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DESAFIOS NO ENSINO-APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA EM ARAGUAÍNA-TO
CHALLENGES IN TEACHING-LEARNING IN YOUTH AND ADULT EDUCATION – EJA IN ARAGUAÍNA-TO
RETOS EN LA ENSEÑANZA-APRENDIZAJE EN EDUCACIÓN DE JÓVENES Y ADULTOS - EJA EN ARAGUAÍNA-TO
REAMEC – Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática, vol.. 9, núm. 2, e21062, 2021
Universidade Federal de Mato Grosso

Educação Matemática na EJA

REAMEC – Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática
Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil
ISSN-e: 2318-6674
Periodicidade: Frecuencia continua
vol. 9, núm. 2, e21062, 2021

Recepção: 25 Julho 2021

Aprovação: 12 Agosto 2021

Publicado: 28 Agosto 2021

Os direitos autorais são mantidos pelos autores, os quais concedem à Revista REAMEC –Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática -os direitos exclusivos de primeira publicação. Os autores não serão remunerados pela publicação de trabalhos neste periódico. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalhopublicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico. Os editores da Revista têm o direito de proceder a ajustes textuais e de adequação às normas da publicação.

Este trabalho está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.

Resumo: Os desafios no processo de ensino e de aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos (EJA) têm interferido no desenvolvimento de alunos da Educação Básica no Tocantins. A superação de obstáculos presentes dentro e fora de sala de aula é fator preponderante para a vida acadêmica dos envolvidos diretamente no processo. Esta pesquisa apresenta uma investigação de abordagem quantitativa, motivada pela inquietação de compreender os desafios pessoais enfrentados pelos estudantes e que influenciam no processo de ensino e de aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Assim, temos como questão diretriz “Quais são os principais desafios pessoais enfrentados pelos estudantes das turmas de 1ª série da EJA?”. Desse modo, O objetivo é identificar os desafios pessoais enfrentados por alunos que estudam na EJA da Escola Estadual Francisco Máximo de Sousa em Araguaína-TO. O procedimento metodológico é o Estudo de Caso e para obtenção das informações, aplicamos um questionário diagnóstico composto de treze questões. A análise dos resultados mostra evidências que estes desafios têm sido influenciadores no desenvolvimento estudantil destes estudantes.

Palavras-chave: Desafios, Ensino, Aprendizagem, Educação de Jovens e Adultos – EJA.

Abstract: The challenges in the teaching and learning process in Youth and Adult Education (EJA) have interfered in the development of Basic Education students in Tocantins. Overcoming obstacles inside and outside the classroom is a major factor in the academic life of those directly involved in the process. This research presents an investigation with a quantitative approach, motivated by the concern to understand the personal challenges faced by students and that influence the teaching and learning process in Youth and Adult Education (EJA). Thus, we have as a guiding question “What are the main personal challenges faced by EJA 1st grade students?”. Thus, the objective is to identify the personal challenges faced by students who study at EJA at Francisco Máximo de Sousa State School in Araguaína-TO. The methodological procedure is the Case Study and to obtain information, we applied a diagnostic questionnaire consisting of thirteen questions. The analysis of the results shows evidence that these challenges have been influencing the student development of these students.

Keywords: Challenges, Teaching, Learning, Youth and Adult Education - EJA.

Resumen: Los desafíos en el proceso de enseñanza y aprendizaje en Educación de Jóvenes y Adultos (EJA) han interferido en el desarrollo de los estudiantes de Educación Básica en Tocantins. La superación de obstáculos dentro y fuera del aula es un factor importante en la vida académica de quienes están directamente involucrados en el proceso. Esta investigación presenta una investigación con enfoque cuantitativo, motivada por la preocupación por comprender los desafíos personales que enfrentan los estudiantes y que influyen en el proceso de enseñanza y aprendizaje en la Educación de Jóvenes y Adultos (EJA). Por lo tanto, tenemos como pregunta orientadora “¿Cuáles son los principales desafíos personales que enfrentan los estudiantes de 1er grado de EJA?”. Así, el objetivo es identificar los desafíos personales que enfrentan los estudiantes que cursan estudios en EJA en la Escuela Estatal Francisco Máximo de Sousa en Araguaína-TO. El procedimiento metodológico es el Estudio de Caso y para obtener información se aplicó un cuestionario diagnóstico compuesto por trece preguntas. El análisis de los resultados muestra evidencia de que estos desafíos han estado influyendo en el desarrollo estudiantil de estos estudiantes.

Palabras clave: Desafíos, Enseñando, Aprendiendo, Educación de jóvenes y adultos - EJA.

1. INTRODUÇÃO

A taxa de analfabetismo, a média dos anos de estudo e o nível de instrução evidenciam um retrato da escolaridade aquém do ideal. São muitos fatores que influenciam na aprendizagem. Mas na tentativa de melhorar essa realidade no processo de ensino e de aprendizagem precisa-se analisar as práticas de ensino a fim de identificar pontos frágeis, e planejar ações de intervenções.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é importante na sociedade, principalmente para as pessoas mais pobres e desfavorecidas que interromperam seus estudos no ensino regular. Essa modalidade de ensino proporciona a possibilidade de conclusão dos estudos na Educação Básica, seja por motivos de realização pessoal ou por exigência do mercado de trabalho.

Nesta perspectiva o ato de reconhecer a caminhada do aluno, bem como os processos de ensino e de aprendizagem, ajuda na identificação dos fatores que influenciam no processo e que pode ser corrigido a fim de favorecer a aprendizagem, apontando os elementos que, ao serem observados, revelam uma parte dos conhecimentos que possuem e das dificuldades que existem.

A EJA caracteriza-se como uma modalidade de ensino, decorrente de políticas públicas que visam solucionar problemas de analfabetismo. Nesses termos, é tida como uma forma compensatória, supletiva e emergencial para alcançar jovens e adultos que outrora não tiveram possibilidade de estudos.

