1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objeto de estudo as Ações Educativas desenvolvidas nos parques ecológicos na cidade de Maceió, Parque Municipal e Parque do Horto, com possível potencialidade para Alfabetização Científica do público visitante.

Diante disso, tem-se como hipótese que os parques ecológicos supracitados promovem e diversificam suas ações educativas considerando os diferentes tipos de público visitante, onde possivelmente se encontram indicadores de alfabetização científica. Assim, propor-se o seguinte problema: Quais as ações educativas desenvolvidas nos parques ecológicos que promovem, por meio da ferramenta teórico-metodológica, a alfabetização científica do público visitante? Esta pesquisa teve como objetivo investigar a aplicabilidade da ferramenta teórico-metodológica de indicadores de alfabetização científica para o estudo e a avaliação de ações educativas desenvolvidas pelos parques ecológicos na cidade de Maceió.

A pesquisa foi do tipo qualitativa, e a abordagem trata-se de um estudo de caso, a saber, o caso da equipe técnica do Parque Municipal e Parque do Horto em Maceió, que elaboram ações educativas para promoção da alfabetização científica. Para tal, utilizamos a Análise de Conteúdo, pois a técnica abrange diálogos e comunicação em massa ou em um grupo específico.

Os participantes da pesquisa foram dois estagiários, de turno diferente, a coordenadora e o diretor dessas instituições, que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e a carta de aceite, totalizando quatro participantes envolvidos na pesquisa. Como instrumentos de coleta de dados, utilizamos a entrevista, elaborada mediante um roteiro predefinido e um questionário com perguntas abertas; além disso, coletamos as seguintes fontes de evidência: documentos institucionais, registro em arquivos e artefatos físicos.

No estudo, realizamos um levantamento bibliográfico, na qual selecionamos onze trabalhos na área e alguns autores (MARANDINO et al, 2018; LORENZETTI, 2020). Em seguida, apresentamos a metodologia, análises e resultados das ações educativas e a aplicabilidade da ferramenta teórico-metodológica dos indicadores de alfabetização científica nas ações dos parques ecológicos visando avaliar a presença e ausência dos indicadores em cada ação para promoção da alfabetização científica. Por fim, as considerações apontando a presença e ausência dos indicadores e seus atributos nas duas ações educativas investigadas.

2. A FERRAMENTA TEÓRICO-METODOLÓGICA PARA O ESTUDO DAS AÇÕES EDUCATIVAS NOS PARQUES ECOLÓGICOS

Os Indicadores de Alfabetização Científica (IAC) são uma ferramenta teórico-metodológica que tem suas especificidades de análise para os espaços não formais de Educação. Kayano e Caldas (2002, p. 2) esclarecem: “Indicadores são instrumentos de verificação, observação, demonstração, avaliação, sendo uma forma de medir aspectos da realidade de acordo com um determinado ponto de vista.” Diante disso, os indicadores fornecerão, com precisão, informações sobre o meio ambiente, fenômeno ou outro aspecto por meio de uma avaliação de credibilidade.

A Figura 1 sintetiza a ferramenta teórico-metodológica dos Indicadores de Alfabetização Científica em educação não formal.

Figura 1
Indicadores de alfabetização científica para os espaços não formais de educação
Rocha (2018, p. 147).

A ferramenta de indicadores de alfabetização científica foi desenvolvida para analisar diferentes elementos, documentos, exposições, fotografias, mídias de educação não formal e comunicação, público visitante, ações educativas dentre outros. Esses indicadores e seus atributos constituem-se como categorias de análise das ações educativas desenvolvidas nos parques ecológicos na cidade de Maceió.

Passemos, então, à apresentação de indicadores e atributos.

1.Indicador Científico. A compreensão de conteúdos científicos é considerada elemento-chave no processo de alfabetização científica dos indivíduos (HURD, 1998; NORRIS; PHILLIPS, 2003; ROBERTS, 2007), devendo estar presente nas ações de educação não formal e comunicação pública da ciência que objetivam fomentar a AC. Desse modo, este indicador inclui a apresentação de aspectos inerentes ao conhecimento científico, como termos e conceitos, teorias, ideias e seus significados, fornecendo suporte e elementos para que o visitante construa seu conhecimento sobre assuntos científicos expostos (ROCHA, 2018).

