérialisation effective du pouvoir royal, ses implications, ses contextes et ses conséquences. Étudier comment un roi régit le sol, le sous-sol et les côtes de son domaine, du Moyen Âge à l'avènement de la Modernité, est le postulat fondamental de ce dossier thématique. En se concentrant sur les monarchies ibériques et les territoires qu'elles gouvernaient jusqu'au milieu du XVIe siècle (les îles de l'Atlantique, les capitaineries du Brésil, les vice-royautés du Pérou et de la Nouvelle-Espagne), et en modifiant légèrement l'axe d'analyse traditionnel, ce dossier vise à rassembler les questions relatives à l'exploitation et à la gestion des ressources naturelles, telles que les forêts, les cours d'eau et les ressources halieutiques, ainsi qu'à la gestion de l'eau et des ressources naturelles, des cours d'eau et des ressources halieutiques, de l'exploitation des espèces animales et végétales et du conflit entre certaines d'entre elles et l'homme, comme les carnivores ou les herbivores sauvages ; bref, de retrouver une dimension de l'histoire environnementale à partir de la territorialisation et de la pratique effectives du pouvoir royal sur la terre et les hommes qui en sont les garants.