Revista Geoaraguaia ISSN:2236-9716Barra do Garças –MTv.12, 2022 Esp. Dossiê Educ.GeografiaRevista Geoaraguaia –ISSN: 2236-9716–V.12n.Especial Dossiê Educação em GeografiaOut-202280Educação Geográfica Para aCidadania na Perspectiva do Currículo de Teresina/Piauí/Brasil Geographic Education For Citizenship From The Perspective of The Curriculum of Teresina/Piauí/BrazilMiguel da Silva Neto12Francisca Djalma Pereira Rodrigues e Silva3Raimundo Lenilde de Araújo4ResumoEducar para a cidadania significa formar pessoas autônomas, que conheçam e exerçam os seus direitos e deveres em sociedade, a partir de discussões científicas realizadas em situações deensino-aprendizagem escolar por meio da mediação didática. Nesse contexto, o texto tem como objetivo discutir a contribuição da disciplina Geografia, enquanto integrante da estrutura curricular utilizada na rede municipal de ensino de Teresina/PI, como possibilidade para a formação cidadã na realidade escolar. A pesquisa bibliográfica em educação geográfica para a cidadania fundamentou-se em Callai (2001; 2018), Cavalcanti (2012) e García-Perez (2021) e a pesquisa documental a partir de Brasil (2018) Base Nacional Comum Curricular-BNCC e do Novo Currículo para Geografia conforme Teresina (2018). Devido à complexidade de estudar todos os anos, optou-se pelos anos iniciais (do 1º ao 5º ano) com vistas a perceber as características da formação e promoção da cidadania a partir do ensino de Geografia com ênfase nas unidades temáticas e objetos do conhecimento. Concluiu-se que hávalorizaçãode práticas educativas na perspectiva da construção da cidadania, pois foi revisado e atualizado de acordo com as orientações da BNCC. Dessa maneira, a Geografia é necessária como contribuição no processo de ensino-aprendizagem, ao promover reflexões sobre a sua vivência, em parceria com docentes, currículo e escola, no sentido de que os conhecimentos geográficos no currículo sejam estudados e não se caracterizem meramente como utopia. Palavras-Chave:Educação Geográfica; Currículo; Cidadania; Teresina.1O autor Miguel da Silva Neto, é bolsista do Programa de Demanda Social da CAPES. Nossos agradecimentos pelo apoio à pesquisa.2Discente do Mestrado em Geografia da UFPI.netomiguel73@gmail.comORCID: https://orcid.org/0000-0002-7918-65863Discente do Mestrado em Geografia da UFPI. profrancisca.43@gmail.comORCID: https://orcid.org/0000-0001-5144-91994Docente do PPGGEO e do PPGPP da UFPI.raimundolenilde@ufpi.edu.brORCID: https://orcid.org/0000-0002-5491-0996
Revista Geoaraguaia ISSN:2236-9716Barra do Garças –MTv.12, 2022 Esp. Dossiê Educ.GeografiaRevista Geoaraguaia –ISSN: 2236-9716–V.12n.Especial Dossiê Educação em GeografiaOut-202281AbstractEducating for citizenship means training autonomous people, who know and exercise their rights and duties in society, considering that from scientific discussions carried out in school teaching-learning situations, through didactic mediation, the internalization of scientific knowledge consolidates. In this context, the text aims to discuss the contribution of the Geography discipline, as part of the curricular structure used in the municipal education network of Teresina/PI, as a possibility for citizen formation in the school reality. The bibliographic research on geographic education for citizenship was based on Callai (2001; 2018), Cavalcanti (2012) and García-Perez (2021) and the documentary research based on the National Common Curricular Base -NCCB, Brazil (2018) and of the New Curriculum for Geography, according to Teresina (2018). Due to the complexity of studying every year, the initial years (from 1st to 5th year) were chosen in order to understand the characteristics of the formation and promotion of citizenship from the teaching of Geography with an emphasis on thematic units and objects of knowledge. It was concluded that the valorization of educational practices in the perspective of the construction of citizenship, as it was revised and updated according to the guidelines of the BNCC. In this way, it is concluded that Geography is important for the construction of the teaching-learning process, by promoting reflections on its experience, in partnership with teachers, curriculum and school, in the sense that geographic knowledges in the curriculum are studied and not characterized merely as utopia. Keywords:Geographic Education;Resume; Citizenship; Teresina. IntroduçãoO currículo possui trajetória longa que necessita de estudos e pesquisas para o entendimento de sua constituição, ao mesmo tempo em que mesmo diante dos estudos que foram desenvolvidos ao longo dos anos, definir a conceituação para o currículo é um movimento complexo, diante de subjetivações existentes, em função de posicionamentos teóricos, científicos, além de realidades empíricos e interesses particulares, esse por último, transforma o currículo em objeto de poder, de disputa.Para Sacristán (2013, p. 16) “[...] o currículo também tem o sentido de construir a carreira do estudante e, de maneira mais concreta, os conteúdos deste percurso, sobretudo sua organização, aquilo que o aluno deverá aprender e superar e em que ordem deverá fazê-lo”, além disso, o currículo seria o direcionador do processo de ensino-aprendizagem, nele estariam contidos os conteúdos que os alunos devem ter acesso ao longo da sua trajetória no âmbito da educação.