O Atributo 1a – Conhecimentos e conceitos científicos, pesquisas científicas e seus resultados. O atributo inclui a aproximação a ideias, termos, conceitos (com explicitação ou não de seus significados) ligados a áreas específicas das Ciências da Natureza ligadas tanto às investigações científicas, quanto aos resultados globais do avanço do conhecimento e as pesquisas consolidadas e em andamento (MARQUES; MARANDINO, 2019).

O Atributo 1b – Processo de produção de conhecimento científico. Discute a aproximação e identificação de processos, métodos, procedimentos e instrumentos da ciência, como formulação de hipóteses, realização de testes, registros, observações, uso e aproximação a uma variedade de ferramentas simples para suas observações – lupas, microscópios instrumentos de medição simples, etc. O atributo compreende também a dinâmica interna da ciência e o seu caráter histórico, epistemológico e filosófico (MARQUES; MARANDINO, 2019).

O Atributo 1c – Papel do pesquisador no processo de produção do conhecimento. Nesse atributo, incluem-se a referência a pesquisadores envolvidos no processo de produção da ciência e o reconhecimento da ciência como produção humana empreendida por seres humanos de diferentes origens sociais, culturais, étnicas e de diferentes orientações sexuais, seja de forma individual ou em equipe (SCALFI et al., 2019).

2. Indicador Interface Social. Neste indicador avalia-se a potencialidade da ação de divulgação científica na promoção do entendimento do significado social da ciência e da relação entre Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA), bem como a influência da participação da sociedade diante da Ciência, Tecnologia e Inovação – CT&I (MARQUES; MARANDINO, 2019). O indicador incorpora os processos de engajamento público, ciência cidadã e popularização da ciência, envolvendo diversos atores, como o estado, empresas privadas, sociedade civil, mediadores e a comunidade científica em geral (PÉREZ BUSTOS; LOZANO BORDA, 2011).

O Atributo 2a, Impactos da ciência na sociedade – “Visa identificar, a conexão com o cotidiano e a resolução de problemas sociais; a influência da ciência nas questões sociais, promovendo assim uma percepção mais elaborada da ciência.” (SCALFI et al., 2019, p. 9). Atributo 2b, Influência e participação da sociedade diante da ciência – “Este atributo é identificado quando a ação potencializa a participação dos indivíduos, de forma individual e coletiva, nas decisões sobre ciência e a utilização dos resultados da ciência para engajamento, tomada de decisões e empoderamento.” (MARQUES; MARANDINO, 2019, p. 11).

O atributo 2c – Influência e Participação da sociedade diante da ciência – “Questões sobre a origem e o desenvolvimento da pesquisa a partir de demandas da sociedade; a efetiva participação dos indivíduos e/ou grupos nas decisões sobre ciência; e a utilização dos resultados da ciência para engajamento e empoderamento estão contemplados neste atributo”. (SCALFI et al., 2019, p. 10).

3. Indicador Institucional. Aborda a dimensão das instituições envolvidas com a produção, divulgação e o fomento da ciência, seu papel, missão e função social. Permite identificar quais são as instituições científicas, bem como os aspectos políticos, científicos e culturais relacionados com elas (CERATI, 2014; KRASILCHIK, 2009; MARANDINO, 2001).

O Atributo 3a – Instituições envolvidas na produção e divulgação da ciência, seu papel e sua missão– “Neste atributo, avalia-se a menção às instituições que estão envolvidas na produção e divulgação da ciência.” (SCALFI et al., 2019, p. 11).

O Atributo 3b – Instituições financiadoras, seu papel e sua missão - “Este atributo refere-se à promoção de instituições financiadoras, executoras e/ou colaboradores dos projetos, como órgãos governamentais e/ou privados envolvidos no fomento e na divulgação da ciência.” (SCALFI et al., 2019, p. 11). O Atributo 3c – Elementos políticos, históricos, culturais e sociais ligados à instituição – “O atributo considera os elementos políticos e sociais ligados à instituição, a contextualização da dimensão histórica da instituição e seu papel para o desenvolvimento científico e das pesquisas e/ou das coleções mantidas pelas instituições.”

4. Indicador interação. A literatura sobre AC destaca a relevância de se considerar as formas e a qualidade da interação e da participação do público nas diferentes experiências educacionais e de comunicação pública da ciência (ROCHA, 2018).

