A ciência que vigia o berço: diferentes leituras de “saúde” frente a crianças trans e crianças intersexo

Autores

DOI:

10.31560/2595-3206.2020.9.10553

Resumo

Resumo: o objetivo deste artigo é analisar como a categoria “infância” produz arranjos distintos no momento em que passa a ser articulada ao gênero. Propõe, então, refletir sobre as maneiras que tanto transexualidade quanto intersexualidade disputam uma agenda infantil, relacionada à produção de demandas, bandeiras e limites. Busca-se compreender como tais atravessamentos informam aproximações entre crianças trans e intersexo, mas também momentos de bastante colisão política. Portanto, considera emergente uma discussão capaz de levar em conta os riscos de uma homogeneização da diferença na infância, apontando para a necessidade de uma perspectiva ética acerca das múltiplas especificidades em saúde que são destinadas aos primeiros anos de vida.

Biografia do Autor

Amanda de Almeida Schiavon, Doutoranda em Psicologia Social e Institucional, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Mestra e Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional, UFRGS.

Sofia Favero, Doutoranda em Psicologia Social e Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional, UFRGS.

Paula Sandrine Machado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Professora do Departamento de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional, UFRGS.

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Publicado

2020-08-31

Como Citar

Schiavon, A. de A., Favero, S., & Machado, P. S. (2020). A ciência que vigia o berço: diferentes leituras de “saúde” frente a crianças trans e crianças intersexo. Revista Brasileira De Estudos Da Homocultura, 3(9). https://doi.org/10.31560/2595-3206.2020.9.10553

Edição

Seção

Dossiê Temático: Tornar-nos Criança: Auto-Etnografias, Cuidados e Reparações

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