Movimento feminista lésbico e negro e a desconstrução da hegemonia do conhecimento na universidade

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DOI:

10.31560/2595-3206.2021.15.12646

Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar argumentos que buscam favorecer reflexões e valorizar o movimento feminista lésbico e “Negro” na produção de conhecimentos dissidentes, não hegemônicos sobre gênero, sexualidade, entrelaçamentos de marcadores sociais da diferença, na universidade, considerando desafios da sensibilização pedagógica e acadêmica por professoras(es) na desconstrução de (pre)conceitos e superação das dicotomias gênero e sexo, rompendo com binômios tradicionais. Entendemos que o feminismo é um movimento que traz em sua trajetória, uma história de resistência e, a cada dia, surgem novas perspectivas quando se pensa em respeito aos direitos da mulher, igualdade de gênero, hierarquias e assimetrias reproduzidas pela sociedade. Nesse contexto, os estudos feministas lésbicos e Negros têm se multiplicado, diversificado e, cada vez mais, se legitimado como campo de conhecimento e discussão sobre problemáticas femininas na universidade. Mas, apesar de avanços, ainda há um longo caminho para reclamar o caráter hegemônico do conhecimento e sua desconstrução no ensino, pesquisa e formação. A universidade é uma instituição social, lugar de construção do conhecimento, formação de professoras (es) e alunas (os) e, nesse campo, se destaca como espaço de potencialidades e conflitos, mas também, apropriado para refletir sobre sensibilização, formação a respeito da diversidade e mostra seus desafios à transformação social, mas também, é reconhecida como espaço contraditório (CHAUI, 2003). Todavia, é igualmente nesse espaço que se tem produzido um relevante movimento de transformação social, marcado pela busca crescente de formação de professoras (es) e alunas (os) nas temáticas de gênero, sexualidade, raça/etnia dentre outras. Portanto, um lugar apropriado para buscar embasamento para estudar, entender, repensar epistemologias feministas, romper com o silêncio e buscar estratégias no combate às violências homofóbicas e heterossexistas. Nela, é possível ensinar pessoas, possibilitar a revisão de conceitos, empoderar e fortalecer movimentos de resistência contra discriminações, gêneros hegemônicos. Com apoio teórico de hooks (2019), Lorde (2019), Rich (2010), é possível observar diferentes formas de saberes e práticas docentes sobre essas questões e, por isso, é importante analisar discursos para evitar (pre) conceitos e o uso de categorias coloniais, autoritárias, patriarcais, racistas e heteronormativas historicamente naturalizadas (FRANÇA, PADILLA, 2013). Estes movimentos exigem reconhecimento não apenas da mulher como sujeito da história, mas produtora de ciência/conhecimento na perspectiva autônoma e crítica. Nos últimos anos, a literatura (MACIEL, 2018) sobre o tema tem demonstrado que docentes têm grande importância para a desconstrução de padrões eurocêntricos e heterossexuais presentes na universidade. Afinal, sua atuação docente, política e autônoma pode ser uma ferramenta importante para analisar, de forma crítica, marcadores sociais de opressão que existem em diversas esferas sociais, o que mostra a relevância do movimento feminista lésbico e Negro para a desnaturalização do privilégio epistêmico que inviabiliza conhecimentos que não são eurocentrados e hegemônicos. Por fim, esperamos contribuir com a literatura já existente sobre o tema, trazendo novas discussões sobre a atuação do professor na (des) construção de (pre) conceitos de gênero, a compreensão sobre opressões do corpo feminino, lésbico e negro e da necessidade de buscar estratégias para provocar mudanças de padrões acadêmicos hegemônicos por entrecruzamentos críticos e epistêmicos.

 

 

Biografia do Autor

Maria de Fátima de Andrade Ferreira, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Possui Pós-Doutorado em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Estudos Étnicos e Africanos, pelo Centro de Estudos Afro-Orientais, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal da Bahia (2019), Doutorado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (2003), Mestrado em Educação pela Universidade Federal da Bahia (1999). Graduação em Pedagogia pela Fundação Educacional Nordeste Mineiro (1987), graduação em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (1995). Professora Titular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB, do curso de Pedagogia (2001 aos dias atuais). Atuou como Docente Permanente e orientadora no Mestrado em Ciências Ambientais, Campus de Itapetinga -BA (2011-2017). Atualmente é Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ensino, PPGEN, Campus de Vitória da Conquista e do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Relações Étnicas e Contemporaneidade - PPGREC, Campus de Jequié, da UESB e do curso de Pós-Graduação Lato Sensu, Especialização em Relações Étnicoculturais e Diversidade. Coordena o Núcleo de Pesquisa e Extensão Gestão em Educação e Estudos Transdisciplinares (NUGEET) e a Rede de Pesquisa Representações, Discursos e Violência na Escola - olhar, pensar e agir sobre a formação de valores, atitudes e permanência do aluno na sala de aula (UESB/FAPESB), desde 2014 aos dias atuais. Linhas de atuação em pesquisa: Diversidade, Ética e Direitos Humanos; Responsabilidade Social, Diversidade e Meio Ambiente; Violência na Escola; Ensino, linguagens e diversidades; etnicidade, memória e representação; etnias, gênero e diversidade sexual. Estudos nas temáticas: relações étnico-raciais; Gênero e meio ambiente; responsabilidade social e violência na escola e social (urbana), Etnicidade, (Contra)mestiçagem, Relações afroindígenas.

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Publicado

2022-07-01

Como Citar

Coelho, M., & de Fátima de Andrade Ferreira, . M. . (2022). Movimento feminista lésbico e negro e a desconstrução da hegemonia do conhecimento na universidade. Revista Brasileira De Estudos Da Homocultura, 4(15), 110–137. https://doi.org/10.31560/2595-3206.2021.15.12646

Edição

Seção

Dossiê Temático Conexões entre identidade política, gênero e corpos racializados