Revista Geoaraguaia ISSN:2236-9716Barra do Garças –MTv.12, 2022 Esp. Dossiê Educ.GeografiaRevista Geoaraguaia –ISSN: 2236-9716–V.12n.Especial Dossiê Educação em GeografiaOut-202282E ainda nessa perspectiva, o currículo pode ensinar como argumenta Sacristán (2013, p. 17) “[...] o currículo a ensinar é uma seleção organizada dos conteúdos a aprender, os quais, por sua vez, regulam a prática didática que se desenvolve durante a escolaridade”, é a base para que os conteúdos sejam sistematizados, o que evita desorganização ou justaposição. Em relação ao objeto de estudo, o Currículo de Geografia de Teresina/PI, questionou-se: será que esse documento, de fato, garante a seleção de conteúdos da disciplina Geografia, de forma que a comunidade escolar tenha os fundamentos necessários para construírem a sua cidadania? De que maneira o currículo traz a prática cidadã pelo viés geográfico, quer na abordagem teórica ou na realidade prática?Nesse sentido, o objetivo foi estudar alguns aspectos do currículo municipal da disciplina Geografia, nos anos iniciais, a partir do esforço para perceber a educação geográfica para a cidadania por meio das unidades temáticas e objetos do conhecimento. Para os objetivos que foram propostos, utilizou-se a pesquisa bibliográfica que de acordo com Severino (2007, p. 122) “é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos [...]”, nesta perspectiva, a pesquisa de materiais ocorreu mediante a consulta em artigos, livros e periódicos de autores que discutem os aspectos abordados neste texto.Apontamentos Sobre Educação Geográfica Para a CidadaniaAo longo da trajetória durante o processo de educação, os jovens vão às escolas para ter acesso ao conhecimento científico aos longos dos anos, nesse sentido, Deon e Calai (2018, p. 277) dizem que “[...]é importante que os currículos das escolas incluam o conhecimento poderoso que, uma vez adquirido pelos jovens, possa influenciar na forma como poderão interpretar e transformar sua realidade social e o contexto em que vivem”, para que, dessa forma, os alunos possam construir uma visão crítica e participativa no seu lugar de vivência. Souto e Claudino (2019, p. 4-5) argumentam que “à Geografia compete colaborar na construção do conhecimento das instituições e, sobretudo, na explicação dos problemas socioterritoriais, para favorecer a participação cidadã.”,
Revista Geoaraguaia ISSN:2236-9716Barra do Garças –MTv.12, 2022 Esp. Dossiê Educ.GeografiaRevista Geoaraguaia –ISSN: 2236-9716–V.12n.Especial Dossiê Educação em GeografiaOut-202283portanto, a partir dos conteúdos do currículo, o aluno pode construir as habilidades necessárias para participar em sua comunidade. E nessa perspectiva, sob a ótica da educação geográfica, as mesmas autoras ainda comentam que, “[...] a educação para a cidadania é aquela que proporciona, além do acesso aos conhecimentos, a capacidade de construir e operar com conceitos, a formação de valores, normas para a vivência na vida pública.” (DEON; CALLAI, 2018, p.278), ou seja, é tendo acesso ao conhecimento poderoso, que os alunos terão a capacidade de adquirir as habilidades e as competências para construir os seus conhecimentos geográficos,[...] à educação para a cidadania pelo viés da Geografia compete o desenvolvimento de uma base conceitual, bem como a compreensão do lugar e a partir dele a ligação com as escalas de análise (local e global, global e local), possibilitando aos alunos a leitura do mundo. (DEON; CALLAI, 2018, p.286)Segundo esses parâmetros, a cidadania é um conceito, que na educação básica, é trabalhado de forma transversal, sobretudo, nas ciências humanas, logo, ela possui diversas abordagens, na Geografia não é diferente, nos últimos anos, esse conteúdo vem sendo pautado nas discussões da disciplina, sobretudo, por