Por que o cristianismo fundamentalista tem medo da sapatona aberrante?

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Resumo

O ensaio tem como proposta problematizar o discurso acerca do cristianismo fundamentalista e o discurso da extrema-direita. Ambos se forjaram na política, ocasionando um discurso em torno do falatório da ideologia de gênero. Anexamos uma carta-manifesto escrita no ano de 2021 por três pessoas sendo uma delas em condição de dissidente sexual e de gênero, na qual denunciam o conservadorismo de uma comunidade católica situada na periferia de Cariacica, Espírito Santo. A carta é um analisador (ferramenta da análise institucional), que dá abertura para a reflexão a respeito do modo como o cristianismo fundamentalista produz violência. Ao mesmo tempo, a carta é um arquivo de problematização das práticas e de resistência. Lançamos, também, indagações sobre como a igreja católica continua sendo um lugar de paradoxo, que prega “amor” e “ódio” entre fiéis. Em tempos de discursos de ódio e de fascismos, algumas vidas permanecem vulneráveis, sendo alvos de diversos ataques. A sapatona, como desvio de identidades, mobiliza a política do borramento e do incômodo à norma. É relevante ressaltarmos que, desde 1995, na Conferência Mundial da Mulher da Organização das Nações Unidas, o Vaticano questionou a existência da lésbica como ser humano de direito. Os grupelhos eclesiais haviam indagado se a lésbica seria mesmo mulher. O poder pastoral que vigia os corpos é o mesmo que prega a paz. Nessa perspectiva, o que esses discursos produzem como práticas sobre as existências dissidentes? É imprescindível destacarmos que o discurso fundamentalista propicia o fascismo, uma vez que faz o ódio ao outro ganhar força. Assim, o extermínio da população negra, a violência doméstica, o assassinato de mulheres cis e trans, e a lesbofobia são experiências que, acusadas por práticas conservadoras, são produzidas por discursos, que rogam seus apagamentos. Finalmente, o presente escrito lança um diálogo com Michel Foucault e Judith Butler a respeito das tecnologias de controle do poder pastoral e das vigilâncias dos gêneros e sexualidades, questionando, por fim: quando uma vida importa e quais pistas sobre práticas de resistências são possíveis pensar num tempo em que todos/as vigiam o CU do/a outro/a?

Biografia do Autor

Jessica Tatiane felizardo, Universidade Federal do Espírito Santo

Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Psicologia Institucional na Universidade Federal do Espírito Santo.

Ana Paula Figueiredo Louzada, Universidade Federal do Espírito Santo

Ana Paula Figueiredo Louzada, Doutora em Educação, Docente do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós Graduação em Psicologia Institucional na Universidade Federal do Espírito Santo. 

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Publicado

2024-03-18

Como Citar

felizardo, J. T., & Louzada, A. P. F. (2024). Por que o cristianismo fundamentalista tem medo da sapatona aberrante?. Revista Brasileira De Estudos Da Homocultura, 7(22). Recuperado de https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/rebeh/article/view/16019

Edição

Seção

DOSSIÊ TEMÁTICO: Conservadorismos e as questões de gêneros e sexualidades