A missão de José de Alencar cronista: a formação de leitores e o papel da oralidade
Palavras-chave:
José de Alencar, crônica, formação de leitor.Resumo
Este artigo tem como tema a contribuição das crônicas de José de Alencar para a formação de um público leitor em nosso Romantismo. Temos como objetivos caracterizar o gênero crônica, abordando sua gênese no Brasil oitocentista, contribuir para a divulgação do escritor José de Alencar como cronista e analisar, como principal estratégia discursiva, o uso da oralidade nas crônicas alencarianas. Neste trabalho, esse uso é entendido como a presença de um discurso escrito que se aproxima da língua falada não apenas pelo uso do coloquial, mas também pelas conversas com o leitor e pelos assuntos contados em ziguezague. Analisamos algumas crônicas da série Ao correr da pena, publicada no Correio Mercantil e no Diário do Rio de Janeiro, de 3 de setembro de 1854 a 25 de novembro de 1855. Dentre o corpus analisado, encontram-se crônicas inéditas, ainda não publicadas em livro, transcritas diretamente de seu suporte original: o jornal Correio mercantil. Ao iniciar sua carreira de escritor como cronista, Alencar contribuiu para a definição de hábitos e costumes da sociedade carioca oitocentista, dentre eles o hábito de leitura, garantindo público para seus futuros romances. O gênero crônica, desde então, partindo de assuntos cotidianos e misturando ficção e informação, em um discurso marcado pela oralidade, vem se consagrando como gênero cúmplice do processo de formação de leitores.
Referências
ALENCAR, José de. Ao correr da pena. São Paulo: Melhoramentos, 1956.
ALENCAR, José de. Como e porque sou romancista. Campinas, São Paulo: Pontes, 1990.
CANDIDO, Antonio et al. A Crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas, SP: Editora da UNICAMP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira (Momentos decisivos). 7ª ed., Belo Horizonte–Rio de Janeiro: Itatiaia, 1993, vol. II.
COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil, 2ª ed., Rio de Janeiro: Editorial Sul Americana, 1971, vol 6.
COUTINHO, Afrânio. Conceito de literatura brasileira. Petrópolis: Vozes, 1981.
Correio Mercantil. Instituto Histórico Geográfico Brasileiro (IHGB), pasta Correio Mercantil 1854 e 1855.
DIAS, Tânia. Descaminhos da comunicação: a imprensa e a formação do público leitor no Brasil. 1998. 268f. Tese (Doutorado em Literatura Comparada) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1998.
FARIA, João Roberto (Prefácio). In ALENCAR, José de. Ao correr da pena. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1996.
LAUSBERG, Heinrich. Elementos da Retórica literária, 4ª ed., trad. R. M. Rosado Fernandes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.
LIMA, Luiz Costa. Dispersa demanda. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981.
MEYER, Marlyse. Voláteis e Versáteis. De variedades e folhetins se fez a chronica. In CANDIDO, Antonio et al. A Crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas, SP: Editora da UNICAMP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.
MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides: breve história da literatura brasileira I. 3ª ed., Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.
RENAN, Ernest. Nacionalidade em questão in ROUANET, Maria Helena (Org.) Cadernos da Pós/Letras nº 19. Rio de Janeiro: UERJ, 1997.
ROCHA, João Cezar de Castro. Literatura e cordialidade: o público e o privado na cultura brasileira. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998.
SOUZA, Roberto Acízelo de. O império da eloquência: retórica e poética no Brasil oitocentista. Rio de Janeiro: EdUERJ/EdUFF, 1999.