conta da relação do ser humano com o espaço, tratada na Geografia, e pontuada nos documentos curriculares recentes. E na perspectiva da cidadania, Callai (2001, p. 136) menciona que, “a educação para a cidadania é um desafio para oensino e a Geografia é uma das disciplinas fundamentais para tanto”, diante disso, é necessário que os conteúdos das aulas de Geografia sejam trabalhados de forma que o aluno construa a sua cidadania de formas mais participativas e reais, portanto,A construção da cidadania depende do sentimento de pertencimento ao lugar em que se vive, que a pessoa se reconheça como sujeito integrante de uma realidade, sendo parte de uma história e de um espaço construído pela vida dos homens, como fator indispensável para a comunidade, e não como simplesmente mais um integrante no mundo. (CALLAI, 2018, p.27)Nesse sentido, a escola possui papel fundamental na formação cidadã, essa ideia já é clara, portanto, é necessário delimitar significados mais concretos do conceito de cidadania até porque de acordo com Cavalcanti (2012, p. 46), “formar cidadão é um projeto que tem como centro a participação política e coletiva das pessoas nos destinos da sociedade e da cidade”, ou seja, a
Revista Geoaraguaia ISSN:2236-9716Barra do Garças –MTv.12, 2022 Esp. Dossiê Educ.GeografiaRevista Geoaraguaia –ISSN: 2236-9716–V.12n.Especial Dossiê Educação em GeografiaOut-202284participação ativa nas decisões e no pensamento do seu espaço de vivência é essencial para a concretude da cidadania, bem como a sua prática.Ao reiterar essa ideia, Deon e Callai (2018, p. 273) argumentam que “a escola é a instituição que possui como atribuição promover o avanço da educação e do conhecimento e, por isso, garante às novas gerações o acesso ao que a humanidade produziu ao longo do tempo.”, e já que tal atribuição é dada a essa instituição as mesmas complementam que “[...] a educação para a cidadania é aquela que proporciona, além do acesso aos conhecimentos, a capacidade de construir e operar com conceitos, a formação de valores, normas para a vivência na vida pública.” (DEON; CALLAI, 2018, p. 278). Ainda nesse segmento, Garcia-Perez (2021, p. 40), considera que a educação objetiva formar cidadãos que sejam capazes de resolverem os problemas sociais e ambientais “es evidente que el sistema escolar –y por tanto el currículum –debería centrarse en educar ciudadanos y ciudadanas del mundo (no de un territorio concreto) de hoy (no del ayer), con implicación en el presente y con la mirada en el futuro”.Assim, tendo em vista os problemas da humanidade (econômicos, sociais, políticos e ambientais), que ocorrem em escala planetária, o autor pontua que uma educação para a cidadania se torna urgente. Entretanto, uma educação nesses moldes, exige uma redefinição do modelo de cidadania, bem como, do modelo educacional. Nesse contexto, a educação deve ser pensada na perspectiva de uma cidadania global. García-Perez, chama a atenção para a potencialidade da Geografia, para formar cidadãos na perspectiva da cidadania.[...] tampoco hay dudas acerca de las potencialidades de la geografía para educar en ciudadanía. La geografía –las diversas geografías –siempre se ha ocupado de los problemas espaciales, en sus distintas escalas de análisis, y la enseñanza de la geografía siempre ha tenido como finalidad básica la comprensión de dichos problemas. En ese sentido, la educación geográfica enseña a ser ciudadanos del mundo como ámbito de las actividades humanas, en cuanto que ayuda, junto con otras disciplinas, a identificar y situar en el espacio los problemas antes citados, a analizar sus características, a valorar sus consecuencias, en definitiva, a intervenir de forma responsable y comprometida en la realidad (GARCÍA-PEREZ, 2021, p. 41).