Além disso, discute os aspectos relativos à aprendizagem em processos de educação não formal e divulgação científica e, também, considera tanto a forma de interagir e usar o espaço/objeto à luz dos conhecimentos e experiências prévias, quanto à promoção de habilidades científicas e conversas de aprendizagem no processo de investigação (ALLEN, 2002).

O atributo 4a – Interação física, visa identificar a possibilidade de promoção de experiências físicas do público na operação ou no funcionamento de um objeto ou aparato científico, por exemplo: tocar, manipular, observar, cheirar, sentir, etc. (SCALFI et al., 2019). O atributo 4b Interação estético-afetiva. “Possibilidade de respostas pessoais com emoções (como prazer, raiva, alegria, nojo, choque, medo, tristeza etc.) e respostas incorporadas (como movimentos e gestos) em relação aos conhecimentos científicos e sua exposição.” (MARQUES; MARANDINO, 2019, p. 12). O atributo 4c – Interação cognitiva_ “Pode ser identificado quando processos cognitivos e habilidades relacionadas à aprendizagem, à investigação científica e à análise crítica são favorecidos por meio da interação do visitante com o objeto e o discurso expositivo.” (SCALFI et al., 2019, p. 12).

Neste estudo realizou-se um levantamento de obras, na qual subsidiaram o artigo, assim como autores que fizeram pesquisa relacionadas ao tema abordado. A pesquisa ocorreu no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) por meio do descritor: “indicadores de alfabetização científica” e espaços não formais” na opção “pesquisa”. A busca resultou em artigos que subsidiaram o estudo, na qual selecionamos algumas obras no período 2014-2020.

O Quadro 2 apresenta as obras selecionadas em que destacamos: ano de publicação, título do artigo, autores e revista.

Os dados apontaram que os estudos sobre os Indicadores de Alfabetização Científica para os espaços de Educação não formal ainda são poucos, visto que a ferramenta em estudo foi desenvolvida em 2014, porém possuem autores que são referências na temática.

3. METODOLOGIA

O estudo enquadra-se como pesquisa qualitativa que “[...] tem por objetivo expressar o sentido dos fenômenos do mundo social” (NEVES, 1996, p. 1). A pesquisa qualitativa possibilita ao pesquisador manter um contato mais próximo com o objeto de estudo e caracteriza-se como um estudo de caso (YIN, 2005). O estudo consiste nas ações educativas desenvolvidas nos parques ecológicos com o objetivo de investigar a aplicabilidade da ferramenta teórico-metodológica de indicadores de alfabetização científica para o estudo e a avaliação de ações educativas desenvolvidas pelos parques ecológicos na cidade de Maceió.

Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos para coleta de dados foram: registro fotográfico feito pelo pesqisador, entrevista e questionário para dois mediadores, diretor e coordenação in loco e documentos institucionais com o setor administrativo. A escolha por diferentes instrumentos de coleta de dados foi embassado nos estudos (YIN, 2005) que apontam a confiabilidade dos resultados ao utilizar diferentes fontes de evidência.

Análise de conteúdo

Para interpretação das informações levantadas, utilizamos a Análise de Conteúdo desenvolvida por Bardin (2011). Conforme a autora, essa técnica pode ser empregada para vários tipos de códigos linguísticos, icônicos ou semióticos, abrangendo diálogos e comunicações em massa ou em um único grupo. O método possibilita uma interpretação estruturada conforme as categorias, em que indicam a sistematização dos resultados das entrevistas.

Em nosso estudo, o corpus de análise inclui as transcrições das entrevistas e vídeo educativo do projeto o parque nas escolas. Nelas, foram realizadas 1) leituras flutuantes com o intuito de interagir com os documentos a serem analisados, conhecendo o contexto dos parques e suas ações educativas e, assim, deixando fluírem as primeiras ideias principais.

Cada ação educativa contempla os variados públicos visitantes, com isso cada proposta possibilita ao visitante vivenciar sua visão de mundo, por meio da sua interação com os objetos, pessoas, fauna e flora.

A etapa seguinte 2) unidades de análise, na qual selecionamos, nas transcrições das entrevistas, questionários e vídeo da ação educativa, trechos que tivessem relação direta com as ações educativas.

