FORMAÇÃO E AQUISIÇÃO DE CONCEITOS NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS COMO L2, UMA NECESSIDADE

Formation et acquisition de concepts dans le processus d’apprentissage de langue portugaise comme l2 pour les sourds, une nécessite

Sebastiana Almeida SOUZA1

RESUMO: Este trabalho pretende abordar, sob a luz de teorias discursivas e da aprendizagem, reflexões acerca da formação e aquisição de conceitos no processo de aprendizagem dos estudantes surdos do Curso de Letras Libras, licenciatura da Universidade Federal de Mato Grosso, através do desenvolvimento de atividade de análise do gênero charge, numa perspectiva dialógica nos encontros no Laboratório de Aprendizagem Avançada (LAA). Também desenvolveremos a reflexão dos conceitos elaborados na coletividade referentes às palavras seca e molhado, apresentada numa atividade de leitura que tratava da temática de um menino que morava em uma terra seca. Mediante tal reflexão, desenvolvemos práticas pedagógicas explorando experiências e conhecimentos dos estudantes acerca dos sentidos das palavras, concretizando-se a concepção e a formação dos conceitos de forma interativa e dialógica. Enfatiza-se que este estudo, em andamento, está fundamentado no arcabouço teórico de Bakhtin e o Círculo e nas contribuições de Vygotsky sobre aprendizagem na perspectiva sócio-histórica.

PALAVRAS-CHAVE: Língua Portuguesa como L2. Metodologia. Formação e aquisição de conceitos. Leitura e Escrita.

RESUME : Ce travail se propose d’aborder, à la lumière de théories discursives et de l’apprentissage, des réflexions sur la formation et l’acquisition de concepts dans le processus d’apprentissage des étudiants sourds du Cours de Lettres Libras, licence de l’Université Fédérale du Mato Grosso, à travers le développement d’activité d’analyse du genre charge, dans une perspective dialogique, lors des réunions du Laboratoire d’Apprentissage Avancée (LAA). Il est à noter que nous développerons également la réflexion sur les concepts élaborés dans le collectif en faisant référence aux mots sèche et mouillé présentés dans une activité de lecture qui avait comme thème un garçon qui vivait sur une terre sèche. À travers cette réflexion, nous développons des pratiques pédagogiques explorant les expériences et les connaissances des élèves sur la signification des mots. Ainsi, la conception et la formation de concepts de manière interactive et dialogique se sont concrétisées. Il est souligné que cette étude, en cours, est ancrée dans le cadre théorique du Cercle de Bakhtine et dans les contributions de Vygotsky sur l'apprentissage du point de vue sociohistorique.

MOTS-CLES: Méthodologie. Formation et acquisition de concepts. Lecture et écriture.

1. INTRODUÇÃO

O Laboratório de Aprendizagem Avançada, através do atendimento especializado ofertado na Universidade Federal de Mato Grosso, vem desenvolvendo práticas pedagógicas por meio de um processo dialógico de constituição de conhecimentos entre a pesquisadora e os estudantes surdos, em que ambos são sujeitos aprendentes no processo.

Assim, o Laboratório busca desenvolver atividades que venham ao encontro das necessidades dos estudantes surdos, sempre envolvendo conteúdos e situações que advém das dificuldades, dúvidas e incertezas destes no seu processo de aprendizagem, pois acreditamos que é necessário partir daquilo que eles têm interesse e do que é necessário para sua vida acadêmica.

Desse modo, descreveremos o desenvolvimento de uma atividade realizada no Laboratório de Aprendizagem Avançada (LAA), em que fora analisada uma charge, buscando explorar o sentido e compreensão dos conceitos através da leitura e produção textual.

Exemplificaremos, ainda, uma situação vivenciada em uma atividade de leitura, em que fora trabalhado a formação e aquisição do conceito das palavras seca e molhado, compartilhando o sentido no processo de interação.