Na realização do Estágio Supervisionado constatamos que nossa formação não dá o suporte necessário para atuar na EJA, uma vez que a abordagem e os métodos de ensino precisam ser diferentes daqueles que utilizamos para ensinar uma criança ou um adolescente. Observamos aspectos que dificultam o processo de ensino e de aprendizagem. Em sala de aula tivemos conhecimento da realidade e dos desafios que esses alunos enfrentam.

Considerando a situação em tela, esse estudo busca evidenciar o perfil dos estudantes da EJA, assim como obter conhecimento sobre a EJA na tentativa de apresentar possíveis melhorias para os processos de ensino e de aprendizagem.

Problemas com drogas, álcool, horários, ser mãe solteira, local de moradia, estão entre os aspectos que dificultam o desempenho e a aprendizagem, bem como a conclusão dos estudos. Além disso, os alunos se deparam com educadores sem formação para atuarem nessa modalidade, decorrente da formação profissional que não possibilita ao futuro professor conhecimentos necessário sobre EJA.

O conhecimento das dificuldades dos alunos e professores permite trilhar caminhos que possam superar as limitações dos envolvidos. Assim, tem-se como objetivo identificar os desafios enfrentados por alunos que estudam na EJA da Escola Estadual Francisco Máximo de Sousa em Araguaína-TO.

Os índices de evasão nas escolas do Município de Araguaína, as dificuldades de alunos não conseguirem aprender de forma eficiente, são objetos de reflexões neste trabalho, por entendermos que as dificuldades e desafios pessoais enfrentados pelos alunos precisam ser superados.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. A história da Educação de Jovens e Adultos no Brasil e seu conceito

A Unesco (2018, p. 1) aponta que "[...] 617 milhões de crianças e adolescentes no mundo todo não estão adquirindo habilidades mínimas em leitura, escrita e matemática. Atualmente, já existem 750 milhões de jovens e adultos que não sabem ler nem escrever". Ao analisarmos a situação no Brasil, percebe-se que o País ainda anda a passos curtos, uma vez que até 2016 existiam cerca de 13,1 milhões de analfabetos, com 15 anos de idade ou mais (MEC, 2016).

Tem-se realizado ações e esforços para mudar essa situação apresentada no Brasil, por meio de elaboração de estudos específicos, uma vez que o MEC considera a alfabetização uma política pública de educação prioritária e que deve ser melhorada para possibilitar o crescimento pessoal e profissional dos brasileiros.

A EJA caracteriza-se por uma modalidade de ensino que abrange a formação de profissionais da educação, cuja finalidade seja de facilitar e possibilitar a solução de problemas decorrentes do analfabetismo, seja por educação compensatória, supletiva ou emergencial. Moura (2004, apud Santana, 2011), aponta que a educação de adultos teve início em 1549, com os jesuítas, na fundação de colégios nos quais era desenvolvida uma educação com objetivo inicial de formar uma elite religiosa. As ações educativas começaram a acontecer sem sistematização, que veio a ocorrer com a Constituição de 1824 que oficializou o direito a “instrução primaria e gratuita para todos os cidadãos” (FREITAS, 2014, online).

O Brasil passou por um período intenso de urbanização, na qual surgiu a necessidade de mão-de-obra qualificada e a importância da manutenção da ordem social, as quais conduziram as grandes reformas educacionais. Nesse sentido, em 13 de janeiro de 1925, por meio do Decreto n.º 16.782/A, foram criadas as escolas noturnas para adultos. Com a Constituição de 1934, estabelece-se "obrigatoriedade e a gratuidade do ensino primário para todos", em que a Educação de Jovens e Adultos se instituiu na política nacional (BRASIL, 2002, p. 14).

A Lei n° 5379/67 cria o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), que propunha "[...] a alfabetizar 11.4 milhões de adultos até o ano de 1971. No entanto, a fundação começou a funcionar de fato somente em setembro de 1970, com recursos oriundos da Loteria Esportiva e do Imposto de Renda" (BRASIL, 2019, p. 1). Em 1985, o MOBRAL foi extinta.

Em 1971 o governo brasileiro promulgava a Lei n° 5692/71, legislação que, no capítulo IV, regulamentava o ensino supletivo, implantado na rede de ensino público. A década de 1990 foi marcada pelo gozo de direitos nos planos cultural, jurídico, político e educativo dos jovens e adultos, conquistadas em momentos anteriores. Nesta década, a articulação em torno da Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB), reafirmou a institucionalização da modalidade EJA.

Entre os anos 2003 e 2006, as iniciativas para as políticas públicas da EJA tiveram maior ênfase em comparação aos governos anteriores, criando o Programa Brasil Alfabetizado (FRIEDRICH, 2010). Esse programa foi desenvolvido considerando três vertentes de aspecto social para a modalidade de EJA. Primeiro, o Projeto Escola de Fábrica que oferece cursos profissionalizantes para jovens da faixa etária de 15 a 21anos. Segundo, o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem) voltado aos jovens de 18 a 24 anos, que tivessem escolaridade acima da 4º série (Atual 5ºano), mas que não tenham concluído o ensino fundamental e não estejam vinculados em algum trabalho formal. Terceiro, o Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio para Jovens e Adultos (Proeja) direcionado à educação profissional técnica no ensino médio (FRIEDRICH, 2010).

Essas vertentes buscam a universalização da escolarização dos jovens e adultos, contribuindo para a erradicação do analfabetismo e a profissionalização desses cidadãos, inserindo-os no mercado de trabalho e fortalecendo o crescimento econômico do país. A educação infantil é diferente da educação de jovens e adultos, como esclarece Friedrich (2010, pg. 13) “jovens e adultos não podem ser tratados como crianças. São pessoas que não tiveram infância, ou tiveram uma infância frustrada, têm vergonha de si mesmos, possuem complexo de inferioridade diante da sociedade que os oprime e os discrimina (FREIRE, 1987)”.

A educação é um direito universal, garantido pela Constituição Federal de 1988, de maneira pública e gratuita, independente de idade, como prescreve o Art. 208: “dever do Estado com a educação, mediante a garantia de ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 1988, p. 123).

Educação de qualidade a todos os cidadãos é expressa também no Art. 205 da Constituição, como direito de todos e dever do Estado “visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”, portanto é um elemento fundamental para a cidadania (BRASIL, 1988, p. 123).

