“Saúde é em geral né, é ter um bom alimento pra manter em pé”: por entre sentidos e práticas (trans)viadas de/em saúde

Autores

DOI:

10.31560/2595-3206.2020.11.10581

Resumo

O presente artigo, busca compreender o modo como sujeitos transexuais na busca de seus sentidos de saúde tencionam e questionam os dispositivos transexualizadores. Foi assim que, por meio de uma pesquisa de campo de viés etnográfico realizada junto a um Ambulatório Transexualizador localizado no Mato Grosso do Sul, à uma reunião entre o Fórum LGBT/MS e a Secretaria Municipal de Saúde (SESAU), e uma entrevista realizada com uma mulher trans dona de uma casa de prostituição de Campo Grande, pudemos pensar tanto os mecanismos que restringem acessos, direitos e reconhecimento quanto as estratégias dos sujeitos trans para seu questionamento e subversão. Assim, a partir das observações e diálogos estabelecidos, foi possível perceber como as experiências trans, a partir do ponto de vista do saber-poder biomédico, ainda estão inseridas numa inteligibilidade cisgênera, binária e heteropatriarcal. Ao mesmo tempo, as microresistências forjadas por esses sujeitos no interior das tecnologias cisheteronormativas dão conta das instabilidades, precariedades e limites dos dispositivos disciplinadores contemporâneos, atribuindo sentidos de saúde que não se restringem à lógica dos processos transexualizadores.

Biografia do Autor

Daniella Chagas Mesquita, Doutoranda em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal do Paraná

Doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal do Paraná (PPGAA/UFPR). Mestra pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (PPGAS/UFMS). Bacharela em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Possui interesse nas áreas de Antropologia da Saúde, Antropologia Urbana, Antropologia Feminista, Psicologia Social e Psicologia da Saúde; e nas temáticas de saúde, gênero, sexualidade e movimentos sociais.

Esmael Alves de Oliveira, Universidade Federal da Grande Dourados

Doutor em Antropologia Social (PPGAS/UFSC), professor na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados (FCH/UFGD) e e do Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGANT/UFGD).

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Publicado

2021-03-01

Como Citar

Mesquita, D. C., & Oliveira, E. A. de. (2021). “Saúde é em geral né, é ter um bom alimento pra manter em pé”: por entre sentidos e práticas (trans)viadas de/em saúde. Revista Brasileira De Estudos Da Homocultura, 3(11), 140–165. https://doi.org/10.31560/2595-3206.2020.11.10581

Edição

Seção

Dossiê Temático: Reflexões em Torno da Saúde da População LGBT

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