A classe nos une e a sexualidade nos divide? A noção de sujeito no marxismo e nos movimentos queer
DOI:
10.31560/2595-3206.2020.10.10686Resumo
Uma parte do pensamento marxista brasileiro ainda permanece, no momento contemporâneo, desvalorizando o debate em todos das identidades e tratando-as como uma preocupação “meramente cultural” (como criticou Judith Butler) e como algo que atrapalharia a luta da classe trabalhadora. Do outro lado, temos movimentos sociais da diversidade sexual e de gênero que reivindicam reconhecimento identitário através de pautas como a da representatividade nos meios de comunicação, o que, em certo sentido, pode ser capturado pela lógica da individualização radical na qual o que importa é a afirmação pessoal da expressão do gênero e da sexualidade. Se o economicismo de uma parcela do marxismo já foi amplamente criticado e precisa de uma vez por todas ser superado, também é preciso encontrar saídas para que a pauta da diversidade sexual e de gênero seja sempre anticapitalista e contrária à captura neoliberal que reconhece as identidades mas não busca superar as desigualdades econômicas. No campo filosófico, temos ainda e aparentemente a noção de que o sujeito do marxismo seria inconciliável com o sujeito da teoria queer, esta que vem se firmando talvez como a principal teoria de sexualidade no Brasil contemporâneo. A intenção desse texto é refletir sobre esses paradoxos teóricos, éticos e políticos, buscando diálogos entre o pensamento marxiano original e o que experimentam os movimentos políticos da diversidade sexual e de gênero vinculados ao campo teórico e político queer, entendendo que o materialismo-histórico fala sobre a existência humana na sua totalidade e tendo o horizonte de uma sociedade amplamente livre, de superação de toda dominação e exploração humana.
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