Segundo Ferreira e Rodrigues (2016, p. 574), o texto legal é um marco político educacional que assume o papel mediador na sociedade brasileira capaz de resgatar milhares de brasileiros da condição de analfabetos e marginalizados. Neste contexto, a LDB que organiza o sistema educacional brasileiro em Educação Básica (Infantil, Fundamental e Médio) e superior, oferecem a garantia ao acesso à Educação.

A modalidade EJA está inserida na Educação Básica, categoria que abrange os jovens e adultos, profissional, indígenas e a distância, como pode ser verificada no Art. 37 da LDB:

Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. [...] § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames (BRASIL, 1996, p. 30).

A EJA se destina a alunos que não tiveram, na idade própria, acesso ou continuidade de estudo. Desse modo, competem aos sistemas de ensino assegurar gratuidade e oportunidades educacionais aos que não conseguiram concluir em tempo regular e idade apropriada. Portanto, trata-se de processo sistêmicos e organizados para formação de jovens e adultos, conferindo atenção à educação destes (PACIEVITCH, 2021).

Nestes termos, a EJA no Brasil tem como uma de suas premissas conceder oportunidades a fim de reparar, qualificar e equalizar o ensino a adultos, com vistas a formação e qualificação para ingresso no mercado de trabalho.

O jovem retorna a EJA em busca de certificação, o que teoricamente o colocaria no mercado de trabalho e teria garantido o seu lugar na sociedade, resgatando com isso a autoestima e passando a ser visto como um cidadão comum (FRIEDRICH, 2010).

A modalidade de ensino que constitui a EJA apresenta-se como um direito do cidadão, tentando afastar-se da ideia de compensação e assumindo-se como reparação e equidade, aprendizagem e qualificação permanentes e não de caráter suplementar (FRIEDRICH, 2010). Assim, é preciso olhar para o cidadão que busca a EJA como pessoas constituídas de compromissos social e profissional com a comunidade.

Segundo Friedrich (2010, p. 404):

[...] é necessário refletir sobre o contexto em que está inserido e sobre o fato de que o adulto não pode ser tratado como criança. “Há muitos anos que a Andragogia nos tem ensinado que a realidade do adulto é diferente da realidade da criança, mas ainda não incorporamos esse princípio nas nossas metodologias” [...].

Através dessas reflexões, observa-se que o educador necessita de uma forte formação política e social para trabalhar com as propostas pedagógicas que não condizem com a realidade da EJA. E também apontam que a educação de adultos é um resultado da ineficácia das políticas públicas na oferta e permanência da criança e do adolescente na escola. E que na grande maioria continua atuando na marginalidade do processo educativo (FRIEDRICH, 2010).

2.2. Relação Professor-Aluno

Alunos que frequentam essa modalidade de ensino são advindos de famílias de baixa renda, que precisaram se dedicar ao trabalho, ajudar no suprimento das necessidades básicas da família, ainda na juventude. Outros são da zona rural, onde as possibilidades de acesso à educação, ainda, são tímidas em diferentes regiões do país, mesmo sendo um direito fundamental e básico de todo cidadão.

A relação profissional entre professor e aluno pode ter influência no processo de ensino quanto no de aprendizagem. Eles definem um professor com diferentes expressões:

como “bom” ou “melhor de um curso”, “é amigo”, “é compreensivo”, “é gente como a gente”, “se preocupa conosco”, “é disponível mesmo fora de sala de aula”, “coloca- se na posição do aluno”, “é honesto nas observações”, “é justo”, etc. usadas entre alunos do ensino médio para definir o bom professor, pelo ponto de vista afetivo (CUNHA 2004, p. 150).

É necessário que os estudantes tenham consciência de que um bom professor desenvolve formas alternativas para ensinar, que precisa sobressair às definições de cunho afetivo. A forma que “se relaciona com sua própria área de conhecimento, a sua percepção de ciência e de produção do conhecimento interfere na relação professor-aluno e é parte dessa relação”. (CUNHA 2004, p. 151). Algo fundamental na relação professor-aluno é a metodologia do professor. Ou seja, a forma como serão desenvolvidas as aulas com vistas à aprendizagem dos estudantes. Segundo Cunha (2004, p. 151).

Um professor que acredita nas potencialidades do aluno, que está preocupado com sua aprendizagem e com seu nível de satisfação, exerce práticas de sala de aula de acordo com essa posição. E isso é também relação professor-aluno. Dizem os alunos que entre as características de seus melhores professores estão “torna as aulas agradáveis e atraentes”, “estimula a participação do aluno”, “sabe se expressar de forma que todos entendam”, “induz à crítica e à pesquisa”, “procura formas inovadoras de desenvolver a aula”, “faz o aluno participar do ensino” etc.

O bom relacionamento entre o professor e aluno, na EJA é salutar ao processo de ensino e de aprendizagem. Ao se desenvolver a empatia, se esforça para desenvolver um trabalho com eficiência, dando importância às particularidades de seus alunos, trará resultados importantes para a aprendizagem. De acordo com Cunha (2004, p. 152).

Um último aspecto a considerar na fala dos alunos é o valor que eles dão ao prazer de aprender, algo que se poderia traduzir como um clima positivo na sala de aula. O senso de humor do professor, o “gosto de ensinar”, “o tornar a aula agradável e interessante”, são aspectos que eles apontam como fundamentais.

Entende-se, portanto, que a relação de proximidade profissional entre professor e estudantes facilita no desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem de maneira positiva.

2.3. Formação de professores para trabalhar na EJA

A EJA ainda é uma área pouco explorada por pesquisadores. Isso fica evidente quando se trata da formação de professores de matemática para atuarem nessa modalidade de ensino. Ressaltamos a importância de um educador capacitado e especializado frente ao desenvolvimento de aulas voltadas para a EJA que poderão mudar a situação de esquecimento dos jovens e adultos por um sistema que deixa pelo caminho àqueles que não conseguem desenvolver a aprendizagem ou que tenham desempenho abaixo do esperado. Pessoas que por motivos de extrema pobreza, ou por problemas familiares ou vícios, não conseguiram finalizar as etapas da educação em tempo hábil.