Revista Geoaraguaia ISSN:2236-9716Barra do Garças –MTv.12, 2022 Esp. Dossiê Educ.GeografiaRevista Geoaraguaia –ISSN: 2236-9716–V.12n.Especial Dossiê Educação em GeografiaOut-202285Nesse debate, García-Perez (2021), aponta alguns entraves ao ensino de Geografia voltado para a cidadania. Esses problemas, na perspectiva do autor, são de ordem epistemológica e metodológica. A prática pedagógica ainda é realizada de forma mecânica e com escassa reflexão sobre o conhecimento geográfico. Ressalta-se a necessidade de refletir sobre o conhecimento escolar, no sentido de que haja um planejamento didático que considere de maneira integrada as dimensões epistemológica, psicológica, sociogenética e ideológica, visando a aprendizagem do aluno, na perspectiva da cidadania.Por fim, o autor apresenta uma alternativa que permite o aproveitamento da potencialidade da Geografia, enquanto disciplina capaz de fornecer elementos para que os educandos compreendam a sociedade em que vivem e possam nela atuar. Para isso, propõe um modelo didático baseado na “investigación escolar” de problemas sociais e ambientais. O princípio básico norteador dessa ideia seria a “investigación de problemas”, aplicados tanto à formação do aluno como do professor.Percebe-se, portanto, que a escola é um dos principais espaços onde a construção e concretização da cidadania ocorre. Mas Callai e Moraes (2017, p. 87) destacam que “A escola por si só não “cria cidadania”, mas a partir do seu instrumental e do seu papel na vida dos estudantes pode contribuir.”, logo, se percebe que a escola não é unicamente responsável por esse processo, ela faz parte de um conjunto de instituições que juntas contribuem para a construção da cidadania.A Educação Geográfica no Currículo de Geografia de TeresinaAs primeiras escritas sobre currículo, conforme Silva (2005), foram realizadas por Bobbit, no livro The Curriculum, em 1918, tendo a fábrica como seu modelo institucional e como inspiração teórica, a administração científica de Taylor. Nesse contexto, o currículo especificava os objetivos, procedimentos e métodos, com vistas à obtenção de resultados mensuráveis. Baseado em práticas burocráticas e ensino mecânico, buscava produzir resultados satisfatórios para servir à sociedade daquele contexto histórico. O autor sustenta a ideia de que a questão central das teorias do currículo é saber o que ensinar. Associada a essa questão, está a pergunta: O que eles ou elas devem saber? Dessa forma,
Revista Geoaraguaia ISSN:2236-9716Barra do Garças –MTv.12, 2022 Esp. Dossiê Educ.GeografiaRevista Geoaraguaia –ISSN: 2236-9716–V.12n.Especial Dossiê Educação em GeografiaOut-202286o currículo relaciona-se a poder, posto que, decide o que deve ser ensinado e aprendido. Young (2007), contribui com o debate sobre conhecimento e currículo, diferenciando “conhecimento poderoso” e "conhecimento dos poderosos”. Para ele, o conhecimento poderoso, pode fornecer explicações confiáveis ou novas formas de se pensar a respeito do mundo, sobrepondo-se, então, ao conhecimento dos poderosos, produzindo conhecimento verídico e, portanto, cidadão.Nessa perspectiva, o conceito de currículo, desde seu uso inicial, representa a expressão e a proposta da organização dos segmentos e fragmentos dos conteúdos que o compõem. Logo, o documento é uma espécie de ordenação que articula os episódios isolados das ações, pois nessa organização, os conteúdos ficariam desordenados, isolados entre si ou simplesmente justapostos, provocando, assim, uma aprendizagem fragmentada e desarticulada. (SACRISTÁN, 2013)Na mesma perspectiva da educação geográfica, é importante a abordagem sobre a realidade escolar, tendo em vista que o contexto da escola é de fundamental importância para as discussões sobre o currículo e a escola. Nesse contexto,Sin embargo, la realidad escolar nos muestra un panorama poco satisfactorio en relación con estos loables propósitos. Es evidente que no basta con proclamar esta finalidad ni tampoco con el empeño (incluso la buena voluntad) de la administración educativa, de los diseñadores de currículos ni de los propios profesores y profesoras. Algo no funciona. Basta con observar los resultados escolares, la opinión del alumnado y del profesorado y sobre todo la dinámica de las aulas para comprender que hay algunos importantes obstáculos que dificultan el logro de la noble finalidad educativa a la que nos estamos refiriendo. En efecto, la enseñanza de la geografía no parece estar contribuyendo a formar jóvenes ciudadanos y ciudadanas que comprendan los graves problemas del mundo del siglo XXI y dispongan de instrumentos (incluyendo aquí actitudes y compromiso real) para intervenir en su solución. (GARCÍA-PÉREZ, 2021, p. 5)A análise conjuntural do Século XXI aponta as problemáticas curriculares existentes dentro do espaço escolar, seja com relação aos conteúdos ministrados, seja na satisfação dos mesmos, no sentido de conhecer os obstáculos impeditivos do conhecimento e a sua reflexão. Nesse sentido, de forma a organizar os conteúdos educacionais que serão ministrados na educação básica, o currículo apresenta-se como um documento direcionador de tal ideia, nessa perspectiva, pode-se ter currículos que sejam tomados como uma base nacional, regional e local.