A terceira etapa consistiu-se do 3) processo de categorização, com categorias definidas previamente- os indicadores e atributos de AC, a qual apresentamos na Figura 1 – Indicadores de alfabetização científica para os espaços não formais de educação.

Diante disso, selecionamos trechos dos instrumentos de coleta de dados analisados e categorizamos em cada indicador e seus atributos, com isso destacando sua presença e ausência.

4. ANÁLISE E RESULTADOS: AÇÕES EDUCATIVAS

Temos o objetivo de analisar a presença e ausência de indicadores de alfabetização científica nas ações educativas desenvolvidas nos parques ecológicos na cidade de Maceió. Utilizamos os indicadores e atributos propostos por Rocha (2018), evidenciados nos documentos, vídeo, questionário e entrevistas com os mediadores, direção e coordenação desses espaços de educação não formal.

Os parques ecológicos em Maceió, Alagoas denominam-se Parque Municipal e Parque do Horto, e realizam suas ações educativas articuladas. No Parque Municipal, tem a inserção do museu de animais empalhados, onde realizam exposições fixas com animais taxidermizados, a saber: jacarés, bicho-preguiça, cobras e dentre outros. Assim como, trilhas, espécies vegetais e nascente de água em ambos os parques ecológicos.

4.1. O Projeto Planta Maceió

O Projeto Planta Maceió, lançado em 2017, foi idealizado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável (Semds), com o objetivo de proporcionar educação ambiental e orientação à população nos bairros da capital Maceió, Alagoas, onde realizam entrega de mil mudas e os técnicos da Semds orientam sobre o plantio das espécies vegetais, indicam o local apropriado para evitar danos hidráulicos e elétricos.

O indicador científico compreende aspectos sobre a natureza da ciência, possibilitando ao público, de modo geral, construir seu conhecimento sobre assuntos científicos expostos. O indicador científico tem três atributos: “1a. Conhecimento e conceitos científicos, pesquisas científicas e seus resultados; 1b. Processo de produção de conhecimento científico. 1c Papel do pesquisador no processo de produção do conhecimento.’’ (ROCHA, 2018, p. 7, grifo do autor). No Quadro 1, destacamos a presença e ausência de cada indicador e atributo analisado.

Dentre esses atributos do indicador científico, observamos a presença do 1a. Conhecimento e conceitos científicos, pesquisas científicas e seus resultados, visto que a ação de plantar envolve conhecimento e conceitos científicos.

No Panfleto Planta Maceió, verificamos textos e imagens com menção a conteúdos sobre as espécies nativas ou exóticas, plantar e conceitos científicos apresentados no material impresso. Entre eles, destacamos as espécies nativas indicadas para plantar em Maceió, com seu nome científico no panfleto, como as espécies das Palmeiras: Ouricuri (Syagrus Coronala (Mart.); Becc) Denzezeiro (Elaeis Guineensis Jacq.); Coqueiro (Cocos Nucifera L.); Palmeira-Rabo-de-Peixe (Caryota Urens L.); Palmeira Real (Roystonia Oleracea), dentre outras espécies de árvores, em que são especificados o porte, a altura, o raio da copa e recomendações de plantio na região. Desse modo possibilita o acesso à população – sobretudo a população participante do projeto –, o conhecimento de termos, conceitos e as ideias científicas.

O indicador 1.b Processo de produção de conhecimento científico verifica-se no projeto nas ações educativas realizadas nos bairros. A ocorrência do atributo identificou-se pela presença de objetos que remetem à produção da ciência. Por exemplo: mudas nativas de Mata Atlântica, plantas ornamentais, pá para abrir a cova para plantar, uso de esterco e adubo, uso de estaca para a planta crescer reta e firme, e irrigador. Esses conhecimentos sobre plantio potencializam a alfabetização científica da população e contempla o ensino de Ciências na realização dessa ação educativa realizadas nos bairros de Maceió, uma vez que a educação ambiental é uma temática que está inserida nos debates nacional e internacional. No Quadro 2, destacamos a presença e ausência de cada indicador e atributo analisado.

