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PROCESSO DE AVALIAÇÃO NO COTIDIANO DE UMA ESCOLA DO CAMPO, SOB A ÓTICA DOS PROFESSORES, MUNICÍPIO DE DIAMANTINO-MT

EVALUATION PROCESS IN THE EVERYDAY OF A COUNTRY SCHOOL, FROM THE TEACHERS VIEWPOINT, IN THE MUNICIPALITY OF DIAMANTINO-MT

Flavia Jardim 1
Escola Estadual Décio Luiz Furigo, Brasil
Selma Baia Batista 2
Centro Universitário de Várzea Grande, Brasil
Ivone de Oliveira Guimarães Favretto 3
Secretaria de Estado de Educação e Cultura de Mato Grosso, Arabia Saudita

REAMEC ? Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática

Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil

ISSN-e: 2318-6674

Periodicidade: Frecuencia continua

vol. 8, núm. 1, 2020

revistareamec@gmail.com

Recepção: 03 Dezembro 2019

Aprovação: 14 Fevereiro 2020



DOI: https://doi.org/10.26571/reamec.v8i1.9467

Esta Revista utiliza-se da Licença Creative Commons Attribution 4.0 International License. Os artigos e demais trabalhos publicados na Revista REAMEC passam a ser propriedade da revista. Uma nova publicação do mesmo texto, de iniciativa de seu autor ou de terceiros, fica sujeita à expressa menção da precedência de sua publicação neste periódico, citando-se a edição e a data dessa publicação. Para o artigo ser publicado é condição obrigatória o envio da Declaração de Responsabilidade e Transferência de Direitos Autorais.

Resumo: O artigo apresenta a análise do processo de avaliação de aprendizagem no cotidiano escolar dos alunos do 1º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Décio Luiz Furigo, pela ótica dos professores da escola. Realizou-se uma pesquisa qualitativa, caracterizada como estudo de caso. Para realizar a pesquisa utilizou-se questionário aberto, além da observação direta dos sujeitos envolvidos, professores e alunos. A pesquisa desenvolveu-se na escola do campo, localizada em Deciolândia, município de Diamantino, Mato Grosso. O marco teórico está apoiado nos estudos de Hoffmann, Libâneo, Luckesi, Gasparin, entre outros. Os problemas da avaliação estão relacionados à concepção de ensino e aprendizagem aplicadas na escola, que muitas vezes reduzem o processo avaliativo à aplicação de provas e testes mensais, bimestrais ou semestrais. Percebeu-se no desenvolvimento da investigação que a avaliação é direcionada, e, embora usando diversos instrumentos considerados modernos, esta classifica os alunos, fazendo uma seleção dos que podem ser aprovados e dos que não podem ser aprovados. Por meio deste estudo percebeu-se que os professores precisam se aprofundar mais em relação ao processo avaliativo, pois é muito importante para o aluno e muitas vezes não é utilizado como deveria ser.

Palavras-chave: Escola do Campo, Ensino, Aprendizagem.

Abstract: The article presents the analysis of the learning evaluation process in the school routine of 1st year High School students from State School Décio Luiz Furigo, from the perspective of the school teachers. A qualitative research was done, characterized as a case study. To conduct the research, an open questionnaire was used, as well as direct observation of the subjects involved, teachers and students. The research was developed in the field school, located in Deciolândia, municipality of Diamantino, Mato Grosso. The theoretical framework is supported by studies by Hoffmann, Libâneo, Luckesi, Gasparin, among others. The problems of evaluation are related to the design of teaching and learning applied at school which often reduces the evaluation process to the application of monthly, bimonthly or semester tests. It has been noted in the development of this study that evaluation is directed, and although using various tools considered modern, it classifies students by making a selection of those that can be approved and those that cannot. Through this study, it was possible to realize that teachers need to deepen in relation to the evaluation process, as it is very important for the student and is often not used as it should.

Keywords: Country School, Teaching, Learning.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com Santos (2012), a avaliação escolar vem sendo muito discutida nos meios acadêmicos, por se tratar de um dos maiores desafios que o professor encara em sala de aula. Estudiosos buscam compreender, cientificamente, o que é a avaliação e qual a influência psicológica que esta acarreta aos alunos, onde o papel do professor é primordial no sentido de combater as dificuldades encontradas no sistema de educação vigente, tal como problemas que abrangem o processo avaliativo. O professor enquanto agente transformador tem a obrigação fundamental de ser inovador e ao longo do processo de ensino-aprendizagem, verificar se seus alunos estão movendo-se em direção ao crescimento científico. Ter indicadores que assinalem a condição de cada aluno é imprescindível, tendo como foco a aprendizagem enquanto principal, pautando a avaliação nos princípios de competência e ética (BOAS, 2008).

