Pós-pornografia gay e educação em saúde sexual:

Notas sobre a experiência de produção de materiais de prevenção do HIV para gays e outros homens que fazem sexo com homens

Autores

Resumo

O texto discute os bastidores teóricos e metodológicos da produção de materiais pós-pornográficos voltados para prevenção do HIV entre gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSHs). A produção faz parte de um plano de comunicação científica de um projeto de pesquisa sobre vulnerabilidade dos HSH ao vírus da AIDS. O grupo de pesquisa tem investido na criação de materiais informacionais com base em estudos da narrativa como dispositivo de subjetivação. No caso da produção direcionada a HSHs adultos, a pós-pornografia, concebida como uma forma narrativa, dá embasamento teórico e metodológico à produção, sendo escolhida como modo de abordar a prevenção. Isso ocorre tanto devido à forte presença do pornô no aprendizado e na experimentação da sexualidade entre os HSH, como pela sua capacidade de ser disruptiva em relação às pedagogias sexuais heteronormativas. Os materiais, produzidos para veiculação na internet, são compostos de cinco conjuntos de cartões que, por meio de narrativas pós-pornográficas verossímeis, abordam elementos corporais, afetivos e emocionais em enredos sexuais de sexo inseguro, além de apresentar possibilidades de prevenção (camisinha, segurança negociada, PrEP e tratamento como prevenção) e reparação (PEP) para o drama do sexo inseguro. A produção imagética baseia-se na noção de estilizações corporais:  configurações que produzem sentido (sensações, valorações emocionais, significados e direções) aos corpos em interação. Ao trabalhar o contra-intuitivo por meio das imagens, busca-se criar uma segunda camada de sentido, de modo a questionar as dimensões de vulnerabilidade associadas a raça, gênero e classe. Os cartões são hospedados no site Alice Bee no Vale das Ninfas. Alice, uma drag queen,  e o Vale das Ninfas (circuitos de sociabilidade LGBT+ da Região Metropolitana do Recife) fornecem o contexto local para as cenas apresentadas, ao mesmo tempo que usa dos recursos da arte drag para interrogar as estigmatizações da própria comunidade gay, que freqüentemente reproduz  opressões em relação às feminilidades, especialmente quando habitam corpos de homens cis e mulheres trans. O texto conclui com apontamentos avaliativos sobre a experiência, explorando os limites de um material que exige a leitura formal para sua efetividade, num contexto marcado por desigualdades que se expressam no acesso a educação formal.

Biografia do Autor

Luís Felipe Rios, Universidade Federal de Pernambuco/Professor

Psicólogo, Mestre em Antropologia (UFPE), Doutor em Saúde Coletiva (UERJ), Pós-Doutor em Psicologia (USP), Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq, Prof. Titular do Despartamento de Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco, coordenador do Laboratório de Estudos da Sexualidade Humana (LabEshu). 

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Publicado

2024-03-27

Como Citar

Rios, L. F. (2024). Pós-pornografia gay e educação em saúde sexual:: Notas sobre a experiência de produção de materiais de prevenção do HIV para gays e outros homens que fazem sexo com homens. Revista Brasileira De Estudos Da Homocultura, 7(22). Recuperado de https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/rebeh/article/view/15839