Dentre esses atributos do indicador interface social, identificamos a presença do atributo 2.a Impactos da ciência na sociedade no panfleto, composto por imagens e textos que demonstram as etapas de plantar uma árvore, a saber: escolha o local adequado, abra a cova para plantar, plante a muda, preencha a cova, proteja a muda, regue e cuide. O projeto realiza-se desde 2017 nos bairros maceioenses e evidenciam a presença desse atributo; podem aproximar a população das relações da ciência e da tecnologia e seu cotidiano, visto que o plantio das mudas proporciona menos poluição, menos calor e bem-estar; consequentemente, qualidade de vida, sendo essas algumas das contribuições do projeto para a população, assim como promover reflexão sobre o impacto da ciência na sociedade.

O indicador 2.b, Influência da economia e política na ciência, está ausente no Projeto Planta Maceió por meio do material informativo, porém se apresentam poucas produções de estudo desse atributo.

O atributo 2.c, Influência e participação da sociedade na ciência, manifesta-se nas ações do Planta Maceió, sendo acompanhado por técnicos do Núcleo de Monitoramento Arbóreo (Numa) da Semds, para evitar o plantio em local inadequado e garantir a participação da população contemplada com a ação no seu bairro. Além disso, o atributo inclui a identificação da legitimidade de outras formas de conhecimento e a valorização dos saberes locais. No Quadro 3, destacamos cada indicador e atributo analisado.

Dentre esses atributos do indicador científico, observamos no atributo 3.a, Instituições envolvidas na produção e divulgação da ciência, seu papel e sua missão, presente no panfleto e no projeto; a identificação do compromisso da instituição, que realiza ações de divulgação científica, a exemplo de materiais, oficinas e visitas monitoradas, como é o caso desse projeto.

As instituições participantes com caráter formativo nas ações são Superintendência de Limpeza Urbana (Slum), que ministra oficinas de educação ambiental à comunidade, e a Superintendência Municipal de Desenvolvimento Sustentável (Sudes), que ministra palavras e exposição nos parques ecológicos e nos bairros de Maceió.

O atributo 3.b – Instituições financiadoras, seu papel e sua missão, é financiado pela Prefeitura de Maceió, na qual sua logomarca consta no panfleto do Planta Maceió, tendo a missão de levar a Educação ambiental a população, por meio de órgãos específicos. O atributo 3c – Elementos políticos, históricos, culturais e sociais ligados à instituição, não identificamos no Projeto Planta Maceió. No Quadro 4, destacamos a presença e ausência de cada indicador e atributo analisado.

Dentre esses atributos do indicador científico, observamos o atributo 4.a Interação física. No Projeto Planta Maceió, houve a presença desse atributo nas ações desenvolvidas nos bairros, por meio desse projeto itinerante, contando com a participação da população na arborização da cidade.

Não identificamos os atributos 4.b Interação estético-afetiva e 4.c Interação cognitiva, visto que não tivemos contato com o público nem houve relato das suas emoções nessa ação educativa.

4.2. O Projeto Parque nas Escolas

O Projeto Parque nas Escolas foi lançado em 2021, em parceria com escolas da Rede Municipal de Educação de Maceió, Alagoas, onde realizam exposições de animais empalhados para o público visitante no Parque Municipal, mediante agendamento nas instituições escolares. A exposição é fixa no museu e itinerante com ação educativa nos bairros e in loco nas escolas públicas.

O Projeto Parque nas Escolas apresenta potencial no processo de alfabetização científica porque leva saberes científicos e pode despertar a curiosidade das crianças e o incentivo ao questionamento. Além disso, oportuniza às crianças das escolas públicas o acesso ao conhecimento científico, por isso consideramos a presença do indicador interação social porque envolve a comunidade escolar na construção do conhecimento científico.

Em suma, o indicador científico compreende aspectos sobre a natureza da ciência, possibilitando ao público, de modo geral, construir seu conhecimento sobre assuntos científicos expostos. O indicador científico tem três atributos: “1a. Conhecimento e conceitos científicos, pesquisas científicas e seus resultados; 1b. Processo de produção de conhecimento científico; 1c Papel do pesquisador no processo de produção do conhecimento.’’ (ROCHA, 2018, p. 7).No Quadro 5, destacamos a presença e ausência para cada indicador e atributo analisado.

