Uma constelação de saberes
As cidades invisíveis, de Italo Calvino
Resumo
Neste artigo, procuro apontar alguns dos caminhos pelos quais o livro As cidades invisíveis, de Italo Calvino, publicado em 1972, continua a mobilizar leituras diversas. Para tanto, utilizo como operadores teórico-metodológicos três noções contemporâneas — complexidade, ecologia de saberes e inespecificidade — que possibilitam observar como o texto calviniano se constitui como uma constelação de saberes. Analiso, nesse processo, a estrutura rigorosa de construção do livro, as estratégias de classificação e ordenação que o norteiam, um dos diálogos entre as personagens Marco Polo e Kublai Khan e duas descrições de cidades feitas por Marco Polo, esses últimos tomados como exemplares para a reflexão sobre o conjunto da narrativa. Ao fim do percurso pelo atlas construído em As cidades invisíveis, concluo que longe de se esgotar, apesar de seus quase cinquenta anos, o livro é ainda prenhe de potencialidade, apresentando-se como fomentador da reflexão crítica sobre os saberes associados ao literário, em suas múltiplas perspectivas.
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