Criações endógenas no kaingang como estratégia de preservação lexical

Autores

  • Fabiana Alencar da Silva fabianalencar7@gmail.com
    Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
  • Gean Nunes Damulakis damulakis@letras.ufrj.br
    Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Palavras-chave:

empréstimos, criações endógenas, preservação lexical.

Resumo

Neste artigo apresentamos uma análise da permanência ou desuso de itens lexicais do Kaingang, devido ao contato com o Português Brasileiro. Para isso, traçamos um comparativo de dados coletados em nossa pesquisa de campo feita em 2016 e 2018, nas Terras Indígenas de Nonoai e de Serrinha (Rio Grande do Sul), com dados presentes nas listas vocabulares ou dicionários (Vocabulário da língua bugre (1852); Val Floriana (1920); e Wiesemann (2002)). Dados coletados recentemente nos permitiram identificar a predominância de dois processos para a nomeação de elementos culturais emprestados: os empréstimos lexicais (p. ex. kãvãru [k)w)ÈRu] ‘cavalo’, bi[s]i[kl]eta bicicleta’) e as criações endógenas (AUTOR2 & AUTOR1, no prelo: p. ex. goj kron fã (“bebedor” de água para ‘bebedouro’). Baseando-nos na metodologia sociolinguística (Weinreich, Labov & Herzog, 1968), a proposta central deste trabalho foi verificar criações endógenas em competição com os empréstimos, uma vez que a preferência pela primeira estratégia pode indicar uma atitude linguística de preservação lexical da língua indígena, por parte dos falantes. Também discutimos a relevância de tornar conscientes esses processos no ensino da língua indígena materna e para os falantes em geral, de modo que possam servir como ferramentas de preservação lexical da língua minorizada.

Biografia do Autor

Fabiana Alencar da Silva, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Bolsista CNPq. Graduada em Licenciatura Letras: Português e Literaturas da Língua Portuguesa, na UFRJ. Atualmente, está dando continuidade ao estudo sobre inovações lexicais no Kaingang (língua Jê). Interesse em estudos com ênfase em pesquisas sociolinguísticas e contato linguístico.

Gean Nunes Damulakis, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Membro do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGL/UFRJ) e Professor Associado I no Departamento de Linguística e Filologia da Faculdade de Letras da UFRJ. Coordenador do PROFLETRAS (Mestrado Profissional em Letras/UFRJ), do qual é membro desde 2014.  Tem experiência nas áreas de Educação Escolar Indígena, Ensino de Língua Alemã, Ensino de Língua Portuguesa e de Lingüística, com ênfase em Teoria e Análise Lingüística, pesquisando principalmente nos seguintes temas: línguas indígenas, português, alemão, fonologia e variação.

Referências

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Publicado

2021-03-25

Como Citar

ALENCAR DA SILVA, F.; NUNES DAMULAKIS, G. Criações endógenas no kaingang como estratégia de preservação lexical. Polifonia, [S. l.], v. 27, n. 48, 2021. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/polifonia/article/view/10865. Acesso em: 18 abr. 2024.