Dentre esses atributos do indicador científico, observamos a presença do 1a. Conhecimento e conceitos científicos, pesquisas científicas e seus resultados. O museu biológico de animais empalhados inserido no Parque Municipal apresenta aparatos físicos – como tronco de árvores nativas, animais taxidermizados, placas, banner nas paredes dos trabalhos apresentados em evento pela equipe sobre a flora e fauna, que potencializam a aproximação do público com conteúdos, termos, conceitos e representações científicas.

Entre eles, destacamos as espécies animais presentes no museu biológico, animais empalhados em Maceió, Alagoas, com o nome científico nas placas – como as espécies do Gavião Carijó (Rupornis magnirostris), Tamanduá mirim (Tamandua tetradactyla) e jacaré-de-papo-amarelo (Caiman Latirostris) dentre outras espécies. Isso aproxima o público escolar e a população do conhecimento de termos, conceitos e as ideias científicas.

Na exposição do museu biológico de animais empalhados, a mediadora 1 apresentou o seguinte relato:

Posso falar sobre o uso do veneno da jararaca para fabricação de um remédio para hipertensão muito conhecido entre eles, o Captopril. Ao dar essa informação a eles, posso ver o susto que tomam, mas, ao mesmo tempo, entendem que até uma serpente tem uma importância nos nossos dias. (Mediadora 1).

Este relato elucida o conhecimento e os conceitos científicos presentes na fala da mediadora com o público visitante e pode ser apresentado, por meio da exposição dos animais taxidermizados do museu com a exposição de serpentes.

No atributo 1.b, Processo de produção de conhecimento científico, identificamos que, nas exposições analisadas, há diferentes objetos que remetem à produção da ciência: tronco de árvores; suporte de madeira para fixar as espécies de aves, ou mamíferos de pequeno porte, taxidermizadas. Na entrevista, a mediadora 1 destaca o processo da taxidermização quando relata as etapas:

Quando morre naturalmente algum bicho no parque, nós recolhemos o animal, congelamos por um tempo, e após esse processo de refrigeração, dependendo do bicho, tiramos o máximo de vísceras (órgãos) e músculos, pois com o tempo, ele se deteriora e exala mau cheiro. Nas partes onde é inviável tirar músculo, injetamos formol; após limpar por dentro o animal, enchemos com algum substrato, geralmente espuma de colchão, preenchemos o animal por dentro e fechamos com fio de sutura. Finalizamos o animal de modo que ele fique o mais natural possível, Se for réptil, por exemplo, usamos verniz para conservar o couro, se for mamífero ou ave, usamos óleo. Depois de uns 10 dias, para que o odor saia, o animal fica pronto para exposição. (Mediadora, 1).

O mediador 2 complementa: “Também fazemos eventos educativos para as crianças com e sem deficiência: os Educa Parque, Parque nas Escolas, entre outros. Temos também um projeto que incentiva a leitura, o Livros Livres. Além de ser um ambiente preservado, o parque municipal é educativo.”

Nesses relatos utilizam o conhecimento científico para o público escolar participante da ação na escola, visitantes dos parques ou moradores dos bairros contemplados nas ações educativas. Assim, vimos o potencial da alfabetização científica expresso pela mediadora, em que detalha as etapas do processo de taxidermização, que se trata do ensino de Ciências.

O atributo 1.c,Papel do pesquisador no processo de produção do conhecimento, é identificado nas exposições quando o público conhece alguns cientistas. Na exposição do museu biológico de animais empalhados, esse atributo aparece quando os estagiários, a direção e a coordenação do parque com formação em Medicina Veterinária se apresentam para as crianças das escolas inscritas no projeto. “Logo após, nós nos apresentamos, falamos um pouco sobre o parque, sobre o que é o projeto, e falamos de cada animal e da sua importância para o meio ambiente.” (Mediadora 1).

Diante disso, identificamos no trecho da entrevista a relevância deste trabalho: “Já vivi momentos no parque em que, ao terminar uma fala, as crianças logo após disseram: ‘Tia, vou falar pra minha mãe nunca mais matar cobra’ ou algo do tipo ‘quando eu crescer, quero trabalhar com isso.” (Mediadora 1).

Desse modo, vimos que as crianças têm contato com profissionais e com o conhecimento científico como partícipe do processo da alfabetização científica. No Quadro 6, destacamos a presença e ausência para cada indicador e atributo analisado.