2. ANÁLISE DA CHARGE/ SENTIDOS E CONCEITOS!

Iniciaremos explicitando como aplicamos a metodologia para a efetivação do processo de análise dos significados da charge e, posteriormente, da produção textual. Logo, discriminamos abaixo as etapas que foram seguidas:

- Apresentação da charge;

- Verificação dos tipos de conhecimentos que o estudante possui: linguístico, enciclopédico/prévio ou linguístico;

- Leitura individual/coletiva sobre a charge;

- Seleção da palavra-chave para levantamento dos conhecimentos dos estudantes;

- Produção textual;

- Análise da leitura e da produção textual de cada estudante de forma individual e coletiva;

- Exploração dos significados e sentidos das palavras em situações de contextos diferentes, de maneira compartilhada;

- Pesquisa acerca dos sentidos das palavras e seu uso nas diversas situações comunicativas no texto;

- Desenvolvimento do estudante na lousa, exposição e explicação;

- Correção e complementação pelo estudante das contribuições dos colegas em sua produção;

- Interação coletiva a respeito da produção textual do colega, e a análise da intertextualidade e interdisciplinaridade para melhor compreensão e conhecimento sobre o tema dialogado no coletivo;

- Efetivação da afetividade na relação da Pesquisadora e Estudantes, compreendida como um processo mútuo e recíproco de aprendizagens.

Figura 1. Charge/

Fonte: acervo da autora.

Seguidamente, refletimos acerca de toda a crítica que envolve a charge apresentada, retiramos a palavra-chave e passamos para a lousa para a escrita das palavras que envolvem a temática para melhor compreensão do todo.





Figura 2. Reflexão coletiva na lousa

Fonte: acervo da autora


Os estudantes elegeram como palavra-chave a palavra corrupção, pois, na concepção deles, a eleição atualmente no Brasil tem sinônimo de corrupção. Assim, num dado momento, um estudante inferiu que “político comprar voto de Maria”. Nesse momento, a pesquisadora indagou que, nesse caso, quem é o corrupto? Houve uma pausa, em seguida, começaram as discussões, e um dos estudantes afirmou que era o político e Maria, político porque compra o voto e Maria porque vende o voto. A pesquisadora então questionou o porquê da Maria ser corrupta. Os estudantes apenas afirmaram que é “porque ela não é mais dona do voto, não tem mais opinião”.

A pesquisadora então escreveu na lousa a palavra cúmplice e perguntou se alguém sabia o que significava aquela palavra, todos balançaram a cabeça negativamente.

Como é de praxe o compartilhamento das ideias, dúvidas e conhecimentos no processo de interação, a pesquisadora faz a seguinte indagação:

- Pensem, Maria, ao vender o seu voto para o político, será que ela está concordando com ele?

Todos admitiram que sim.

- Então, o que é cúmplice?

Nesse momento, uma estudante pesquisou a palavra no dicionário e respondeu que significava coadunado, aliado. Daí, com uma expressão de desentendimento, sinalizou, o que são essas palavras?

A pesquisadora disse o que significava cúmplice, era alguém que estava aliado com suas ideias.

A estudante fez cara de espanto, sinalizou dizendo: “Então, Maria é igual ao político, corrupto”.

Esse exemplo vem corroborar o quanto é importante não dar resposta aos estudantes, mas problematizar situações que promovam o raciocínio para que possam desenvolver respostas e perguntas no seu intelecto e, assim, chegar à formação e aquisição da compreensão dos conceitos.

Segundo Razuck (2011, p. 100), o processo de aquisição de conceitos é complexo, linear e fundamental para o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores, envolvendo operações intelectuais dirigidas pelo uso de palavras que culminarão nesse desenvolvimento. Complementa ainda que “para aprendizagem de um conceito científico é necessário, primeiramente, o acesso à informação externa (em geral difundida no ambiente escolar)” e, em seguida, uma intensa atividade mental por parte do educando para conseguir compreender e aprender tal conceito, pois esses não são aprendidos mecanicamente.

Coadunamos com Vygotsky (1996) quando destaca que mais importante do que a possibilidade de aprendizagem de conceitos científicos é que a escola proporcione ao estudante a conscientização de seus próprios processos mentais, uma vez que considera tal aspecto fundamental para o desenvolvimento das funções psicológicas superiores. “Os conceitos científicos implicam uma atitude metacognitiva, isto é, de consciência e controle deliberado por parte do indivíduo, que domina seu conteúdo no nível de sua definição e de sua relação com outros conceitos” (OLIVEIRA, 1992, p. 32).

Dessa forma, salientamos que buscamos, através do processo metodológico desenvolvido na aquisição dos conceitos para os estudantes surdos, buscar sempre a valorização das suas experiências e vivências, pois, assim, há o compartilhamento de ideias e a efetivação dos conceitos de forma compreensiva no coletivo, em que cada estudante tem a oportunidade de externalizar seus conhecimentos.

