A Hora da Estrela: texto-imagem
Palavras-chave:
A Hora da Estrela, adaptação cinematográfica, transmutação.Resumo
A relação da literatura com o cinema ao longo dos tempos tem-se revelado problemática e termos como infidelidade, traição, deformação, violação são alguns dos utilizados para qualificar as inúmeras adaptações cinematográficas de obras literárias ao longo da história do cinema. No entanto, numa tendência que se tem vindo a reforçar nos últimos anos, vozes críticas houve que se bateram por um entendimento outro (não-valorativo e/ou hierárquico) das relações intermédias entre cinema e literatura. Tendo como ponto de partida A Hora da Estrela, obra literária de Clarice Lispector e filme de Suzana Amaral, o principal objetivo deste artigo será a procura de Rodrigo S. M., personagem aparentemente em fuga na adaptação cinematográfica desta obra de Clarice. Como tentará ser mostrado, o caminho será o de não interpretar este anulamento como uma infidelidade, mas sim tentar compreender de que forma a voz do narrador continua, mesmo assim, presente no filme. Para tal, a nossa reflexão sustenta-se essencialmente no próprio texto clariceano e na obra de Amaral, assim como aos textos que compõem a obra Empirismo Herege de Pier Paolo Pasolini e através da qual o poeta, escritor e realizador, (se) reflete em variadas concepções teóricas de natureza não apenas cinematográfica mas também linguística, resguardando-se, apesar de tudo, numa posição de «poeta que se impacienta perante o seu trabalho concreto» e «não como filósofo».
Referências
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