A cena genérica como embreante paratópico: contribuições epistemológicas para a Análise do Discurso
Palavras-chave:
cena genérica, embreagem paratópica, cartas de autores consagrados.Resumo
Pretendo, neste artigo, apresentar os resultados alcançados em minha tese de doutorado. Analisei as cartas privadas trocadas entre Mário de Andrade (MA) e Carlos Drummond de Andrade (CDA) no período de 1924 e 1930. As hipóteses centrais da tese foram: i) as cartas privadas trocadas entre MA e CDA funcionam como um gênero do discurso (cena genérica) e não como um hipergênero, e além disso, ii) essas cartas privadas, enquanto uma cena genérica (um gênero do discurso), funcionam também como um embreante paratópico. Com base nessas hipóteses, meus objetivos foram: i) analisar como se dá o imbricamento das três instâncias constitutivas do funcionamento da autoria (a pessoa; o escritor; e o inscritor) nas cartas trocadas entre MA e CDA; ii) analisar a constituição da paratopia criadora de MA e de CDA na produção epistolar engendrada entre eles; e iii) analisar as cenografias construídas nas/pelas cartas privadas. Em relação à metodologia de pesquisa, assumi àquela da Análise do Discurso de linha francesa, além de assumir também que o imbricamento entre texto e contexto, ou melhor, entre discurso e condições de produção é radical. Os resultados da pesquisa foram: i) tais cartas privadas, enquanto uma prática discursiva engendrada por dois autores consagrados do campo literário brasileiro, funcionam como um gênero do discurso, por possuírem, além de outros fatores, restrições sócio-históricas fortes; e ii) tais cartas privadas, enquanto uma cena genérica (um gênero do discurso), também funcionam como um embreante paratópico.
Referências
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