Alunos têm menos afinidade na disciplina de matemática, tornando sua aprendizagem e a atuação do professor um trabalho ainda mais complexo e delicado. Nesses termos, tem-se a necessidade de uma boa formação e preparação dos professores. De acordo com Fonseca (2012), para se trabalhar na educação de jovens e adultos, é um grande desafio que requer muito do educador. Honestidade, compromisso e entusiasmo, são três valores que esse educador matemático tem que ter.

A eleição destes três valores como fundamentais para a efetiva participação dos professores na educação matemática de seus alunos e alunos inseridos em iniciativas em relação aos seus papéis nesse trabalho remete-nos a três dimensões, absolutamente solidárias, da formação do educador matemático de jovens e adultos: sua intimidade com a matemática; sua sensibilidade para as especificidades da vida adulta; e sua consciência política. (FONSECA, 2012, p.55).

A atuação na EJA não é tão simples, devem-se adquirir conhecimentos específicos e ainda aprimorar e desenvolver os nossos valores. Isso porque para trabalhar com esse público é importante entender suas limitações e conhecimentos da matemática cotidiana. Portanto, educadores matemáticos deverão ter sensibilidade e intimidade com a matemática, para saber utilizar esse conhecimento adquirido e não os descartar, tampouco se limitar a matemática cheia de regras e formas. A respeito disso, Fonseca (2012), argumenta:

Com efeito, a sensibilidade que permite que os educadores reconheçam a matemática que seus alunos sabem e utilizam, ainda que ela não se apresente em seu formato escolarizado, e a presença de espirito que lhes provê de estratégias para considera-la, integrando-a na negociação de significados e intenções forjadas na situação de ensino- aprendizagem para (re) significa-la, supõem uma intimidade com o conhecimento matemático, que é mais do que mera associação de termos e conceitos ou do que a destreza na execução de algoritmos. (FONSECA, 2012, p.56).

Quando o educador matemático possui maior conhecimento de matemática, ele saberá utilizá-la da melhor forma com diferentes públicos. Os conteúdos e seus procedimentos precisam ser bem conhecidos pelo professor, a fim de potencializar o método de resolução de problemas práticos, onde o aluno evidenciará a matemática em problemas do nosso dia-a-dia e sentirá instigado em pesquisar e refletir sobre a situação apresentada.

Uma tarefa desafiadora para o educador matemático é buscar diferentes formas dos alunos resolverem o problema matemático e não a repetir, fazer algo mecanizado, de uma única maneira. A matemática é rica em diversidade, ilimitada, e ainda há muito para ser explorado. Outro ponto primordial é “sobre a sensibilidade para as preocupações, as necessidades, o ritmo, os anseios da vida adulta” (FONSECA, 2012, p.60), dos alunos. Os professores devem ser orientados a real necessidade de conhecerem melhor seus alunos, de ter e criar um laço, como indivíduos e como grupo social. Ao atribuir essas características, a empatia, a sua formação será mais completa e dará suporte para definir formas de avaliação.

A realização de um diagnóstico é necessária para conhecer também o grau de conhecimento e de dificuldade, para que seja possível montar estratégias de como e o que deve ensinar potencialmente em certo conteúdo, quais os instrumentos, tendências e metodologias deve seguir. A junção desses fatores tornará o ensino-aprendizagem mais eficaz

Para uma melhor formação do professor e educador matemático para o ensino de jovens e adultos, a troca de experiências, conversas, consultas e reflexões compartilhadas entre colegas de mesma atuação, que já tenha mais experiência com a EJA, são fatores promissores. Isso porque o professor deve estar preparado para situações não previsíveis.

A formação profissional é uma preocupação ética e cidadã do professor, pois todos os alunos têm direito a educação de qualidade, respeitando suas limitações. O compromisso com a prática pedagógica, e com ações conscientes e eficazes para um melhor desenvolvimento na formação desses cidadãos é essencial e necessário.

3. METODOLOGIA

Para realizar esta pesquisa, buscamos informações quanto ao número de Unidades de Ensino (EU) que ofertam a modalidade EJA e também quanto ao número de matrículas no município de Araguaína-TO. Têm-se escolas estaduais e municipais que aderem à EJA. Segundo dados da Secretaria de Estado da Educação Juventude e Esportes do Tocantins (Seduc- TO) e da Prefeitura Municipal de Araguaína, há 12 escolas que ofertam a modalidade: cinco municipais, com 441 alunos, e sete estaduais com 1447 alunos matriculados em 2020. Realizamos a produção de dados da pesquisa na Escola Estadual Francisco Máximo, sendo o fator preponderante para escolha da nossa atuação no Estágio Supervisionado nesta UE.

Utilizamos do Estudo de Caso, que busca explicar um fenômeno real a partir de análise de dados coletados de uma especifica instituição de ensino ou escola. Para Yin (2005, p.32) “o Estudo de Caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real”. Também tem uma abordagem descritiva cuja finalidade é descrever os dados coletados como um fenômeno social. Os benefícios desse Estudo de Caso são o aumento da compreensão e do entendimento do tema estudado e investigado.

Ainda a respeito do Estudo de Caso, Nunan (1992 apud PEREIRA, 2007, p.56) entende ser “uma investigação empírica, intensiva e holística de uma única entidade, fenômeno ou unidade social, que envolve a descrição e análise detalhadas de um tema para o qual observações, entrevistas e história familiar proporcionam os dados”.

O Estudo de Caso se característica pelo enfoque restrito e específico de investigação, podendo ser uma escola, sala de aula, uma turma ou um aluno. Dessa maneira, esse trabalho caracteriza-se como Estudo de Caso, porque investiga 75 alunos de duas turmas da 1ª série da EJA matriculados na escola mencionada anteriormente. Foi desenvolvido um questionário diagnóstico com os alunos, cujo objetivo foi coletar dados quantitativos: a faixa etária de idade, quantos trabalham, quem são pai e mãe de família, quais os sonhos profissionais e etc.

