A construção da narrativa do outro como um projeto literário: entre textos panfletários e discursos universalistas
Resumo
Neste artigo procuramos provocar uma reflexão, a luz da teoria decolonial, sobre as ligações entre História e Literatura e as problemáticas equivalentes que atravessam o processo de escrita desses sistemas de significação. Nesse sentido, apresentamos a noção de cânone e as incertezas que essa categoria carrega, para ambas as áreas, se considerada dentro de uma perspectiva universalista e fechada. Em seguida apontamos o crescente processo de embranquecimento da literatura negra ou afro-brasileira, tanto na autoria quanto na representação de si. Compreendemos, justamente, que esse processo é parte constituinte de um projeto de nação excludente que marginalizou atores/autores que não estavam inscritos nos scripts que comporia a estrutura social brasileira e, por consequência, consagrou um seleto grupo branco que hoje compõe o imaginário literário e histórico nacional. Para tanto, partimos das premissas lançadas pela teoria da recepção que destaca o exercício ativo do leitor de apropriar-se das palavras significando-as por meio de sua compreensão individual, experiências e valores. Por fim, apontamos como a crítica decolonial pode fornecer mecanismos de assenhoreamento e humanização das relações interculturais e na construção de referenciais-outros para a construção da narrativa.