A avaliação escolar é um componente do processo de ensino que visa, através da verificação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e, daí, orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas (LIBÂNEO, 1991, p.196).

Porém, neste tema, Luckesi (2002, p. 34) alerta que ?a atual prática da avaliação escolar estipulou como função do ato de avaliar a classificação e não o diagnóstico como deveria ser constitutivamente?. Assim, levanta-se uma discussão sobre o que é avaliação, qual seu papel no sistema de ensino e qual sua importância no processo de ensino-aprendizagem.

No contexto atual, visando a compreensão e a aplicabilidade dos conteúdos ministrados e a relação destes com o cotidiano do aluno, torna-se necessário perceber, questionar e analisar quais as melhores formas de avaliação. De acordo com Luckesi (2011, p. 17), a avaliação da aprendizagem ?em primeiro lugar envolve uma investigação sobre a qualidade dos resultados de uma ação em andamento, desvendando?a em sua satisfatoriedade (ou não), e a seguir, se necessário, subsidia soluções com base nesse conhecimento?.

Em vista disso, o presente trabalho teve como objetivo analisar a avaliação da aprendizagem no cotidiano escolar segundo a visão dos professores, bem como a forma como estes conduzem o processo de ensino, de modo a verificar a importância da avaliação e do envolvimento do aluno nesse processo, auxiliando na localização e identificação de suas principais dificuldades.

Para tanto, foram feitas observações diretas dos sujeitos envolvidos, além da aplicação de um questionário aberto a docentes que atuam em uma turma do Ensino Médio na Escola Estadual Décio Luiz Furigo, localizada em ambiente rural no município de Diamantino, estado de Mato Grosso.

2 REFERENCIAIS TEÓRICOS

Na visão contemporânea tem-se que a educação é o alicerce de uma nação, através da qual o país se desenvolve científica e economicamente. De acordo com Gasparin (2011, p. 1976):

O novo processo de ensino preconiza uma nova sequência de ação docente-discente: avaliação do professor; aprendizagem do professor; avaliação dos alunos; ensino do professor; aprendizagem do aluno e reaprendizagem do professor; avaliação do professor e dos alunos. Esta fase é o que podemos denominar de prática social inicial do conteúdo e da avaliação.

A busca e o compromisso por um melhor nível educacional devem ser constantes, e nesse contexto o papel do professor é primordial, pois constitui um elo entre a cultura e a qualidade de vida dos cidadãos. Portanto, não há a formação de um profissional sem que se tenha um professor planejando e mediando o processo de ensino e conhecimento, que se traduzem não só em qualificação, como também em enriquecimento social e cultural. É neste processo que se insere a avaliação, conforme Fernandes (2011, p. 132)coloca: ?A avaliação de percursos de aprendizagem dos alunos no contexto das salas de aula só tem significado se estiver fortemente ligada com a aprendizagem e com o ensino?. Então, a avaliação não existe como uma dimensão isolada, mas como elemento de articulação que subsidia o desenvolvimento das ações empreendidas no cotidiano escolar.

Para Luckesi (2011, p. 199), ?o educador deve ir até onde o educando está em suas dificuldades a fim de, então, caminhar com ele rumo a uma solução possível?, afinal, a atribuição central da prática de avaliar é encontrar soluções para os entraves identificados, de forma a alcançar os resultados desejados de maneira satisfatória.

O compromisso do professor ao avaliar o seu aluno não é simplesmente verificar se o aluno aprendeu os conteúdos. Segundo Tardif (2014, p. 118):

Concretamente, ensinar é desencadear um programa de interações com um grupo de alunos, a fim de atingir determinados objetivos educativos relativos à aprendizagem de conhecimentos e a socialização.

A avaliação efetiva se dá durante o processo, nas relações de sala de aula que orientam as tomadas de decisões frequentes relacionadas ao tratamento do conteúdo e melhor forma de compreensão e produção de conhecimento pelo aluno (HOFFMANN, 2006). Conforme Hoffmann (1998, p. 135)aponta:

De fato, a magia do avaliar está na descoberta da complexidade do ato de aprender. É a isso que me refiro quando nego a ação corretiva e delineio as interpretações das tarefas de aprendizagem: fazer perguntas ao aluno para comprovar as respostas que já foram dadas pelo professor.