Considerando todo o desenvolvimento do processo que fora demonstrado, concordamos com Vygotsky quando ratifica que um conceito é mais do que um conjunto de conexões associativas respaldadas pela memória, um conceito é um ato de pensamento. Nessa perspectiva, o pensamento de Vygotsky contribui muito para as reflexões referentes à aprendizagem de conceitos científicos nos processos de escolarização. Segundo Schroedes (2007)

Algumas premissas da teoria histórico-cultural são essenciais para as abordagens teóricas: as mediações culturais transformam as funções mentais superiores em sua estrutura: as funções mentais superiores são fenômenos históricos; a atividade se constitui na unidade básica para se estudar os processos psicológicos e a aprendizagem é uma aquisição de habilidades especializadas para o pensamento. Este pensamento, não deve ser entendido apenas como sendo uma característica pessoal do estudante, mas sim como uma característica do estudante interagindo com outros e com seu professor, em atividades de instrução socialmente organizadas. (SCROEDES, 2007, p.2)

Concordamos com Schroedes, quando assegura que “a aprendizagem é uma aquisição de habilidades especializadas para o pensamento e que este pensamento não deve ser entendido apenas como característica pessoal do estudante”, mas como uma característica da interação do estudante com outros e com o professor por meio de atividades promovidas. Esse processo vem sendo construído nos encontros do LAA, uma vez que utilizamos uma metodologia de compartilhamento de saberes socialmente adquiridos pelos estudantes num processo de desenvolvimento na formação de conceitos, que vem tendo resultados no processo de leitura e escrita destes, em que vemos claramente a marca de cada estudante nas suas produções enquanto autor conhecedor dos seus dizeres.

Outra questão que nos faz trabalhar com gênero textual é que nos permite uma análise mais específica do sentido da palavra e sua formação, numa perspectiva sociointeracionista. A análise da charge no coletivo, a externalização dos conhecimentos prévios dos estudantes nos faz asseverar que falamos por enunciados concretos e não por palavras isoladas, e que tudo tem sentido dependendo do contexto em que se encontra inserido. Nesse aspecto, harmonizamos com Bakhtin (2010) quando ele afirma que:

Aprender a falar significa aprender a construir enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações isoladas e, evidentemente, não por palavras isoladas). Os gêneros do discurso organizam o nosso discurso quase da mesma forma que o organizam as formas gramaticais (sintáticas).[...]. (BAKHTIN, 2010, p.283)

Seguidamente, a pesquisadora solicitou aos estudantes que prestassem bem atenção ao enunciado “Atenção eleitor! Na hora de votar. Não se esqueça. Use a cabeça!” Depois indagou sobre o que o chargista queria dizer com o que havia escrito, por que deveria usar a cabeça?

Após toda a reflexão que se deu, a pesquisadora pediu aos estudantes que produzissem um texto. Ressalta-se que analisaremos apenas um texto de um estudante, em que focaremos o conteúdo da sua escrita a sua compreensão da temática da charge, em seguida, a complementação dos colegas.

Imagem 02: produção de texto

Fonte: acervo da autora

3. ANÁLISE CRÍTICA

Convém evidenciar que aplicamos uma nova estratégia, pedimos ao autor do texto para escrever na lousa o conteúdo, em seguida, participar junto com os colegas das adequações do seu texto referente aos elementos coesivos da Língua Portuguesa e a compreensão semântica.

Assim, a produção do estudante se dá de forma bastante repetida sobre as informações contidas na charge. Ele destaca que deve lembrar-se do número na votação. Ao final, faz uma ressalva referente à necessidade de prestar atenção e, assim, confirmar e não esquecer o número do candidato, que se encontra na cabeça.

Desse modo, ao fazermos a reflexão e a concretização da leitura no processo de interação, os outros estudantes foram lendo, fazendo os ajustes referentes à norma da Língua Portuguesa de cada parágrafo, conforme aparece demarcado na lousa.

No primeiro parágrafo, a monitora2 fez as devidas complementações referentes à norma da Língua Portuguesa, explicou também que não se pode ficar repetindo palavras, mas fazer a compreensão do enunciado.

O segundo parágrafo também apresentou a mesma informação do parágrafo anterior, o estudante W3 percebeu e apenas enunciou.

O último parágrafo retomou a informação dos parágrafos anteriores e complementou que era necessário confirmar, porém, escreveu: “atenção, na hora, não use, esquece dentro da cabeça”.

Questionado sobre o que quis dizer com “dentro da cabeça”, esclareceu que “o eleitor deveria lembrar o número do candidato que estava dentro da cabeça”.