No atributo 2.a, Impactos da ciência na sociedade, percebemos a presença desse atributo quando são ministrados assuntos que afetam a sociedade em geral como a educação ambiental, temática que os parques ecológicos discutem por meio das ações educativas, levando as exposições para a sociedade. Destacamos o relato do mediador 2: “Educação ambiental em visita de diversas escolas ao parque. Além do Projeto Parque nas Escolas, que leva conhecimento para crianças do ensino público de Maceió, sobre a importância do meio ambiente”.

A ação desenvolvida pelos mediadores, portanto, discute uma temática de alcance nacional e internacional; consequentemente, faz parte dos debates na sociedade. O atributo 2.b, Influência da economia e política na ciência, foi identificado na entrevista na fala da mediadora 1 ao relatar: “Então, as taxidermias são feitas pelos estagiários e de forma mais simples possível, já que não temos estrutura adequada.” Esse relato suscita discussões sobre fatores políticos e econômicos que influenciam as pesquisas no financiamento da ciência.

Atributo, 2.c, Influência e participação da sociedade na ciência. No museu biológico de animais empalhados, considerou-se que a área do Parque Municipal contempla o atributo, visto que identificamos na entrevista com a mediadora 1 sobre a seguinte ação educativa: VetKids, “veterinários por um dia”, em que as crianças podiam ser veterinárias por um dia e aprender cuidados básicos com a fauna silvestre. Nessa ação a criança tem a possibilidade de fazer escolhas relacionadas com a fauna no brincar de faz de conta, o que remete à participação social e ao processo de tomada de decisão. No Quadro 7, destacamos a presença e ausência para cada indicador e atributo analisado.

Dentre esses atributos do indicador institucional, observamos o atributo 3a,Instituições envolvidas na produção e divulgação da ciência, seu papel e missão, presente nas ações educativas relacionadas com a Educação Ambiental promovida pelos órgãos da Prefeitura de Maceió, tais como: Superintendência Municipal de Desenvolvimento Sustentável, que compõe a equipe técnica dos parques, e a Superintendências de Limpeza Urbana, que realiza ações educativas pela cidade e nos parques ecológicos. O atributo 3.b,Instituições financiadoras, seu papel e missão, é financiado pela Prefeitura de Maceió, tendo a missão de levar a Educação Ambiental à população por meio de órgãos específicos. O atributo 3.c, Elementos políticos, históricos, culturais e sociais ligados à instituição, não identificamos, assim, esse atributo é ausente. No Quadro 8, destacamos a presença e ausência de cada indicador e atributo analisado.

Dentre esses atributos do indicador científico, observamos o atributo 4.a – Interação física (Figura 8). A presença desse atributo é evidenciada na entrevista com os mediadores ao explicar a possibilidade das interações nas ações educativas.

5. CONSIDERAÇÕES

Por fim, a aplicação da ferramenta teórico-metodológica de Indicadores de AC se mostra satisfatória para as ações educativas nos parques ecológicos e no museu de animais empalhados em um dos espaços de Educação não formal em duas situações. Para a equipe dos parques ecológicos, por meio da disponibilização do estudo à instituição, na qual o uso dessa ferramenta possibilita o aperfeiçoamento da experiência com o público nas ações educativas desenvolvidas.

Por meio das entrevistas, documentos e fotografias, os dados evidenciaram que o Projeto Parque nas Escolas apresentou todos indicadores: 1. Indicador científico; 2. Indicador interface socia; 3. Indicador institucional;4. Indicador de interação.

Além disso, observou-se a presença de todos os atributos nessa ação educativa, embora sendo pouco aprofundados os atributos do 3. Indicador institucional, visto que também é uma lacuna encontrada nos estudos bibliográficos levantados em nossa pesquisa.

Portanto, os dados evidenciaram que os parques ecológicos na cidade de Maceió-AL estão contribuindo para o processo de alfabetização científica do público escolar municipal na ação educativa o Parque nas Escolas inscritas no projeto via solicitação das escolas. No entanto, vimos lacunas, sobretudo do 3. Indicador institucional, onde se observou nas entrevistas pouco detalhamento do financiamento sendo apontada, brevemente, a carência de recursos e as implicações nas ações, principalmente no processo de taxidermização dos animais, sendo realizado com restrição de materiais.

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