Neoliberalismo e a reprodução de práticas discursivas anti-cotas nos grupos historicamente discriminados: uma análise crítica.
DOI:
10.19093/res10559Keywords:
neoliberalismo, políticas públicas, sistema de cotas, ação afirmativa, think tanks.Abstract
Este trabalho relaciona o neoliberalismo, especificamente o conceito de neoliberalismo de baixo para cima desenvolvida por Gago (2018), às críticas ao sistema de cotas brasileiro direcionadas por indivíduos pertencentes a minorias étnicas e raciais, reforçando o enraizamento de ideias neoliberais nas camadas mais populares da sociedade. A possível atuação dos think tanks da direita brasileira pode justificar a padronização discursiva dos formadores de opinião, contribuindo para o enraizamento de tais ideias neoliberais. No Brasil, formadores de opinião oriundos de grupos minoritários e muitas vezes marginalizados, reforçam este conceito ao adotarem práticas discursivas neoliberais, como menor intervenção estatal e se posicionar contra o sistema de cotas, defendendo a meritocracia. O sistema de cotas enfrenta críticas dentro da própria universidade, também associadas à ideia de meritocracia. Desconstruindo tais argumentações, os conceitos de Estado mínimo e de livre mercado esbarram no fato de o ideal de mercado perfeitamente concorrencial estar longe da realidade, enfraquecendo a mão invisível do mercado. A questão meritocrática não é rechaçada pelas cotas, pois a concorrência por vagas permanece, embora sob um novo contexto. Considerando estudos que mostram o aumento da população negra nas universidades, o sistema de cotas cumpre, em última análise, o que se propõe a fazer: democratizar o acesso ao ensino superior.
References
ABREU, E. N. DO N. DE; LIMA, P. G. Políticas de ações afirmativas: itinerário histórico e pontuações quanto à realidade brasileira. Laplage em Revista, v. 4, p. 179–196, 2018.
ALMEIDA, F. M. DE S.; RODRIGUES, C. T. Avaliação da política de cotas na Universidade Federal de Viçosa. Planejamento e Políticas Públicas, 2019.
ANDRADE, C. Y. et al. Programa de formação interdisciplinar superior: um novo caminho para a educação superior. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 93, n. 235, p. 698–719, 2012.
AUAD, D.; CORDEIRO, A. L. A. A interseccionalidade nas políticas de ações afirmativas como medida de democratização da educação superior. EccoS – Revista Científica, n. 45, p. 191–207, 2018.
BAYMA, F. Reflexões sobre a Constitucionalidade das Cotas Raciais em Universidades Públicas no Brasil: Referências internacionais e os desafios pós-julgamento das cotas. Ensaio, v. 20, n. 75, p. 325–346, 2012.
BENTO, A. A. et al. Políticas de cotas raciais: conceitos e perspectivas. Ensaios Pedagógicos, p. 64–81, 2016.
BRASIL. Lei n. 12711, de 29 de agosto de 2012 - Ingresso nas UFS e IFS, 2012.
CONTINS, M.; SANT’ANA, L. C. O movimento negro e a questão da ação afirmativa. Estudos Feministas, p. 209–220, 1996.
DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaios sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo editorial, 2016.
DUMÉNIL, G.; LÉVY, D. Neoliberalismo: neo-imperialismo. Economia e Sociedade, v. 16, n. 1, p. 1–19, 2007.
DURHAM, E. R. Inequality in education and quotas for black students in universities. Novos Estudos - CEBRAP, v. 1, n. SE, p. 0–0, 2005.
FERES JÚNIOR, J. O combate à discriminação racial nos EUA: estudo histórico comparado da atuação dos três poderes. Sociedade em Estudos, n. 1994, 2007.
GAGO, V. A razão neoliberal: economias barrocas e pragmática popular. São Paulo: [s.n.].
LIMA, M. Desigualdades raciais e políticas públicas. Novos Estudos, 2010.
LIMA, M. E. O.; NEVES, P. S. DA C.; SILVA, P. B. A implantação de cotas na universidade: paternalismo e ameaça à posição dos grupos dominantes. Revista Brasileira de Educação, 2014.
MARQUES, E. P. DE S. O acesso à educação superior e o fortalecimento da identidade negra. Revista Brasileira de Educação, p. 1–23, 2018.
MESSENBERG, D. A direita que saiu do armário: a cosmovisão dos formadores de opinião dos manifestantes de direita brasileiros. Sociedade e Estado, v. 32, p. 573–591, 2017.
MINELLA, L. S. et al. Resisting the pressures of conservatism, despite everything. Revista Estudos Feministas, v. 28, n. 1, p. 1–6, 2020.
MOEHLECKE, S. Ação afirmativa: história e debates no Brasil. Cadernos de Pesquisa, v. 117, n. 117, p. 197–217, 2002.
MOEHLECKE, S. Ação afirmativa no ensino superior: entre a excelência e a justiça racial. Educação & Sociedade, v. 25, p. 757–776, 2004.
MOURA, M. R. S. DE; TAMBORIL, M. I. B. “Não é assim de graça !”: Lei de Cotas e o desafio da diferença. Psicologia Escolar e Educacional, v. 22, p. 593–601, 2018.
OLIVEN, A. C. Ações afirmativas, relações raciais e política de cotas nas universidades: Uma comparação entre os Estados Unidos e o Brasil. Educação, 2007.
OPIE, T.; ROBERTS, L. M. Do black lives really matter in the workplace? Restorative justice as a means to reclaim humanity. Equality, Diversity and Inclusion: An International Journal, 2017.
PERIA, M. Ação afirmativa: um estudo sobre a reserva de vagas para negros nas universidades públicas brasileiras. O caso do Estado do Rio de Janeiro. [s.l.] Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2004.
RODRIGUES, R. J. P. A evolução da política de cota de gênero na legislação eleitoral e partidária e a sub-representação feminina no parlamento brasileiro. Revista Eletrônica Direito e Política, v. 12, n. 1, p. 1–21, 2017.
SILVA SOARES, I. DA. Caminhos, pegadas e memórias: uma história social do movimento negro brasileiro. Universitas: Relações Internacionais, v. 14, n. 1, 2016.
STREECK, W. Tempo Comprado: A crise adiada do capitalismo democrático. Coimbra: Actual, 2013.
WAINER, J.; MELGUIZO, T. Inclusion policies in higher education: evaluation of student performance based on the Enade from 2012 to 2014. Educacao e Pesquisa, v. 44, n. 1, p. 1–15, 2018.
Published
How to Cite
Issue
Section
License
Authors who publish in this journal agree to the following terms:
- Authors maintain copyright and concede to the journal the right to first publish it, with the paper simultaneously licensed under Creative Commons Licence Attribution, which allows to share the work with acknowledgement of authorship and initial publication on this journal.
- Authors have authorization to take over additional contracts simultaneously, for non-exclusive distribution of the paper version published in this journal (ex.: to publish in institutional repository or as a book chapter), with authorship acknowledgement and initial publication on this magazine.
- Authors are allowed and are encouraged to publish and to distribute their work online (ex.: in institutional repositories or on their own personal page) at any point before or during the editorial process, since this may generate productive changes, as well as to increase the impact and the citation of the published work.