LINGUAGEM, SOCIEDADE E POLÍTICA: DIÁLOGOS COM KANAVILLIL RAJAGOPALAN SOBRE A NOVA PRAGMÁTICA
Palavras-chave:
Nova Pragmática, atos de fala, linguagem, sociedade, críticaResumo
A presente entrevista registra um diálogo, mediado por computador, estabelecido entre mim e o professor Kanavillil Rajagopalan, Professor Titular na área de Semântica e Pragmática de Línguas Naturais do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. A ênfase da nossa discussão recaiu na proposta de uma Nova Pragmática, como por ele cunhada e defendida nas últimas décadas, suas perspectivas epistemológicas, desdobramentos críticos e inflexões políticas. Dentre outras coisas, ficou demarcado como fundante para tal abordagem dos estudos da linguagem o afastamento de uma tradição de pensamento logicista e positivista para pensar os problemas de linguagem, como amplamente adotado por perspectivas tradicionais em Pragmática, em específico, e em Linguística, em geral. Desse modo, ao assumir a linguagem como constitutivamente social e política, assim, implicada na vida de sujeitos concretos, em seus modos de agência mais diversos e em suas identidades, a Nova Pragmática se põe aberta ao diálogo com diferentes campos dos estudos da sociedade, a exemplo da Sociologia e da Antropologia, assumindo uma postura abertamente crítica e engajada frente aos problemas sociais cujas dimensões de linguagem em uso investiga. Em linhas gerais, abordamos a relação entre a Teoria dos Atos de Fala de Austin e o duelo entre interpretações formalizantes e críticas, as implicações entre linguagem e identidade, as relações entre ato de fala e texto, as confusões na interpretação da intencionalidade do sujeito, a negativa influência de modelos objetivistas e utilitaristas de ciência nos estudos da linguagem, a Nova Pragmática como uma perspectiva descolonial, as intervenções políticas na linguagem por parte dos ativismos linguísticos de gênero e sexualidade, e, por fim, sobre as dimensões éticas do ato de fala frente ao acirramento dos discursos de ódio, das violências linguísticas e de discursos populistas no o atual momento político do Brasil.
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