“Eu posso terminar alguma frase...?”A opressão de gênero na condução de uma entrevista televisiva

Autores

Palavras-chave:

interação conversacional, conversação, turnos de fala, entrevista

Resumo

Neste trabalho, a partir das concepções da Linguística Interacional, tem-se por objetivo ampliar a compreensão do fenômeno da opressão social de gênero marcada na interação por meio de estratégias discursivas de gerenciamento de turnos e tópicos na conversação. Dessa forma, o tema deste artigo é a gestão de turnos e tópicos conversacionais como estratégia interacional de opressão social de gênero em uma entrevista televisiva. Como percurso metodológico, são analisados dois fatores importantes da interação conversacional: a maneira por meio da qual os interlocutores gerem a alternância dos turnos de fala e a forma como é manipulada a escolha e a manutenção do tópico discursivo, o que envolve fatores linguísticos e paralinguísticos. Os interlocutores envolvidos na interação em questão vivenciam determinadas particularidades na condução da conversação, as quais privilegiam a manifestação discursiva masculina em detrimento da manifestação feminina, mesmo sendo esta advinda da entrevistada convidada ao programa. É possível concluir com a análise que há relações de poder totalitário e homogeneizante atribuídas socialmente ao homem sobre a figura feminina e que essas relações, abusivas, são projetadas na condução da conversação que caracteriza a entrevista, o que configura um uso da língua em interação de caráter opressor em relação ao gênero feminino e envolve uma atitude de resistência da mulher na simples apropriação e condução da palavra em interação.

Biografia do Autor

Marlete Sandra Diedrich, Universidade de Passo Fundo

Professora do curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo

João Ricardo Fagundes dos Santos, Universidade de Passo Fundo

Mestre em Letras - Bolsista Capes, Professor de Língua Portuguesa e Redação.

Referências

BENTES, A. LEITE, M. (Orgs.). Linguística de texto e análise da conversação: panorama das pesquisas no Brasil. São Paulo: Cortez, 2010.

BROWN, G. YULE, G. Discourse analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 1983.

FÁVERO, L. L. O tópico discursivo. In: PRETI, D. (Org.). Análise de textos orais. 5. ed. São Paulo, 2001, p. 33-54.

FÁVERO, L. L. et al. Interação em diferentes contextos. In: BENTES, A. C.; LEITE, M. Q.(Org.). Linguística de texto e análise da conversação: panorama das pesquisas no Brasil. São Paulo: Cortez, 2010, p. 91-158.

FÁVERO, L. L.; ANDRADE, M. L. C. V. O. Os processos de representação da imagem pública nas entrevistas. In: PRETI, D. (Org.) Estudos de língua falada: variações e confrontos. São Paulo: Humanitas, 1998, p. 153-177.

GALEMBECK, P. T. O turno conversacional. In: PRETI, D. (Org.). Análise de textos orais. 5. ed. São Paulo, 2001, p. 65-92.

KERBRAT­ORECCHIONI, C. Análise da conversação: princípios e métodos. Tradução Carlos Felix Piovezani Filho. São Paulo: Parábola, 2006.

LAKOFF, R. Language and woman’s place. New York: Harper & Row, 1975.

MARCUSCHI, L. Análise da Conversação. São Paulo: 5. ed. Ática, 2003.

OSTERMANN, A. C. Communities of Practice at Work: Gender, Facework and the Power of Habitus at an All-Female Police Station and a Feminist Crisis Intervention Center in Brazil. Discourse & Society, v 14, n. 4, p. 473–505, 2003.

OSTERMANN, A. C. FONTANA, B. (Orgs.). Linguagem, gênero, sexualidade. Clássicos traduzidos. São Paulo: Parábola, 2010.

RODA VIVA. Roda Viva | Manuela D'Ávila | 25/06/2018. 2018. (01h20m06s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GYBfJS-NMTI>. Acesso em: 30 dez. 2019.

SACKS, H., SCHEGLOFF, E. JEFFERSON, G. A Simplest Systematics for the Organization of Turn Taking for Conversation. Language, v. 50, n. 4, p. 696-735, 1974.

TANNEN, D. [1990]. “Quem está interrompendo? Questões de dominação e controle”. Trad. de Débora de Carvalho Figueiredo. In: OSTERMANN, A. C. FONTANA, B. (Orgs). Linguagem, gênero e sexualidade. Clássicos traduzidos. São Paulo: Parábola, 2010, p. 67-92.

Publicado

2020-09-22

Como Citar

DIEDRICH, M. S.; FAGUNDES DOS SANTOS, J. R. “Eu posso terminar alguma frase...?”A opressão de gênero na condução de uma entrevista televisiva. Polifonia, [S. l.], v. 27, n. 46, 2020. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/view/9561. Acesso em: 20 abr. 2024.