A avaliação deve ser um instrumento que permita investigar os objetivos que foram cumpridos, os que ainda não foram, e as possíveis interferências do professor que podem auxiliar o aluno, como assevera Libâneo (2008)ao caracterizar a avaliação como a verificação do nível de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos. Ainda segundo o autor:

Podemos então definir a avaliação escolar como um componente do processo de ensino que visa, através da verificação e qualificação dos resultados obtidos, determinar a correspondência destes com os objetivos propostos e, daí, orientar a tomada de decisões em relação às atividades didáticas (2008, p. 196).

A avaliação do processo de ensino-aprendizagem sempre fez parte da dinâmica da sala de aula, sendo, no entanto, uma prática que não é realizada de maneira padronizada por todos os professores na atual sociedade brasileira.

3 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA

A presente pesquisa se caracteriza por apresentar abordagem qualitativa, embasada em Guba (1978), que define a investigação qualitativa em educação como sendo frequentemente caracterizada como naturalista, devido ao fato de o investigador acompanhar os locais em que facilmente se verificam os fenômenos de interesse, onde incorrem os dados observados e registrados a respeito dos comportamentos naturais das pessoas, seja por meio de conversas, seja por meio de visitas, ou mesmo por diferentes métodos de observação. Daí a necessidade que a coleta se dê no espaço do cotidiano pedagógico dos sujeitos ? os professores e suas escolas ?, o qual propicia uma relação mais próxima entre pesquisador e informante, onde o pesquisador participa ativamente da realidade investigada.

Para a realização do trabalho, foi adotada a pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso, pois, conforme Yin (2005, p. 19), ?em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo ?como? e ?por que?, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real?.

O local de desenvolvimento do estudo foi a Escola Estadual Décio Luiz Furigo, escola do campo localizada no distrito de Deciolândia, que fica a cerca de 140 km do município de Diamantino, estado de Mato Grosso (MT). No período vespertino, a escola atende desde a Educação Infantil de quatro e cinco anos, até o 1º e 2º Ciclos do Ensino Fundamental, com 210 alunos matriculados na rede municipal, e 165 alunos do Ensino Fundamental (2º e 3º Ciclos). No período noturno, se destina aos discentes do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na rede estadual de ensino, com um quadro de 15 professoras e um professor.

Todo o quadro docente da Escola Estadual Décio Luiz Furigo participa de formação continuada, realizada por meio de encontros semanais para debate dos assuntos pertinentes à educação, sendo orientados por formadores do Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica (CEFAPRO) de Diamantino/MT.

O objeto de estudo foi o método avaliativo praticado pelos professores dos alunos do 1º ano do Ensino Médio da referida escola. Os professores responsáveis pelas disciplinas ministradas (português, inglês, matemática, química, biologia e física) a esses alunos responderam a um questionário (Anexo A), constituído de questões abertas, para o levantamento de informações a respeito de práticas, instrumentos avaliativos e dificuldades encontradas no processo avaliativo.

A escolha desse instrumento deu-se em função da possibilidade de um maior aprofundamento na coleta de dados, devido ao registro e acúmulo de uma maior quantidade deinformações em comparação a um questionário fechado. A escolha dos sujeitos se deu através de amostra aleatória simples, que, segundo Appolinário (2007, p. 127), ?é selecionada de maneira que a escolha de um membro da população não afete a probabilidade de seleção de qualquer outro membro?.

Além disso, foram feitas observações diretas tanto dos docentes quanto dos discentes, devido ao ambiente de trabalho em comum, que possibilita o acompanhamento de rotinas referentes à avaliação dos alunos, como a observação do alto índice de reprovação na série do 1º ano do Ensino Médio, o que por sua vez levantou a necessidade de buscar compreender as experiências individuais e coletivas dos atores envolvidos e encontrar as representações de como os alunos são avaliados pelos professores, com base no referencial teórico e nos dados coletados.

