Reterritorializar, desterritorializar: Quarenta Dias, de Maria Valéria Rezende
Palavras-chave:
Quarenta dias, Maria Valéria Rezende, desterritorialização, reterritorialização.Resumo
Tendo em vista que o sujeito contemporâneo é em si fragmentado, múltiplo e heterogêneo, podemos evidenciar que os ideais da diferença e que abarcam a multiplicidade, a partir da filosofia deleuze-guattariana, se configuram enquanto elementos essenciais para uma compreensão acerca da construção do outro em um contexto de alteridade e indispensável atenção às relações dialógicas e interculturais. Assim, a literatura brasileira contemporânea, para além de um processo de representação, evidencia um conjunto de questões tanto de ordem coletiva quanto de cunho individual, ao passo que a problemática entre identidade e singularidade se acentua, observando que os grupos historicamente subalternizados tendem a lutar pela desestabilização ou horizontalização da homogeneidade que os reduz à figura do autêntico, quando, na realidade, dentro destes grupos há uma gama de singularidades. A partir dessas questões, neste artigo nos propomos a discutir, a partir do romance Quarenta dias (2014), de Maria Valéria Rezende, a força que a maternidade como identidade apriorística exerce sob Alice, a personagem protagonista, e os engendramentos por ela empreendidos a fim de desestabilizar tais condicionamentos de natureza sócio histórica atribuídos à figura da mulher de meia idade, evidenciando a desterritorialização e reterritorialização enquanto linhas de fuga e movimentos indispensáveis para o processo de construção de subjetividades.
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