Pelas Janelas: Faíscas urbanas e imagens da infância.

Autores

DOI:

10.31560/2595-3206.2020.9.10272

Resumo

O presente artigo aposta na força de contar histórias. Narrar é um ato ético, estético e político, desenvolvido na psicologia social para recuperar memórias, trajetórias, condições, vidas e experiências que são sistematicamente postos à margem, quando não intencionalmente destruídos, apagados. O texto opera como uma brincadeira de rememoração e invenção. No decorrer das lembranças, crianças desestabilizam a relação contínua entre passado, presente e futuro. Longe da ideia de um passado estanque, imagens da infância protagonizam histórias trocadas entre duas amigas. Assim, aqui vigoram histórias como a de uma criança que brinca com os restos da urbe, outra que se fantasia e inventa para si outras vidas, outra ainda, que no percurso pela cidade resiste ao empuxo à conformação binária dos lugares. Todas elas sustentando singularmente a invenção de outros gestos. Aqui o ato de rememoração e narração soa como imperativo ético para enfrentar e os discursos que atravessa os corpos e modulam as experiências. A inflexão central deste artigo não está na busca por verdades sedimentadas no tempo passado das histórias narradas, tampouco na ânsia por respostas esclarecedoras. Através da rememoração, invenção e montagem de imagens distintas podemos estabelecer quadros de significação que suportem, mesmo que temporariamente, a complexidade das experiências atuais. Apostamos que o exercício narrativo opera como vetor desestabilizador dos modos de hegemônicos de experimentar e representar gênero e sexualidade nos cenários da urbe.

Biografia do Autor

Tainá dos Santos Oliveira, Doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense

Mestre e doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense. Pesquisa Políticas Sociais e narratividades minoritárias e suas articulações com Integração socioespacial.

Lais Medeiros Amado

Graduada em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense. Pós Graduada na modalidade Residência Multiprofissional em Saúde Mental pela Escola de Saúde Mental do Rio de Janeiro - ESAM. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense.

Referências

BAUDELAIRE, C. O pintor da vida moderna. In __________. Obras estéticas: Filosofia da imaginação criadora. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993, p. 223-224.

BENJAMIN, W. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Duas Cidades/Editora 34, 2009.

__________. Magia e técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas. v.1. São Paulo: Brasiliense, 1987.

__________. Rua de mão única. Infância berlinense: 1900. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

BINES, R. K. A grande orelha de Kafka. Cadernos de leitura Chão da Feira, n. 87/ série infância, 2019.

BLANCHOT, M. O livro por vir. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013.

FERREIRA, M. S. A cidade como texto: fragmentos da experiência homossexual masculina no Rio de Janeiro contemporâneo. 2006. Tese (Doutorado em Psicologia) – Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica, Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro.

FERREIRA, M. S. Enunciações de si em estudos sobre as sexualidades: proposições metodológicas. In: FERREIRA, M. S.; MORAES, M. (Orgs.). Políticas de Pesquisa em Psicologia Social. Rio de janeiro: Nova Aliança, 2016, v. 1, p. 93-117.

FERREIRA, M. S. Walter Benjamin e a questão das narratividades. Mnemosine, v. 7, n. 2, p. 121-133. 2011. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/mnemosine/article/view/41479>. Acesso em: 09 Abr. 2020

GAGNEBIN, J. M. História e narração em Walter Benjamin. São Paulo: Perspectiva, 2011.

JOBIM E SOUZA, S. Re-significando a psicologia do desenvolvimento: uma contribuição crítica à pesquisa da infância. In: KRAMER, S; LEITE, M. I. (Orgs.) Infância: fios e desafios da pesquisa. Campinas: Papirus, 1996. p. 39-55.

KAFKA, F. Contemplação e o foguista. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994.

LORDE A. Transformação do Silêncio em Linguagem e Ação. 1984. Disponível em:< https://theintercept.com/2019/11/27/audre-lorde-ensaio-irma-outsider/>. Acesso em: 27 Abr. 2020

PASOLINI, P. P. Estamos todos em perigo: última entrevista de Pier Paolo Pasolini com Furio Colombo. Cadernos de leitura Chão da Feira, n. 86, 2019.

PRECIADO, P. B. Qui defend l'enfant queer? Libération. Disponível em: <http://www.liberation.fr/societe/2013/01/14/qui-defend-l-enfant-queer_873947>. Tradução disponível em: <http://revistageni.org/10/quem-defende-a-crianca-queer/>. Acessado em 30 jan, 2015. Original de 14 jan, 2013.

SALGADO, R. G.; SOUZA, L. L. Gêneros, sexualidades e infâncias: cenas de crianças na contramão da inocência. Childhood & philosophy, v. 14, n. 29, jan.-abr. pp. 241-258. 2018. Disponível em: < https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/6249836.pdf>. Acesso em: 09 Abr. 2020

Downloads

Publicado

2020-08-31

Como Citar

Oliveira, T. dos S., & Medeiros Amado, L. (2020). Pelas Janelas: Faíscas urbanas e imagens da infância. Revista Brasileira De Estudos Da Homocultura, 3(9), 305–319. https://doi.org/10.31560/2595-3206.2020.9.10272

Edição

Seção

Dossiê Temático: Tornar-nos Criança: Auto-Etnografias, Cuidados e Reparações