A pesquisadora, sabendo que era possível a reflexão, questionou qual era o sentido da palavra cabeça, mais precisamente de “use a cabeça!” O estudante explicou que era “pensar em quem deve votar e não esquecer o número”.

O desenvolvimento dessa atividade nos faz verificar e certificar o quanto são inúmeras as possibilidades de estratégias que podem ser utilizadas para a aplicabilidade no processo de ensino e aprendizagem do estudante surdo.

3. DESENVOLVENDO A FORMAÇÃO DOS CONCEITOS ATRAVÉS DA INTERAÇÃO

Para melhor elucidação da formação de conceitos, daremos outro exemplo que fora discutido em sala de aula, através de uma atividade de leitura em que fora aguçada a curiosidade dos estudantes referente ao significado das palavras seca e molhado.

Imagem 03: desenvolvimento das ideias

Fonte: produção da autora

Para que possamos entender como se deu todo o desenvolvimento da prática pedagógica, faremos uma pequena contextualização de como surgiu todo o enredo.

A palavra seca apareceu em uma atividade de leitura de um texto sobre o menino Severino. Tratava-se de um menino que morava em uma terra muito seca que não chovia. Durante a atividade, refletiu-se sobre a questão geográfica da terra e quais as razões da seca, com isso surgiu o antônimo dessa palavra, que se trata do desejo de todo povo daquela terra, que vem por meio de chuvas.

Assim, no processo de reflexão com os estudantes, relacionou-se a palavra desidratação para a palavra seca e hidratação para a palavra molhada. Nesse movimento, um estudante sinalizou que:

- A árvore está seca, e explicou: seca, significa que está morta, não tem vida. Em seguida, fez a expressão da árvore morta.

A pesquisadora aproveitou o momento e problematizou a situação com a seguinte frase.

- Márcia tem a mente seca.

Naquele momento, os estudantes fizeram a expressão de dúvida e iniciaram a reflexão explanando suas opiniões acerca da palavra mente.

Mente – pequena;

- boba;

- pensamento;

A pesquisadora chamou a atenção dos estudantes para a reflexão: “Vocês querem saber o sentido da palavra mente seca, então, precisamos saber primeiramente o significado da palavra mente. Nessa situação, qual é o significado?”

- O que vocês entendem pela palavra mente?

Naquele momento, uma estudante pesquisou a palavra mente no dicionário e fez o sinal de:

- Mente = inteligência

Naquele exato momento, os estudantes ficaram pensativos, a pesquisadora então solicitou que eles refletissem: “Se a mente é inteligência, então, ela está cheia de algo, o que tem dentro da mente?”

- Alguns estudantes responderam que era conhecimento.

Um estudante então complementou: “para ter conhecimento, precisa estudar, daí, a cabeça fica cheia de informação”, e metaforizou: molhada/hidratada de conhecimento.

A pesquisadora confirmou com brilho no olhar de que este era o caminho da descoberta, daí continuou inquirindo.Mas se a mente não tiver o conhecimento, como ela fica?”

- Outro estudante, que estava o tempo todo atento às informações e que demonstrava raciocínio, sinalizou com os olhos brilhantes de quem havia descoberto algo e disse: sem ideia.

É nesse momento que refirmamos o que Bakhtin tanto teorizou, que o momento é único e irrepetível. Nem se filmássemos, conseguiríamos captar a magia e a beleza da descoberta do brilho estampado no olhar e a satisfação no rosto dos estudantes, demonstrando o quanto é importante o entendimento dos conceitos, pois a efetivação do aprendizado destes reafirma, para o professor, o quanto são inúmeras as possibilidades no processo de aprendizagem para o ser humano.

Nessa doce magia, é que a pesquisadora aproveitou e escreveu na lousa o seguinte enunciado.

- O coração do homem está molhado.

Os estudantes deram as seguintes respostas:

- Tem vida;

- Cheio de amor;

Houve um estudante que sinalizou a palavra duro, daí uma colega explicou que não é duro porque senão não teria amor, que a palavra molhado significa estar hidratado, com vida.

