O discurso da doutrinação como uma red pill
abusos da educação para empreendimentos e inversões
DOI:
10.29327/2410051.7.22-60Resumo
Este artigo visa ensaiar uma análise do discurso da doutrinação a partir de três eixos principais. Primeiro, pretendo argumentar que o discurso da doutrinação levou a uma bifurcação entre a esfera pública dominante e um mundo paralelo, o qual se formou pela inversão dos valores que estruturam o público dominante – o mundo das instituições, da ciência estabelecida nas universidades e nos institutos de pesquisa, da relação entre sociedade e escola prevista na Constituição de 1988; nessa linha o pânico da doutrinação teria funcionado como uma red pill (pílula vermelha) para atrair a adesão a valores cada vez mais contrários àqueles que se acreditava terem sido hegemonizados após a redemocratização, gerando o que Cesarino (2022) chamou de um público antiestrutural (Cesarino, 2022). Segundo, entendendo a sua forma de funcionamento e difusão como um empreendedorismo político (Nunes, 2022), uma atualização das formas de fazer política para tempos profundamente neoliberais. Terceiro, como possuidor de uma dimensão sociotécnica que ainda carece de ser compreendida nos estudos sobre ele, encapsulada aqui no fenômeno nomeado por Marwick e boyd (2011) de colapso de contextos. A partir destes eixos, o artigo defende que o discurso da doutrinação foi central para o processo de desdemocratização do país, atualizando um argumento já feito em [autor], principalmente pelo seu papel na crise dos sistemas de peritos (Cesarino, 2021). Essa crise impacta desde as condições de trabalho de educadores/as até a relação entre conhecimento científico e políticas públicas. Por fim, o artigo aponta também para mais indícios de um impacto profundo da digitalização da vida sobre os processos de organização social da educação.
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