Os dados são apresentados e analisados por meio de gráficos e quadros, onde as porcentagens das quantidades são esboçadas. Na medida em que são apresentados, realizamos as análises e reflexões sobre os mesmos.

Para realizar esta pesquisa, buscamos informações quanto ao número de Unidades de Ensino (EU) que ofertam a modalidade EJA e também quanto ao número de matrículas no município de Araguaína-TO. Têm-se escolas estaduais e municipais que aderem à EJA. Segundo dados da Secretaria de Estado da Educação Juventude e Esportes do Tocantins (Seduc- TO) e da Prefeitura Municipal de Araguaína, há 12 escolas que ofertam a modalidade: cinco municipais, com 441 alunos, e sete estaduais com 1447 alunos matriculados em 2020. Realizamos a produção de dados da pesquisa na Escola Estadual Francisco Máximo, sendo o fator preponderante para escolha da nossa atuação no Estágio Supervisionado nesta UE.

Utilizamos do Estudo de Caso, que busca explicar um fenômeno real a partir de análise de dados coletados de uma especifica instituição de ensino ou escola. Para Yin (2005, p.32) “o Estudo de Caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real”. Também tem uma abordagem descritiva cuja finalidade é descrever os dados coletados como um fenômeno social. Os benefícios desse Estudo de Caso são o aumento da compreensão e do entendimento do tema estudado e investigado.

Ainda a respeito do Estudo de Caso, Nunan (1992 apud PEREIRA, 2007, p.56) entende ser “uma investigação empírica, intensiva e holística de uma única entidade, fenômeno ou unidade social, que envolve a descrição e análise detalhadas de um tema para o qual observações, entrevistas e história familiar proporcionam os dados”.

O Estudo de Caso se característica pelo enfoque restrito e específico de investigação, podendo ser uma escola, sala de aula, uma turma ou um aluno. Dessa maneira, esse trabalho caracteriza-se como Estudo de Caso, porque investiga 75 alunos de duas turmas da 1ª série da EJA matriculados na escola mencionada anteriormente. Foi desenvolvido um questionário diagnóstico com os alunos, cujo objetivo foi coletar dados quantitativos: a faixa etária de idade, quantos trabalham, quem são pai e mãe de família, quais os sonhos profissionais e etc.

Os dados são apresentados e analisados por meio de gráficos e quadros, onde as porcentagens das quantidades são esboçadas. Na medida em que são apresentados, realizamos as análises e reflexões sobre os mesmos.

4. ANÁLISE E RESULTADOS

Utilizamos informações contidas no cabeçalho e respostas do questionário para observarmos o perfil dos alunos da EJA. O mesmo foi desenvolvido em duas turmas, uma com 41 alunos e a outra com 34 alunos, totalizando 75 participantes. Desses, 34 são do sexo masculino (45%) e 41 do sexo feminino (55%). Como mostra o Quadro 01.

Quadro 1
Quantidade de participantes

Fonte: Elaborado pelo autor

Observa-se que o número de mulheres é superior ao de homens, talvez pelo fato de haver mais mulheres que homens no Brasil. “Segundo uma projeção do IBGE, o Brasil é formado por 51% de mulheres e 49% de homens” (CAESAR, 2020, online). Nos cursos profissionalizantes da Educação Básica, as mulheres também são maioria como mostram os dados do Censo Escolar 2018 do Inep. A quantidade de alunas é maior em quase todas as faixas etárias.


Gráfico 1
Número de matrículas na educação profissional segundo faixa etária e sexo – Brasil – 2018
Fonte: Elaborado pela Deed/Inep com base nos dados do Censo da Educação Básica

Dentre os 75 alunos, obtivemos a informação das idades de cada um. Organizamos em quatro faixas etárias: 18 a 20 anos, 40 alunos, equivale a 53%; 21 a 25 anos, 17 alunos que corresponde a 23%; de 26 a 30 anos são 10 alunos, equivalente a 13%; e de 31 a 53 anos são 08 alunos que equivale a 11% dos alunos.

Quadro 2
Quantidade de participantes por faixa etária

Fonte: Elaborado pelo autor

Observa-se que o número de alunos entre 18 e 20 anos são a maioria dentre os demais. Isso significa que os alunos que tem menos tempo longe do ensino regular tem mais facilidade de voltar aos estudos através da EJA do que os outros. Por exemplo, na última faixa etária deduz-se que quanto mais idade essa pessoa estiver, mais difícil será o retorno aos estudos. Quanto mais tempo longe das rotinas escolares, menos chance dessa pessoa querer se matricular na EJA para concluir.

A primeira pergunta do questionário: Você trabalha? Importante, por ser um dos principais fatores que levam os alunos a se matricularem na EJA, devido à necessidade de trabalhar durante o dia. O número de alunos que trabalham é maior que os que não exercem atividade laboral. Identificamos 44 alunos (59%) que trabalham e 31 alunos (41%) que não trabalham.

Quadro 3
Quantidade de participantes que trabalham

Fonte: Elaborado pelo autor

Nota-se que a maioria vive o desafio de se dedicar ao trabalho e à escola. Em algumas situações há exigência da atividade laboral para a conclusão do ensino médio para poderem continuar no trabalhando ou ser promovido a cargos melhores. Àqueles que ainda não conseguiram uma colocação no mercado de trabalho, veem na conclusão do ensino médio a oportunidade de conseguirem a almejada vaga de emprego. Isso porque muitas empresas passaram a exigir dos pretensos colaboradores formação mínima no ensino médio.

A segunda pergunta do questionário: Qual a sua profissão? nos possibilitou identificar o perfil dos participantes no mercado de trabalho e as profissões que se exerce sem a conclusão do ensino médio. O exercício de determinada atividade profissional requer conhecimentos, preparação e habilidades, muitas vezes, específicas. Algumas têm como requisito a formação completa em ensino fundamental, médio ou superior a depender da função desempenhada.

Em relação ao que os participantes responderam, observamos que, na maioria dos casos, eles desempenham profissões de nível fundamental, que não requer formação específica ou curso técnico. Dentre elas a que se destaca é a profissão de vendedor.