4 ANÁLISE DA APRENDIZAGEM NA ESCOLA ESTADUAL DÉCIO LUIZ FURIGO

Os resultados têm como ponto de partida as concepções de cinco professores do 1º ano do Ensino Médio sobre a prática avaliativa, incluindo os instrumentos utilizados para avaliar os alunos, bem como as dificuldades encontradas na realização das avaliações. As questões foram respondidas e analisadas tendo como parâmetro os objetivos do estudo e a questão problematizadora, em relação ao embasamento teórico sobre avaliação da aprendizagem no cotidiano escolar.

4.1 Escola Estadual Décio Luiz Furigo e o distrito de Deciolândia

A Escola Estadual Décio Luiz Furigo foi fundada no ano de 2011 por meio da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) do governo do estado de Mato Grosso, a partir do Decreto 15/2011, passando a funcionar no mesmo prédio da já existente Escola Municipal Décio Furigo, atendendo simultaneamente as redes municipal e estadual.

Os discentes matriculados na escola são oriundos da comunidade do distrito de Deciolândia e das fazendas que se localizam no entorno, em região rural. Para que os alunos possam frequentar a escola, demandam transporte escolar, como é o caso da turma do 1º ano do Ensino Médio, restrita ao período noturno, se configurando como única opção de estudo para os alunos da região.

A escola está localizada entre diversas fazendas ligadas ao agronegócio, onde a maioria dos pais dos alunos trabalha como assalariados. A comunidade surgiu com a expansão das atividades econômicas na década de 1970, localizada às margens da rodovia federal BR-364, distante em cerca de 140 quilômetros da sede do município de Diamantino.

De acordo com Moreno e Higa (2005, p. 80), no que se refere ao povoado de Deciolândia, o desenvolvimento significativo no campo agrícola só se efetivou por meio da construção de rodovias, principalmente a BR-364. Desta maneira, é possível observar que a partir da abertura das rodovias, ocorreu em Mato Grosso uma ?explosão demográfica?, sendo esta uma das metas do Programa de Integração Nacional do Ministério do Planejamento (1970) do Brasil.

4.2 Análise dos dados obtidos

Todos os professores entrevistados foram do sexo feminino. Analisando o questionário aplicado às professoras, foi constatado que a tarefa do profissional nem sempre é fácil, e está diretamente vinculada ao processo de ensino e aprendizagem, ou seja, à prática pedagógica da docência. Conforme coloca Imbernón (2001, p. 60), ?a formação inicial deve fornecer as bases para poder construir esse conhecimento pedagógico especializado?, porém, ainda há muitos educadores sujeitos a uma visão dualizada em relação a esse processo, onde o professor ensina, e o aluno aprende.

Após leitura e análise das respostas obtidas, seguem abaixo algumas das colocações realizadas pelas docentes quanto às suas práticas avaliativas e sua importância no cotidiano em sala de aula:

?Avalio desde a prática em sala de aula, o convívio, a disciplina no ensino-aprendizagem.?

?As práticas avaliativas são feitas a todo o momento, na organização do caderno, no comprometimento com suas atividades e por último a avaliação escrita, juntamente com todos os métodos para obter o resultado final.?

?A prática avaliativa é extremamente necessária, pois é a partir dela que norteamos nossas práticas pedagógicas.?

Para Luckesi (2011), a avaliação é um diagnóstico que pode ser registrado em forma de nota, mas nota não é avaliação.

A avaliação diagnóstica legítima deve apresentar as seguintes características: deverá ser assumida como um instrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para que possa avançar no seu processo de aprendizagem (LUCKESI, 2011, p. 81).

No que diz respeito às práticas exercidas enquanto docentes, as professoras questionadas demonstraram as melhores intenções em relação às suas ações pedagógicas e preocupação quanto à forma de avaliar seus alunos. Conforme pontua Luckesi (2008, p. 99), ?a avaliação em seu sentido pleno só será possível na medida em que se estiver efetivamente interessado na aprendizagem do educando?.

No relato das professoras, como é realizada a avaliação dos discentes:

?Realizo prática avaliativa de forma contínua no dia a dia e também com aplicação de avaliação objetiva na intenção que os mesmos reconheçam a importância de praticar estudos e pesquisas.?

?Tento analisar com cuidado a capacidade de cada um propondo a resolução dos exercícios individualmente ou em grupo.?

?Tenho tentado fazer modificações, sair do papel e avaliar suas ações em sala de aula.?

