Apresentação
Resumo
O número 24 da Revista Polifonia traz o Dossiê Literatura e Psicanálise, e uma parte diversificada que estuda a Literatura em outros domínios.
O Dossiê está composto por uma série de cinco artigos que abordam os processos de constituição do sujeito e da subjetividade (em termos foucaultianos, os processos de subjetivação) por meio da escrita e da leitura. No que concerne às relações entre a criação literária e o pensamento psicanalítico, as noções de memória, lembrança e recordação são sempre convocadas. Olivier Bara, no seu artigo sobre Histoire de ma vie, a autobiografia de George Sand, observa que a narrativa da infância da romancista do século XIX se organiza no decorrer das lembranças mais arcaicas, reconstituídas pela memória e interpretadas pela escritura. Embora não seja o propósito do autor discutir a constituição do sujeito a partir da psicanálise, o mesmo faz referência à ideia freudiana de “lembranças encobridoras” (souvenir-écran) a ser comparada a um certo “estado intermediário onde a intuição de uma coerência absoluta do mundo já é perceptível sem ser, portanto, racionalizada”. Em toda sua análise, Bara evidencia que a narrativa das primeiras experiências infantis está marcada pela poderosa subjetividade reivindicada pelo texto literário. Ademais, o autor entende que a autobiografia de George Sand nos mostra a maneira pela qual um eu se descobre, afirma-se e se constrói em literatura, numa identidade reivindicada e demonstrada graças às lembranças (“encobridoras”) infantis.