A segunda profissão que mais se destacou foi a de empregada doméstica, que não requer formação especializada ou curso técnico. Outras ocupações foram citadas nos questionários, como auxiliar de cozinha, manicure, recepcionista, pedreiro, auxiliar de produção, marceneiro, merendeira, pintor, churrasqueiro, montador, serviços gerais, Calheiro, cabelereira e costureira.

Para o desempenho dessas profissões não há necessidade de conclusão do Ensino Médio, suas habilidades são adquiridas com práticas e vivências cotidianas ou aprendidas com familiares mais experientes. Considerando os dados coletados, compreendemos que os participantes apresentam baixa renda e, por isso, “sem muitas condições financeiras”.

A terceira pergunta: Você é casado? tem o objetivo de identificar o estado civil dos participantes, por entendermos que um relacionamento trás responsabilidades e compromissos, o que acaba sendo um desafio para o retorno aos estudos.

Quadro 4
Quantidade de participantes casados e solteiros

Fonte: Elaborado pelo autor

De acordo com os dados, 28% dos estudantes são casados. O Censo do IBGE (2010) mostra um aumento de 28,6% para 36,4% na quantidade de uniões consensuais em dez anos. Assim, dentre os 72% solteiros pode existir alguém que esteja em uma união consensual e responderam que não são casados.

Na quarta pergunta do questionário, Tem filhos? Quantos? Obtivemos a quantidade de solteiros que tem filhos. Das 54 pessoas solteiras, 16 delas têm filhos, que corresponde a 30%. Este é outro fator que pode ser considerado um desafio para os estudantes da EJA, pelo fato de não ter com quem deixar seus filhos enquanto estão na escola. Devido a isso, são obrigados a levá-los para a sala de aula, conforme observamos durante a realização do Estágio Supervisionado.

Quadro 5
Quantitativo de participantes solteiros com e sem filhos

Fonte: Elaborado pelo autor

Ressaltamos que dos 16 alunos que são pais solteiros, tem-se 13 (81%) mulheres e 03 (19%) homens. Infelizmente, trata-se de uma triste realidade presente em nossa sociedade, especialmente com os alunos que frequentam a EJA. Em nossas observações percebemos que as mulheres são mais prejudicadas em relação aos homens no que diz respeito à permanência em sala de aula, porque em algumas situações as mães precisavam levar seus filhos para a sala de aula.

Infelizmente, existe um grupo maior de mães solteiras que não conseguem permanecer na escola ou voltar a se matricular. Segundo um levantamento do Movimento Todos pela Educação, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013, o Brasil tinha 5,2 milhões de meninas entre 15 a 17 anos, e 414.105 dessas meninas era mãe de pelo menos um filho, 309.374 estão fora da escola. Esses dados mostram uma situação preocupante, principalmente se considerarmos jovens com outras faixas etárias.

Ainda em relação à quarta pergunta, sobre os alunos que tem filhos, observamos que quase metade dos estudantes têm filhos. Os dados revelaram que 40 participantes (53%) não têm filhos e 35 participantes (47%) têm filhos.

Quadro 6
Quantidade de alunos com e sem filhos

Fonte: Elaborado pelo autor

Observa-se, também, que praticamente metade dos participantes são pais ou mães de família, tendo responsabilidades referentes ao sustento, criação, moradia, educação e cuidados com os filhos, além das atividades escolares. Essas situações podem se configurar como obstáculos para a permanência na escola por causa da indisponibilidade de tempo.

No Quadro a seguir apresentamos o percentual e o quantitativo de filhos que os participantes afirmam ter.

Quadro 7
Números de participantes e quantitativo de filhos

Fonte: Elaborado pelo autor

Ao observar o Quadro 07, observa-se que 74% dos alunos têm mais de um filho. Isso pode indicar maior dificuldade de permanência na escola porque as responsabilidades familiares aumentam, além da preocupação em permanecer no mercado de trabalho para obter sustento.

Na quinta questão, Quantas pessoas moram com você? Observamos que 16 participantes moram com até duas pessoas (21%) e 59 vivem com no mínimo três e no máximo dez (79%). Ou seja, os estudantes da EJA pertencem a grupos familiares composto com pelo menos três pessoas, são responsáveis por manter o sustento, e isso se configura como desafio enfrentado por esses estudantes para se mantiver assíduos às aulas.

Na sexta pergunta tínhamos o objetivo de compreender em que regiões da cidade moram os estudantes, para isso fizemos o seguinte questionamento: Você mora em qual bairro? Observamos que escolas que aderem à modalidade da EJA são escolas periféricas, afastados do centro da cidade, onde os índices de pobreza, criminalidade, violência e falta de infraestrutura são altos. Essa situação não é diferente com a escola onde desenvolvemos a pesquisa, em que os estudantes moram no mesmo bairro ou bairros vizinhos.

Os dados mostraram que apenas 09 participantes moram no mesmo setor que a escola, os demais são de bairros circunvizinhos, também periféricos, tais como: Eldorado (12 alunos); Itaipu (9); Vitória; Palmas; Jardim Paulista; Céu Azul e Setor Alto Bonito.

Por serem bairros periféricos e apresentarem alto índice de violência, muitos alunos são surpreendidos com assaltos ou tentativas de assédio sexual na ida ou na volta da escola. Por causa do medo, muitos faltam às aulas para se resguardarem de possíveis problemas. Buscamos identificar na sétima pergunta o meio de transporte mais utilizado pelos estudantes da EJA, participantes da pesquisa. De acordo com as informações coletadas, organizamos as respostas em cinco categorias: carro, moto, bicicleta, ônibus e a pé.

Quadro 8
Relação Meio de transportes e quantidades de alunos

Fonte: Elaborado pelo autor

Os dados revelam que metade dos participantes da pesquisa se desloca a pé para a escola, o que os tornam mais vulneráveis às situações de perigo nos trajetos de ida e retorno a seus lares. A condição financeira desses estudantes pode ser um fator preponderante para a não aquisição de um meio de transporte alternativo, o que pode prejudicar o desempenho escolar. Que se justifica pelo fato de desenvolverem atividades laborais durante o dia que podem, pelo desgaste físico, se sentirem desencorajados a se deslocarem até a sala de aula.