Com as resoluções apresentadas pelos estudantes é que iniciaremos nossas reflexões, baseando-se em Vygotsky (2005), que discorre que


[...] a memorização de palavras e a sua associação com os objetos não leva, por si só, à formação de conceitos; para que o processo se inicie, deve surgir um problema que só possa ser resolvido pela formação de novos conceitos. (VYGOTSKY, 2005, p.68)


Concordamos com Vygotsky no sentido de que, para que o processo de formação e aquisição de conceito se inicie, é necessário que haja um problema. Neste caso, ao fazermos a leitura do texto e trabalharmos a compreensão do mesmo, surgiu a palavra seca, desenvolvemos seu significado e a construção do sentido para poder entender quando esta palavra é utilizada metaforicamente. Pois, além da problemática existente no processo, ainda foi realizado o que Bakhtin vai chamar de enunciado concreto.

Nas palavras de Bakhtin (2010)


Não estamos diante de uma palavra isolada como unidade da língua nem do significado de tal palavra mas de um enunciado acabado e com um sentido concreto – do conteúdo de um dado enunciado; aqui, o significado da palavra refere a uma determinada realidade concreta em condições igualmente reais de comunicação discursiva. Por isso aqui não só compreendemos o significado de dada palavra enquanto palavra da língua como ocupamos em relação a ela uma ativa posição responsiva. – de simpatia, acordo ou desacordo, de estímulo para a ação. (BAKHTIN 2010, p.291)



Harmonizamos com Bakhtin, no sentido de não estarmos diante de palavra isolada, sempre ela será determinada pelo seu contexto, portanto, há um sentido concreto. Neste caso, o surgimento da palavra seca se deu no contexto de uma reflexão de uma leitura em que se referia sobre a região do nordeste, e quando se explorou e refletiu todo o sentido da palavra em exemplos, houve, por parte dos estudantes, uma relação ativa responsiva de cada um, pois puderam refletir sobre o que compreenderam e assim adquirir os conceitos.

4. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Um dos pontos mais relevantes do funcionamento do Laboratório de Aprendizagem Avançada e que tem contribuído para a evolução de todos é que somos APRENDENTES, o sentido dessa palavra de tamanha dimensão num processo de descobertas, questionamentos, reconhecimentos e experiências tem nos fornecido suporte para que possamos aprender e apreender conhecimentos, numa perspectiva coletiva, de valorização do conhecimento prévio e letramentos de cada estudante.

Desse modo, salientamos que a análise do gênero charge e das palavras seca e molhado nos faz reafirmar o quanto é possível o estudante surdo assimilar a aquisição dos conceitos, de forma reflexiva, num processo coletivo em que cada um externaliza suas experiências e conhecimentos, consolidando assim na clareza dos conceitos em diversos contextos.

Pela evolução que os estudantes vêm demonstrando no desenvolvimento de suas produções acadêmicas em diversas disciplinas no curso de Letras Libras é que certificamos a eficiência das atividades desenvolvidas no Laboratório de Aprendizagem Avançada. A participação dos estudantes no LAA é o de um sujeito bakhtiniano, que não é assujeitado, mas um sujeito ativo, evolutivo e autor de seus dizeres. Trata-se de uma pessoa pensante, dialógica, interativa e evolutiva no sentido de ser responsável pelas suas próprias palavras. Nas palavras de Fiorin (2008, p. 18): “no dialogismo incessante, o ser humano encontra o espaço de sua liberdade e de seu inacabamento. Nunca ele é submetido completamente aos discursos sociais [...] cada ser humano é social e individual”.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, M. M. Estética da Criação Verbal. (B. Paulo, Trad.). 5º Ed. São Paulo, Martins Fontes, 2010.

FIORIN, J. L. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2008.

OLIVEIRA. M. K. Vygotsky e o processo de formação de conceitos. IN: LA TALLE, Y, OLIVEIRA. M.K. DANTAS. H. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussões. São Paulo. Summus, 1992.

RAZUCK. R. C .S. R. A pessoa surda e suas possibilidades no processo de aprendizagem e escolarização. FE, UNB, 2011.TESE de DOUTORADO

SCHROEDER. E. Conceitos espontâneos e científicos. O processo da construção conceitual em Vygotsky. Atos de Pesquisa em Educação. (FURB), v.2, p.2, 2007.





















1 - Docente do curso de Letras Libras, licenciatura do departamento de Letras/UFMT. Doutoranda em Estudos de Linguagem- PPGEL/UFMT, cuja pesquisa versa sobre o “Ensino da Língua Portuguesa, como L2, para estudantes surdos através do atendimento especializado no ensino superior”. tianaalmeida@gmail.com

2 Trata-se de uma estudante da primeira turma atendida no Laboratório de Aprendizagem Avançada que se encontra como monitora na segunda turma.

3 - Utilizamos a letra W para denominar o autor do texto.