representação da realidade e que se impõe por vezes à própria
pesquisa. (BOURDIEU, 2012. p. 9-10).
Nesse sentido, é preciso que o papel da mulher ganhe destaque na
sociedade, conquistando outros espaços sociais, por isso em “As mulheres e a
ficção” Woolf averigua, dentro da tradição literária inglesa, os inícios da relação
mulher/escrita, centrando-se na figura autoral feminina. Além do mais, quanto à
questão da violência simbólica percebemos como “a ordem social masculina
encontra sua força na neutralidade que se atribui e na legitimidade que se
propõe a si mesma” (SANTANA, 2012, p. 106).
Essa ordem se institui como se a separação dos sexos fizesse parte da
ordem das coisas, natural e inevitável. Isso é o que Bourdieu analisa de modo
enérgico. Nessa perspectiva para o sociólogo francês Bourdieu
A ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica
que tende a ratificar a dominação masculina sobre a qual se
alicerça: é a divisão social do trabalho, distribuição bastante
estrita das atividades atribuídas a cada um dos dois sexos, de
seu local, seu momento, seus instrumentos; é a estrutura do
espaço, opondo o lugar de assembleia ou de mercado,
reservada aos homens, e a casa, reservada às mulheres; ou,
no interior da desta, entre a parte masculina, com o salão, e a
parte feminina, com o estábulo, a água e os vegetais; é a
estrutura do tempo, a jornada, o ano agrário, ou o ciclo da vida,
com momentos de ruptura, masculinos, e longos períodos de
gestação, femininos (BOURDIEU, 2012, p. 18).
Dessa forma, o autor expõe que cabe ao analista de discurso, ao
pesquisador, sócio-analista, tentar compreender esse esquema sinóptico das
oposições pertinentes aos sexos e que, como princípio de visão e divisão
sexualizante, entram na construção social do corpo como realidade sexuada.
Essa divisão das coisas, das atividades, dos espaços e do tempo segundo a
divisão sexual, normalizada e presente em estado objetivado nas coisas e em
todo mundo social, se incorpora nos corpos e nos habitus dos agentes, “[...]
funcionando como sistemas de esquemas de percepção, de pensamento e de
ação” (BOURDIEU, 2012, p. 17).
3. A “DOMESTICAÇÃO” DO “SER MULHER”