Questionamos na oitava pergunta Qual foi à última escola e ano que você estudou? Cujo objetivo é elucidar o tempo que os participantes estiveram fora da escola.

Analisando os dados, observa-se que a maioria dos alunos advém de escolas que ofertam a modalidade EJA e que alguns participantes não frequentavam a escola a pelo menos três anos, outros não estudavam a vinte e sete anos. Essa é uma situação que preocupa e deve servir de alerta aos governantes no que se refere a políticas públicas que evitem esses acontecimentos, por outro lado é gratificante saber que essas pessoas, mesmo tardiamente, retornaram à escola com objetivo de concluir a educação básica.

Na nona pergunta perguntamos aos participantes Qual o componente curricular que mais você gosta? Verificamos os seguintes resultados: 19 preferem Língua Portuguesa; 12 gostam de Educação Física; 09 apreciam a disciplina de Matemática; seguidas de Ciências (07 alunos), História (05 alunos), Artes (04), Geografia (04) e Química, Física, Filosofia e Biologia. Muitos estudantes não responderam essa pergunta


Gráfico 2
Disciplinas que gostam
Fonte: Elaborado pelo autor

Nota-se que os participantes preferem disciplinas que não sejam das áreas de exatas, gostam daquelas que desenvolvam outras habilidades como Artes e Educação Física. Ou seja, optam por áreas totalmente distintas das ciências exatas como, por exemplo, a disciplina de Língua Portuguesa.

Questionamos aos participantes, na décima pergunta, qual seria o componente curricular que menos gostam. Os dados podem ser observados no gráfico seguinte.


Gráfico 3
Disciplinas que menos gostam
Fonte: Elaborado pelo autor

Os dados revelaram que 53% dos alunos não gostam de matemática ou áreas afins (exatas), enquanto 23% responderam ser a disciplina de Inglês. Provavelmente, os participantes apresentam dificuldades em aprender a língua inglesa e a Matemática. As demais disciplinas foram Biologia, Educação Física, História e Química. Alguns não responderam.

Podemos relacionar essa informação com os pensamentos trazidos nessa pesquisa na fundamentação teórica referente à relação profissional entre professor e aluno, e a formação de professores para trabalhar na EJA. Onde observamos que essas duas linhas de raciocino tem influência no desempenho e até mesmo na preferência ou não pela disciplina de Matemática. Pois na formação de professores, expõe que o educador matemático buscando diferentes formas de incentivar o aluno a resolver os problemas matemáticos e de como mostrar a matemática, contribuiria para essa afinidade. Para isso o educador matemático tem que buscar uma maior intimidade com a matemática e ter mais conhecimento sobre ela, então saberá utiliza-la da melhor forma com os alunos.

O que explica o alto número de estudantes que não gostam de matemática é a indisposição de pensar e calcular, desde as séries iniciais. Essa aversão à matemática pode estar relacionada com o modo como o professor a ensina, que nos leva a refletir sobre a formação de professores, bem como a falta de preparação adequada para a atuação em sala de aula.

A décima primeira pergunta consiste no seguinte questionamento: Você pretende fazer uma faculdade? Se sim, qual? Verificamos que 60 participantes, dos 75 que compõem a pesquisa, responderam que pretendem cursar uma faculdade (Ensino Superior).

Em relação aos cursos pretendidos, o de Direito é o mais desejado, seguido por Medicina, Enfermagem e Medicina Veterinária. Foram citados com menos frequência: Engenharia, Pedagogia, Agronomia, Educação Física, Odontologia, Letras, Recursos Humanos, Psicologia, Física, Estética, Zootecnia, Ciências Contábeis e Administração.

Ao ser questionado sobre os motivos que fazem com que continuem os estudos, a maioria respondeu “ter um emprego melhor”, que tenha um salário significativo, se inserir no mercado de trabalho, se qualificar.

Outro aspecto motivador apontado por muitos foi ter um “futuro melhor”. Acredita-se ser necessário concluir os estudos para conseguir esse “emprego melhor”. O terceiro motivo mais frequente foi o de “entrar na faculdade” para se formar e ter “uma vida financeira melhor”.

Alguns estudantes responderam ainda que, os motivos para continuarem os estudos, são “pelos pais” que insistem em continuar, “pelos filhos”, para realizar seus “sonhos”, “objetivos”, “metas”, para “adquirir mais conhecimento” e pela auto realização de concluir os estudos.

A motivação em continuar estudando não se restringe somente a qualificação para o mercado de trabalho, mas, sobretudo, a uma realização pessoal, a melhoria da autoestima, bem como o sentimento de utilidade, inclusão na sociedade e capacidade de alcançar as mesmas oportunidades daqueles que já concluíram os estudos.

Para finalizar, questionamos qual seria a meta para o ano de 2020. As respostas são quase unanimes, a meta é não desistir, continuar estudando e concluir o ensino médio. Superar os desafios e seguir em frente é o objetivo, desistir não pode ser mais opção para os alunos da EJA.

5. CONSIDERAÇÕES

Há muitos anos tem-se discutido e refletido sobre a qualidade de ensino no Brasil, principalmente nessa modalidade de ensino, que envolve adultos de todas as faixas etárias. O índice de pessoas com mais de 18 anos fora da escola é alto. Diante disso, apresentamos alguns fatores que levam essa evasão, a desistência dos que já estão e as dificuldades que os que persistem enfrentam na escola.

Constatamos que nossa formação não dá o suporte necessário para atuar na EJA, uma vez que a abordagem e os métodos de ensino precisam ser diferentes daqueles que utilizamos para ensinar uma criança ou um adolescente. Observamos aspectos que dificultam o processo de ensino e de aprendizagem. Em sala de aula tivemos conhecimento da realidade e dos desafios que esses alunos enfrentam.

