Estudos críticos das colonialidades.

2023-07-27
  Durante o século XX assistimos a organização e crescimento de diferentes movimentos sociais, políticos e artísticos compostos por intelectuais subalternizados que buscaram de diferentes formas não apenas refletir sobre as realidades coloniais, mas atuar sobre elas de forma a construir um mundo baseado na justiça social, econômica, cognitiva e de relações igualitárias entre os grupos e a sociedade. Portanto, muitas de suas reflexões envolveram questionamentos importantes da história e para o campo da história. Sem esquecer suas particularidades e diferenças e ainda que muitos não se identifiquem como pertencentes a estas correntes, esse conjunto de pensamentos e pensadores podem ser referenciados a partir do que chamamos hoje de estudos pós-coloniais, subalternos, decoloniais, contracoloniais e anticoloniais etc. Em atenção a nossa realidade latino-americana, chamamos atenção ainda para os estudos produzidos na década de 1990 por intelectuais latino-americanos situados em diversas universidades das Américas quando fundaram o Grupo Modernidade/Colonialidade. Este  coletivo defendia a radicalização do argumento pós-colonial no continente e propunha releituras dos processos históricos, sociais e econômicos a partir da noção de “Giro decolonial”.  Ao analisar as estruturas epistêmicas, teóricas e políticas de dominação dos países centrais (Europa Ocidental e Estados Unidos) sobre os povos do Sul Global, as pesquisas apontaram que, mesmo após o fim do período colonial, as ex-colônias ainda convivem com os efeitos da colonialidade na contemporaneidade. Os estudos decoloniais tem como alvo a crítica ao projeto Moderno/Colonial ocidental, patriarcal, colonial, capitalista e racista, que outorgou ao homem branco, cristão, heterossexual, os pressupostos  de uma racionalidade construída para dominar todos os não-brancos. Esse processo violento silenciou a história e saberes de grupos considerados sem conhecimento científico e subalternizados. As noções de colonialidade contaminaram as formas de produção, circulação e legitimação do conhecimento, desqualificando outros saberes e vozes críticas e reiterando os projetos imperiais/coloniais/patriarcais que regem o sistema-mundo moderno/colonial, caracterizado por Aníbal Quijano e Immanuel Wallerstein. A questão da geopolítica do conhecimento é um debate que tem se desenvolvido há décadas no campo das teorias sociais, contudo, apenas recentemente, tem ganhado corpo dentro do campo História. Atentos aos debates contemporâneos que tem tensionado o cânone historiográfico, este dossiê visa reunir artigos científicos e ensaios críticos ancorados nos pressupostos teórico-metodológicos pós-coloniais, subalternos, decoloniais, contracolonial, anticoloniais e das chamadas teorias ou epistemologias do sul. Diante dos caminhos abertos por esses diferentes intelectuais orgânicos do passado e do presente, este dossiê tem como proposta o aprofundamento desses questionamentos a partir de diferentes trabalhos também preocupados em tensionar o mundo em que vivemos marcado pelas diferentes permanências coloniais. Esperamos, assim, ampliar o alcance de reflexões críticas e fundamentadas que contribuam para o debate decolonial no Sul Global, produzidas do campo da história e suas interssecionalidades.   DATAS IMPORTANTES: Início do recebimento de submissões: 27/07/2023 Data final para recebimento de submissões: 03/09/2023 Lançamento da revista: Novembro de 2023