Dossiê Temático - Conhecimentos ancestrais e a sobrevivência multiespécie: experiências de vidas compartilhadas para uma ética ecológica
As sociedades humanas conseguiram existir e resistir ao longo do tempo no planeta porque desenvolveram conhecimentos e estratégias inteligentes e eficientes em suas relações com a “natureza”, permitindo não apenas uma coexistência como, também, refinando-a e aperfeiçoando-a. Hoje, estamos cada vez mais convencidos de que a memória coletiva da espécie humana se encontra mais no conjunto de sabedorias que permanecem existindo enquanto múltiplas e diversas formas vivas de apreender e se relacionar com o mundo, do que na acumulação detalhada, massiva, descomunal e inexpugnável do conhecimento científico, orientado pela especialização, fragmentação e mercantilização da realidade (Toledo e Barrera-Bassols, 2015).
Diante disso, parte do nosso compromisso com o “adiamento do fim do mundo” (Krenak, 2019) talvez esteja em devolver viva ao mundo a subjetividade, a capacidade agenciadora que tentamos lhes retirar e a reparação histórica aos povos indígenas, as comunidades tradicionais e as populações locais, baseadas no reconhecimento da imensa e complexa inteligência que há nos conhecimentos e práticas “[...] realizadas, guardadas, transmitidas e aperfeiçoadas no decorrer de longos períodos de tempo, sem as quais a sobrevivência dos grupos humanos não teria sido possível” (Toledo e Barrera-Bassols, 2015, p. 33). Certamente, a nossa possibilidade de redenção neste mundo fraturado está em acionar a memória da espécie, que é infinitamente mais rica e criativa do que as formas de conhecer e
conviver sugeridas pela racionalidade econômica e tecnocrática, que aprendemos e reproduzimos através da ciência moderna e da economia capitalista.
Assim, convidamos para integrar este dossiê, autores, autoras e trabalhos que retratam aspectos da memória biocultural de diferentes grupos étnicos, enquanto expressões da memória da espécie humana. Esta proposta expande o escopo da revista, tradicionalmente conhecida pelos trabalhos relacionados à etnobotânica, para reunir experiências de vidas compartilhadas de humanos, bichos, plantas e outros seres, que apontem para uma ética ecológica e que indiquem um caminho possível e viável de coabitação dos humanos com o mundo-mais-que-humano.
São bem-vindos trabalhos que resultem de experiências transdisciplinares (Morin, 2001), que apresentem discussões a partir dos usos dos conhecimentos tradicionais associados ao patrimônio genético, aos conhecimentos das sócio-biodiversidades, das relações multiespécies, das cosmologias e das ontologias “nativas”.
Público-alvo:
Pós-graduandos/as, pesquisadores/as, povos e comunidades tradicionais.
Normas:
Seguir as normas da Revista Flovet (https://l1nq.com/1U9Wi) e de acordo com a ABNT.
Prazo para submissão: De Nov/24 a Set/25.