Verifica-se acima que nas concepções das docentes quanto à efetividade da própria avaliação há uma ponderação e inquietação em relação à forma que a avaliação escolar está sendo praticada. Conforme uma delas afirma:

?[...] Acredito que a minha prática de avaliação não é somente para avaliar o desenvolvimento do aluno, e sim para me auto-avaliar.?

Para que a avaliação seja uma constituinte da democratização do ensino, transmutando seu caráter tradicionalmente classificatório para o diagnóstico, ela deve ser tomada como um instrumento de verificação da etapa de aprendizagem em que o aluno se encontra (LUCKESI, 2008).

?[...] Procuro sempre observar os pontos negativos buscando melhorar os erros, e de uma forma que os interessados possam conseguir êxito no processo de aprendizagem.?

De acordo com Pinto (2000) apudAlmeida, Peron e Desidério (2009), ?o mais importante é o professor adotar uma atitude reflexiva diante do erro do aluno, procurando não apenas compreender o erro no interior de um contexto, mas também compreender o sujeito que erra?. Dessa maneira, o professor poderá intervir, oferecendo a explicação ou o conhecimento que falta ao aluno para que dê o passo na direção de uma aprendizagem mais completa. Como Estebancoloca:

O erro oferece novas informações e formula novas perguntas sobre a dinâmica aprendizagem/desenvolvimento, individual e coletiva. O erro, muitas vezes, mais do que o acerto, revela o que a criança "sabe", colocando este saber numa perspectiva processual, indicando também aquilo que ela "ainda não sabe", e, portanto, o que pode "vir a saber" (2002, p.21).

Em relação aos instrumentos de avaliação utilizados pelas docentes, é perceptível a existência de uma variedade de ferramentas adotadas, o que pode ser considerado um avanço enquanto prática pedagógica, visto que diferentes métodos possibilitam a avaliação do discente sob distintos ângulos e perspectivas. Assim, há uma maior compreensão do processo de construção de conhecimento pelos alunos, contribuindo para o acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem se comparado a um método único e limitante, tal qual uma prova escrita ao final do período.

Nas palavras das docentes:

?[...] Avalio a participação, o desempenho em tudo que faz em sala de aula,o comportamento, a participação, prova oral e escrita e gincana.?

?[...] Faço avaliações através de atividades objetivas, seminários, pesquisas...?

?[...] Uso a participação, a interpretação oral e escrita e atividades escritas.?

?[...] Atividades escritas, trabalhos, pesquisas,avaliação dissertativa, observações e questionamentos.?

?[...] Avalio o comportamento, participação, prova escrita...?

De acordo com as respostas obtidas, nota-se que a prática avaliativa é diversificada, entretanto, dentre os instrumentos adotados para a avaliação dos alunos, a maioria das docentes utiliza em alguma ocasião a avaliação escrita, aplicando testes ou provas que servem de métrica no momento de aprovar ou reprovar alunos. Para um monitoramento efetivo do processo de aprendizado, há de se pensar nas ferramentas disponíveis e possíveis para condução da avaliação. Conforme Hoffmannpondera:

As intenções avaliativas do educador definem o instrumento a ser utilizado. Somente elaborados a partir de objetivos e intenções claramente delineados é que os instrumentos serão significativos em termos do acompanhamento da construção do conhecimento (2001, p.106).

Nesse contexto, avaliar as expressões orais e escritas dos alunos bem como as respostas construídas acarreta em interpretação e reflexão por parte dos professores, no sentido de que fornecem indícios à intervenção pedagógica, caso seja necessária. Para Libâneo (2007, p.203), ?a avaliação escolar envolve a objetividade e a subjetividade, tanto em relação ao professor como aos alunos?.

Na questão relacionada às dificuldades encontradas para realizar a avaliação dos alunos, as professoras relataram problemas em diferentes aspectos, como a falta de interesse dos alunos, resultados negativos em avaliações, entre outros. No entanto, é importante perceber que a avaliação também tem como pressuposto oferecer a oportunidade de verificar constantemente se as atividades, os recursos e técnicas viabilizados aos alunos estão colaborando para o alcance de seus objetivos.

A respeito desse assunto, as docentes descreveram:

?Está cada dia mais difícil de avaliar, os alunos na maioria já não levam a sério as avaliações.?

?[...] Mesmo mudando a forma de avaliar, parece que nada motiva o interesse dos alunos.?

?[...] O aluno reage sentindo-se constrangido na avaliação, entende como forma de punição e não verificação da aprendizagem.?

