Decolonialidade e(m) Linguística Aplicada
Uma entrevista com Lynn Mario Trindade Menezes de Souza
Resumo
Na entrevista, o Professor Lynn Mario destaca o racismo como marca colonial e um dos principais problemas sociais que, contudo, não tem sido suficientemente abordado pela Linguística Aplicada. Além disso, expõe a relação íntima da Linguística Aplicada com a normatividade, enfatizando-a como uma herança da Linguística que, se não questionada, acaba por limitar a sala de aula de línguas em espaço de ensino e não de educação linguística, como ele difere. Baseando-se em autores tais como Mikhail Bakhtin, Homi Bhabha, do lado dos estudos sobre linguagem, e em outros tais como Aníbal Quijano, Walter Mignolo e Boaventura de Souza Santos, do lado dos estudos do Sul Global, ele traça relações epistêmicas extremamente relevantes para, ao mesmo tempo, criticar o que vê como sendo, muitas vezes, uma tentativa de aplicação imediata da decolonialidade, sem que se questione a normatividade que mantém as relações coloniais, e argumentar, como sempre faz, em favor da vitalidade do pensamento. Ao fim, apresenta o quilombo como uma metáfora que considera mais adequada para a complexidade da linguagem, em lugar da metáfora de sistema saussureano.
Referências
BAKHTIN, M. The Dialogic Imagination: Four Essays by M. M. Bakhtin. Austin: University of Texas Press, 1981.
BHABHA, H. Bhabha, H. The Location of Culture. New York: Routledge, 1994
CRENSHAW, K. W. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Estudos Feministas. Ano 10, vol. 1, 2002.
CUSICANQUI, S. R. Ch’ixinakax utxiwa: on practices and discourses of decolonization. Trad. Molly Geidel. Cambridge: Polity Press, 2020.
CUSICANQUI, S. R. Ch’ixinakax utxiwa: A Reflection on the Practices and Discourses of Decolonization. The South Atlantic Quarterly. 111:1, Winter 2012.
DAMÁSIO, A. R. Em busca de Espinosa: Prazer e dor na ciência dos Sentimentos. Trad. Laura Teixeira Motta – São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
DAMÁSIO, A. R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano. Trad. Dora Vicente, Georgina Segurado. – 3.ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
DELEUZE, F.; GUATTARI, F. A Thousand Plateaus: capitalism and schizophrenia, Trad. Brian Massumi. Minneapolis, Londres: University of Minnesota Press, 2003.
DUSSEL, E. “Europa, modernidade e eurocentrismo”. In: LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latinoamericanas., Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina: Colección Sur Sur, CLACSO, 2005.
FANON, F. Pele Negra Máscaras Brancas. Tradução de Renato da Silveira. – Salvador: EDUFBA, 2008.
FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. Aula Inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. 19.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
GILROY, P. O Atlântico Negro: Modernidade e dupla consciência. Trad. Cid Knipel
Moreira. São Paulo: Editora 34, 2001.
GONZÁLES, L. A categoria político-cultural de amefricanidade. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 92/93, jan./jun. 1988, pp. 69-82
GONZÁLEZ CASANOVA, P. Sociología de la Explotación. Siglo XXI, México, 1969.
GROSFOGUEL, R. Decolonizing post-colonial studies and paradigms of political economy: transmodernity, decolonial thinking and global coloniality. Transmodernity: Journal of Peripheral Cultural Production of the Luso-Hispanic World, 2011.
_____. Para Descolonizar os Estudos de Economia Política e os Estudos Pós-coloniais: transmodernidade, pensamento de fronteira e colonialidade global. In: SOUSA SANTOS, B. e MENESES, M. P. (orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Almedina, 2009.
GUILHERME, M.; SOUSA, L. M. T. M. Glocal languages and critical intercultural awareness: the south answers back. London/New York, Routledge, 2019
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
KHUBCHANDANI, L. (Org.) Language in a Plural Society. Shimla: Indian Institute of Advanced Study, 1988.
KHUBCHANDANI, L. Revisualizing Boundaries: A Plurilinguistic Ethos. New Delhi: Sage Publications, 1997.
KOPENAWA, D.; ALBERT, B. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2010.
LUGONES, M. Colonialidade e gênero. Tabula Rasa. Bogotá. nº 9: 73-101, jul-dez, 2008.
MIGNOLO, W. D. Epistemic disobedience and the decolonial option: a manifesto. Transmodernity: Journal of Peripheral Cultural Production of the Luso-Hispanic World 1, 2011, pp. 3-23.
MOURA, C. Os quilombos e a rebelião negra. São Paulo, Editora Brasiliense, 1984.
MUNANGA, K. Negritude: usos e sentidos. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012
QUIJANO, A. Coloniality of Power, Eurocentrism, and Latin America. Nepantla, vol. 1 (3): 533-580, 2000.
QUIJANO, A. Colonialidad y modernidad/racionalidade. Perú Indígena, Lima, v.12, n.29, p.11-20, 1992.
SANTOS, A. B. Colonização, Quilombo: modos e significados. Brasília: INCTI; UnB; INCT; CNPq; MCTI, 2015.
SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo: HUCITEC, 1993
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. Trad. Antônio Chelini, José Paulo Paes, Isidoro Blikstein. 25.ed. São Paulo: Cultrix, 1999.
SEGATO, R. Crítica da colonialidade em oito ensaios e uma antropologia por demanda. Trad. Danú Gontijo e Danielli Jatobá. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.
SOUSA SANTOS, B. The Epistemologies of the South. Boulder: Paradigm, 2014.
_____. Beyond abyssal thinking: From global lines to ecologies of knowledges. Review, 30, 1, 2007, pp. 45–89.
SPINOZA, B. Ethica/Ética. Edição bilíngue Latim-Português. Tradução e Notas de Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
VIVEIROS DE CASTRO, E. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2002.