Os estudantes da EJA encontram alguns desafios: primeiro, o preconceito por não terem terminado os estudos no tempo certo, ocasionando o sentimento de exclusão da sociedade, junto com a dificuldade de se encontrar emprego; segundo, o fato de trabalhar durante o dia e estudar a noite, fazendo com cheguem cansados ao final do dia e precisam dedicar mais quatro horas na escola.

Outro desafio é a preparação do professor para assumir uma turma de EJA. Somente a formação da graduação não prepara o professor para ministrar aula na EJA, faz-se necessário a realização de curso de formação continuada, seja uma especialização ou um curso de aprimoramento relacionado à EJA.

Conseguimos constatar outros desafios, os quais passamos a apresentá-los de maneiras sintetizada: trabalhar e estudar; a profissão que a maioria exerce é de nível fundamental, braçal e exaustivo; o fato de serem casados, uma responsabilidade que pode interferir nos estudos, pois a disponibilidade de tempo fica limitada; os que têm filhos, principalmente as mães solteiras que não tem com quem deixá-los, acabam tendo que levar para a escola; a localização das escolas em bairros periféricos, afastados do centro e com altos índices de violência; os meios de transporte utilizado pelos alunos para irem a escola

Por último, mas não menos importante, é a visão que esses alunos têm sobre a Matemática. Mais da metade dos participantes não gostam dessa disciplina, o que pode ocasionar bloqueios quanto à aprendizagem da mesma, mesmo o professor fazendo uso de diferentes métodos de ensino dessa ciência.

Apresentamos vários desafios pessoais, dificuldades e obstáculos que enfrentam os alunos, e que precisam ser superados, seja por meio de novas abordagens pedagógicas, utilização de jogos, história da matemática, a fim de superar o paradigma de que a matemática é um bicho de sete cabeças.

Para se estabelecer uma boa relação entre professor e aluno pode-se, inicialmente, recorrer a estudos e pesquisas sobre esse tema, além de rever os conceitos como ser humano, desenvolver a empatia, tudo isso contribuiria.

Essa pesquisa é de suma importância e relevância para alunos de graduação e para professores que já atuam na área, porque apresentamos informações que podem auxiliar no conhecimento do perfil dos alunos da EJA e dos desafios que acompanha essa modalidade. Que as informações aqui contidas possam auxiliar os professores que lidam com esses desafios diariamente na EJA.

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NOTAS

AGRADECIMENTOS

Não se aplica.

FINANCIAMENTO

Não houve financiamento.

CONTRIBUIÇÕES DE AUTORIA

Resumo/Abstract/Resumen: Wanderson Ramon Cardoso de Alencar e Douglas Silva Fonseca

Introdução: Wanderson Ramon Cardoso de Alencar e Douglas Silva Fonseca

Referencial teórico: Wanderson Ramon Cardoso de Alencar e Douglas Silva Fonseca

Análise de dados: Wanderson Ramon Cardoso de Alencar e Douglas Silva Fonseca

Discussão dos resultados: Wanderson Ramon Cardoso de Alencar e Douglas Silva Fonseca

Conclusão e considerações finais: Wanderson Ramon Cardoso de Alencar e Douglas Silva Fonseca

Referências: Wanderson Ramon Cardoso de Alencar e Douglas Silva Fonseca

Revisão do manuscrito: Wanderson Ramon Cardoso de Alencar e Douglas Silva Fonseca

Aprovação da versão final publicada: Wanderson Ramon Cardoso de Alencar e Douglas Silva Fonseca

CONFLITOS DE INTERESSE

Os autores declaram não haver nenhum conflito de interesse de ordem pessoal, comercial, acadêmico, político e financeiro referente a este manuscrito.

DISPONILIDADE DE DADOS DE PESQUISA

Os dados que suportam os resultados deste estudo poderão ser disponibilizados mediante solicitação plausível, cabendo aos autores determinar a plausibilidade da solicitação, bem como as condições (licença) de acesso e uso.

CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM

Não se aplica

COMO CITAR – ABNT

ALENCAR, Wanderson Ramon Cardoso de; FONSECA, Douglas Silva. Desafios no ensino-aprendizagem na educação de jovens e adultos – EJA em Araguaína-TO. REAMEC – Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática. Cuiabá, v. 9, n. 2, e21062, maio-agosto, 2021. https://doi.org/10.26571/reamec.v9i2.12856

COMO CITAR - APA

Alencar, W. R. C. de; & Fonseca, D. S. (2021). Desafios no ensino-aprendizagem na educação de jovens e adultos – EJA em Araguaína-TO. REAMEC – Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática. Cuiabá, 9(2), e21062. https://doi.org/10.26571/reamec.v9i2.12856

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Licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BY-NC 4.0). Esta licença permite compartilhar, copiar, redistribuir o manuscrito em qualquer meio ou formato. Além disso, permite adaptar, remixar, transformar e construir sobre o material, desde que seja atribuído o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico.

DIREITOS AUTORAIS

Os direitos autorais são mantidos pelos autores, os quais concedem à Revista REAMEC – Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática - os direitos exclusivos de primeira publicação. Os autores não serão remunerados pela publicação de trabalhos neste periódico. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico. Os editores da Revista têm o direito de proceder a ajustes textuais e de adequação às normas da publicação.

PUBLISHER

Universidade Federal de Mato Grosso. Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Matemática (PPGECEM) da Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática (REAMEC). Publicação no Portal de Periódicos UFMT. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da referida universidade.

EDITOR

Dailson Evangelista Costa

Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6068-7121

Lattes: http://lattes.cnpq.br/9559913886306408

Autor notes

* Graduação em Licenciatura Plena em Matemática pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Professor da educação básica na Escola Estadual Manoel Alves Grande (EEMAG), Campos Lindos, Tocantins, Brasil. Endereço para correspondência: Rua 23, QD-09 LT-11, Lago Azul 1, Araguaína, Tocantins, Brasil, CEP: 77827-240.
** Doutorado em Educação Matemática pela Universidade Anhanguera de São Paulo (UNIAN). Professor adjunto da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Araguaína, Tocantins, Brasil. Endereço para correspondência: Av. Paraguai, S/N, Cimba, Araguaína, Tocantins, Brasil, CEP: 77824-738.

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