?[...] Sim, existe grande falta de comprometimento com as atividades aplicadas em sala e falta assiduidade dos alunos nas aulas.?

?[...] Sinto dificuldade devido aplicar a prova e a mesma não obter resultado esperado, então é necessário reformular, modificar a metodologia para tentar conseguir o resultado almejado.?

As docentes reconhecem que as notas baixas podem estar associadas à sua forma de avaliar. De acordo com Freire (2011), o bom educador reflete criticamente sobre a sua prática, entretanto, o pensar certo, ou o ser crítico, é algo que não está nos manuais da academia. Assim, segundo o autor:

Quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos e nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado [...]. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender (2011, p. 12).

Portanto, deve-se ter em mente que a avaliação não é um processo único, não é um fim, e que não se ministram aulas somente para conceder uma nota ao aluno ao final de cada bimestre ou semestre. A avaliação deve servir, antes de tudo, como uma possibilidade de reflexão sobre as dificuldades e deficiências existentes, pois não se constitui em um vazio conceitual, mas sim, verificada por um modelo teórico de mundo e de educação, correspondendo à prática pedagógica, e ?para não ser autoritária e conservadora, tem a tarefa de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o instrumento dialético do avanço, terá de ser o instrumento da identificação de novos rumos? (LUCKESI, 2011, p. 39).

5 CONSIDERAÇÕES

Verificou-se com a pesquisa que a avaliação no sistema escolar continua sendo um dos grandes desafios, tanto para professores quanto para os alunos. Para professores porque muitos ainda encontram dificuldades em se desprenderem dos métodos tradicionais de ensino, aplicando avaliações que visam quantificar o nível de aprendizado do aluno.

O momento da avaliação precisa ser transformado num momento reflexivo, de diagnosticar uma experiência, onde o aluno possa ter a oportunidade de manifestar suas ideias, seus conhecimentos, e o professor servir-se dessa prática como um mecanismo de avaliar, ajudando o aluno a melhorar e atingir o sucesso. Entretanto, para que essa mudança ocorra, faz-se necessário o comprometimento por parte do professor em inovar e buscar novas práticas pedagógicas e formas de avaliação que melhor se adequem ao conteúdo e ao cotidiano do aluno, e este se comprometendo com a sua aprendizagem.

O papel do professor diante de mudanças tão rápidas no âmbito escolar, principalmente dentro das relações de ensino-aprendizagem, é de comprometimento de um trabalho pautado na verdade, onde a avaliação privilegie as habilidades dos alunos considerando suas especificidades, que não seja mascarada, sendo apenas um teste de conhecimentos para uma verificação e classificação de conhecimentos.

A avaliação passou por muitas mudanças, foi compreendida de diversas maneiras ao longo da história, e hoje o maior desafio é a mudança de postura, lançando um novo olhar para o aluno, apesar dos conceitos arcaicos tão enraizados na prática pedagógica. É preciso repensar o trabalho docente, os critérios utilizados nas formas de avaliar, evitando a rotulação dos educandos enquanto bons ou maus, tendo como ponto de partida a perspectiva de sujeito que aprende e ensina, transformando a rotina em sala de aula mais agradável e descontraída.

REFERÊNCIAS

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Autor notes

1 1 Mestranda em Educação pelo Instituto de Ensino Superior Vanguarda (IESV). Técnica Administrativa Educacional da Escola Estadual Décio Luiz Furigo, Diamantino, Mato Grosso, Brasil. Endereço para correspondência: Distrito de Deciolândia, Diamantino/MT. CEP: 78400-000. E-mail: flaviaelza@outlook.com
2 Doutora em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora de Ciências da Saúde do Centro Universitário de Várzea Grande (UNIVAG), Várzea Grande, Mato Grosso, Brasil. Endereço para correspondência: Rua 22, Quadra 36, Apto. 204, Bloco C, Bairro Morada do Ouro II, Cuiabá/MT. CEP: 78053-754. E-mail: selbbat@yahoo.com.br
3 Mestre em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Professora aposentada pela Secretaria de Estado de Educação e Cultura de Mato Grosso (SEDUC/MT), Cuiabá, Mato Grosso, Brasil. Endereço para correspondência: Rua dos Uirapurus, Quadra 10, Lote 18, Bairro Jardim Imperial, Cuiabá/MT. CEP: 78075-861. E-mail: ivonebio@yahoo.com.br

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