Ponto de vista e responsabilidade enunciativa na Resposta à acusação de Lula

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Resumo

Para este artigo, objetivamos descrever, analisar e interpretar a responsabilidade enunciativa e a visada argumentativa na Resposta à acusação produzida pelos advogados do ex-presidente Lula a partir da identificação dos pontos de vista revelados pelas instâncias enunciativas presentes no texto. A ancoragem teórica situa-se na abordagem da Análise Textual dos Discursos (ATD), enfoque desenvolvido por Adam (2011), objetivando analisar a produção co(n)textual de sentido, fundamentada na análise de textos concretos. No que se refere ao ponto de vista e à responsabilidade enunciativa, acompanhamos os estudos de Rabatel (2016) e Guentchéva (1994, 2011). Os dados apontam para a predominância de ponto de vista assertado, evocando, assim, assunção da responsabilidade enunciativa pelo locutor enunciador primeiro (L1/E1). No que concerne ao não engajamento pelo dito, observamos quadro de mediatividade nas ocasiões em que L1/E1 apresentava ensinamentos do legislador, visando, assim, legitimar sua tese de defesa, conferindo-lhe credibilidade. Por fim, as estratégias linguísticas utilizadas por L1/E1 sugerem que o leitor da peça jurídica analisada (a Resposta à acusação) não se trata do juiz de direito, e, sim, do eleitor brasileiro.

Biografia do Autor

Célia Maria de Medeiros, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Letras - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA, com atuação na área de Língua Portuguesa/Leitura e Produção de Texto. Desenvolve pesquisas no âmbito da Linguística de Texto, da Enunciação, da Análise Textual dos Discursos (ATD), interessando-se, principalmente, por gêneros discursivos / textuais acadêmicos, jurídicos e midiáticos, focalizando dispositivos enunciativos como o Ponto de Vista, a Responsabilidade Enunciativa e a Mediatividade.

Marília Varela Soares de Góis, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Graduada em Direito da Universidade Potiguar (UNP) e graduanda em Letras Língua Espanhola da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Natal-RN

Referências

ADAM, J-M. A Linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. Tradução Maria das Graças Soares Rodrigues, João Gomes da Silva Neto, Luis Passeggi e Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin. 2. ed. rev. e aum. São Paulo: Cortez, 2011.

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GUENTCHÉVA, Z. Manifestations de la catégorie du médiatif dans lês temps du français. Langue Française, Paris, v. 102, n. 1, 1994, p. 8-23. Disponível em: http://www.persee.fr/doc/lfr_0023-8368_1994_num_102_1_5711. Acesso em: 18 dez. 2019.

GUENTCHÉVA, Z. L’ opération de prise em charge et la notion de médiativité. In: DENDALE, Patrick; COLTIER, Danielle (Dirs). La prise en charge énonciative: éthudes théoriques e empiriques. Bruxelles: De Boeck/ Duculot, 2011, p. 117-142.

RABATEL, A. Homo Narrans: por uma abordagem enunciativa e interacionista da narrativa – pontos de vista e lógica da narração- teoria e análise. Tradução Maria das Graças Soares Rodrigues, Luis Passeggi, João Gomes da Silva Neto. São Paulo: Cortez, 2016. v.1.

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Publicado

2022-10-10

Como Citar

MEDEIROS, C. M. de; GÓIS, M. V. S. de. Ponto de vista e responsabilidade enunciativa na Resposta à acusação de Lula. Polifonia, [S. l.], v. 27, n. 49, 2022. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/view/10528. Acesso em: 5 nov. 2024.