Ponto de vista e responsabilidade enunciativa na Resposta à acusação de Lula
Resumo
Para este artigo, objetivamos descrever, analisar e interpretar a responsabilidade enunciativa e a visada argumentativa na Resposta à acusação produzida pelos advogados do ex-presidente Lula a partir da identificação dos pontos de vista revelados pelas instâncias enunciativas presentes no texto. A ancoragem teórica situa-se na abordagem da Análise Textual dos Discursos (ATD), enfoque desenvolvido por Adam (2011), objetivando analisar a produção co(n)textual de sentido, fundamentada na análise de textos concretos. No que se refere ao ponto de vista e à responsabilidade enunciativa, acompanhamos os estudos de Rabatel (2016) e Guentchéva (1994, 2011). Os dados apontam para a predominância de ponto de vista assertado, evocando, assim, assunção da responsabilidade enunciativa pelo locutor enunciador primeiro (L1/E1). No que concerne ao não engajamento pelo dito, observamos quadro de mediatividade nas ocasiões em que L1/E1 apresentava ensinamentos do legislador, visando, assim, legitimar sua tese de defesa, conferindo-lhe credibilidade. Por fim, as estratégias linguísticas utilizadas por L1/E1 sugerem que o leitor da peça jurídica analisada (a Resposta à acusação) não se trata do juiz de direito, e, sim, do eleitor brasileiro.
Referências
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