DENOMINAÇÕES PARA ‘CANJICA’ E ‘CURAU’ NO ATLAS LINGUÍSTICO QUILOMBOLA DO MOXOTÓ-IPANEMA DE PERNAMBUCO (ALQUIMIPE)

Autores

  • Edmilson José de Sá edjm70@gmail.com
    Centro de Ensino Superior de Arcoverde

Palavras-chave:

Atlas linguístico, Quilombo, Moxotó-Ipanema, Curau e canjica.

Resumo

Este artigo tem o intuito de apresentar a variação lexical na fala de algumas comunidades quilombolas de microrregiões pernambucanas, localizadas entre o Agreste e o Sertão do Estado. Para tanto, usou-se o corpus coletado para a construção do primeiro atlas linguístico quilombola do Estado, nomeado de Atlas Linguístico Quilombola do Moxotó-Ipanema de Pernambuco (ALQUIMIPE) e, para o momento, foram usadas as respostas a perguntas que visavam a coleta de denominações para a canjica e o curau, dispostas nos campos semânticos alimentação e cozinha.  A partir de um estudo histórico sobre a escravidão e os descendentes dos escravos de Pernambuco que habitam comunidades construídas em fuga, foi possível identificar as raízes africanas no Estado desde o século XVII, perpassando pela construção do Quilombo dos Palmares, de onde parte dos descendentes dos escravos que escaparam vivem hoje pelas serras e morros pernambucanos. Com o aporte acerca da Dialetologia e da Geolinguística, necessário à fundamentação teórico-metodológica para a criação de atlas, explicitaram-se os parâmetros para a construção do ALQUIMIPE, que culminou na construção de 31 cartas linguísticas, sendo 11 fonéticas e 20 léxicas. O destaque para as variantes de canjica permitiu identificar sete denominações, das quais parte delas se originam de idiomas africanos, como foi apresentado na análise etimológica, do mesmo modo que ocorreu com as variantes para curau, que teve seis denominações registrados nos inquéritos, o que levou a concluir que a cultura quilombola oriunda de etnias que a fundaram ainda está presente, inclusive na língua que falam.

Biografia do Autor

Edmilson José de Sá, Centro de Ensino Superior de Arcoverde

Edmilson José de Sá é professor de Língua Portuguesa e Literatura no Centro de Ensino Superior de Arcoverde (PE) - CESA; colaborador no Profletras - UPE - campus Garanhuns (PE)

Referências

ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FRAGA Filho, Walter. Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.

ARAGÃO, Maria do Socorro Silva de. Africanismos no português do Brasil. Revista de Letras - Vol. 30 - 1/4 - jan. 2010/dez. 2011.

BENJAMIN, Roberto. Cultura pernambucana. João Pessoa: Grafset, 2011.

DICIONÁRIO ELETRÔNICO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Versão Monousuário 3.0 São Paulo: Objetiva, junho de 2009

FRIEIRO, E. Feijão, angu e couve: ensaio sobre a comida dos mineiros. B. Horizonte, Itatiaia, 1982, p.158.

GOULART, Maurício. A escravidão africana no Brasil: das origens à extinção do tráfico. São Paulo: Alfa-Ômega. 1975.

LABOV, William. Field methods used by the project on linguistic change and variation", dins. In: BAUGH, J. ; SHERZER, J. (eds.) Language in use: Readings in sociolinguistics, Englewood Cliffs: NJ Prentice-Halle.1984.

_____. Sociolinguistic patterns. Philadelphia, PA: University of Pennsylvania Press, 1972.

LOPES, Nei. Novo dicionário banto do Brasil. Rio de Janeiro: Pallas, 2012.

MARGOTTI, Felício Wessling. Geolinguística pluridimensional: desafios metodológicos. Anais do Encontro do Círculo de Estudos Linguísticos do Sul. Pelotas, Educat, 2008, p.1-9.

_____. Difusão sócio-geográfica do português em contato com o italiano no sul do Brasil. Tese de Doutorado. Porto Alegre: UFRGS, 2004.

MELLO, José Antônio Gonsalves de. João Fernandes Vieira. Recife: Universidade de Recife, 1953.

MENDONÇA, Renato. A influência africana no português do Brasil. 2. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1973.

MILLER, Joseph C. Légal Portuguese Slaving from Angola. Some Preliminary Indications of Volume and Direction. In: Revue française d'histoire d'outre-mer, tome 62, n°226-227, 1er et 2e trimestres 1975. La traite des Noirs par l'Atlantique : nouvelles approches. pp. 135-176.

VIEIRA, António. Cartas do Padre António Vieira. (Coordenadas e anotadas por J. Lúcio d'Azevedo). Tomo I. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1925.

PEREIRA DA COSTA, Francisco Augusto. Vocabulário pernambucano. Revista do Instituto Archeológico, Histórico e Geográphico Pernambucano - Separata do volume XXXIV. Recife: Imprensa Oficial, 1937.

RAZKY, Abdelhak ; RIBEIRO, Celeste Maria da Rocha; SANCHES, Romário Duarte. Atlas Linguístico do Amapá. São Paulo: Labrador, 2017.

SAMPAIO, Francisco Coelho. História de Pernambuco. São Paulo: Editora Atual, 2008.

SETTE, Hilton ; ANDRADE, Manuel C. Geografia e história de Pernambuco. São Paulo: Editora do Brasil S/A, 1959.

TEIXEIRA, Francisco M.P. ; CHIANCA, Rosaly Braga. História e geografia de Pernambuco. Projeto Identidade. São Paulo: Ática, 2012.

THUN, Harald; ELIZAINCÍN, Adolfo. Atlas diatópico y diastrático del Uruguay (ADDU), I, 1-2, Kiel: Westensee-Verlag, 2000.

Publicado

2020-10-05

Como Citar

DE SÁ, E. J. DENOMINAÇÕES PARA ‘CANJICA’ E ‘CURAU’ NO ATLAS LINGUÍSTICO QUILOMBOLA DO MOXOTÓ-IPANEMA DE PERNAMBUCO (ALQUIMIPE). Polifonia, [S. l.], v. 27, n. 47, 2020. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/view/9830. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Outros lugares