UMA ANÁLISE DA DOMESTICAÇÃO DAS MULHERES NA
(DES)CONSTRUÇÃO DO “SER MULHER” EM VIRGINIA WOOLF
An analysis of the domestication of women in (des)construction of "Being
Woman"iIn Virginia Woolf
Joana Paula Silva SOUSA
1
Vania Maria Ferreira VASCONCELOS
2
RESUMO: O presente artigo parte da análise do processo histórico de dominação
masculina sobre as mulheres como ainda sendo um fator a ser superado na
contemporaneidade. E por meio da análise de textos da autora feminista Virgínia
Woolf, abordamos os desafios das mulheres não somente no seu tempo e espaço,
mas na forma com que estas têm sofrido por seu corpo ser mulher. Buscamos ainda
analisar o uso do poder em premissas teóricas e contribuições de autores como
Bourdieu (2012); Camargo (2001); Duarte (2003), entre outros. E, partindo dessas
abordagens, discutir a representação das mulheres tendo como suporte a literatura.
Além de discutir sobre uma sociedade patriarcal, de obediência, adoração e privilégios
sociais no domínio familiar e as relações em que envolve a sociedade machista
encontrada em cada período. O papel da mulher na sociedade, a forma como ela foi e
continua sendo tratada historicamente, suas influências na sociedade, além das
reflexões sobre o papel da mulher sociedade atualmente. As diferenças entre homens
e mulheres como elo de poder, em decorrência disso perceber as transformações
decorrentes. Em suma, é importante que se busque conhecer e reconhecer nesse
processo a força das mulheres, sobretudo para compreender o “poder” que elas
representam sobre determinadas situações e condições que as envolvem.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura. Discursos. Representações.
ABSTRACT: The present article starts from the analysis of the historical process of
masculine domination on the women as still being a factor to be overcome in
contemporaneity. And through the analysis of texts by the feminist author Virginia
Woolf, we approach the challenges of women not only in their time and space, but in
the way they have suffered for their body to be a woman. We also seek to analyze the
use of power in theoretical premises and contributions of authors such as Bourdieu
(2012); Camargo (2001); Duarte (2003), among others. And, starting from these
approaches, to discuss the representation of women having as support the literature. In
addition to discussing a patriarchal society, obedience, worship and social privileges in
the family domain and the relationships in which it involves the sexist society found in
1
Mestranda em História e Letras MIHL pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras do
Sertão Central. Universidade Estadual do Ceará FECLESC/ UECE, E-mail:
joanapaula4@hotmail.com
2
Doutora em Literatura Contemporânea pela Universidade de Brasília (2014), Mestra em
Literatura pela Universidade Federal do Ceará (1999), é pesquisadora membro do grupo Vozes
Femininas e do grupo Afroletrias. Atualmente é professora Adjunta da UNILAB - Universidade
da Integração Internacional da Lusofonia Afro Brasileira, no Campus dos Malês (BA), pesquisa
e trabalha nas áreas que articulam estudos de gênero, raça e literaturas brasileira e africanas e
integra o Programa de Pós Graduação da FECLESC, como docente do MIHL - Mestrado
Interdisciplinar de História e Letras. E-mail: vaniavas@gmail.com
each period. The role of women in society, the way it has been and continues to be
treated historically, its influences on society, in addition to reflections on the role of
women society today. The differences between men and women as a link of power, as
a result of this perceive the resulting transformations. In short, it is important to seek
and recognize in this process the strength of women, especially to understand the
"power" they represent about certain situations and conditions that involve them.
KEYWORDS: Literature. Speeches. Representations.
1. INTRODUÇÃO
Quem pode medir a fúria e a violência do coração de um poeta quando preso e
emaranhado em um corpo de mulher?
Woolf (2014, p. 72).
A luta contra a opressão vivenciada pelas mulheres cotidianamente
ganha força no período da Revolução Francesa em seu contexto social e
político, que os ideais de “Igualdade, Fraternidade e Liberdade” contemplassem
as mulheres, e as levando a reivindicar por igualdade de direitos e colocasse
um fim a discriminação e em consequência tivesse igualdade dos gêneros.
Assegurando suas participações no processo social e político construído ao
longo da história, assim, desmistificando a representação estereotipada e
psicológica das mulheres por meio de discursos machistas.
As representações de uma sociedade machista retratado em textos
literários foram e são utilizadas para demonstrar a (des)construção de
identidades femininas na busca do descobrir o verdadeiro “eu”. Corroborado
pelo discurso voltado à imposição machista e da visão preconceituosa que se
tem da mulher, partes características dos elementos que compõe a hierarquia
discursiva e de gêneros. Entretanto, Virgínia Woolf em suas obras discute em
defesa as mulheres no sentido de (des)construção de uma visão de mundo em
metáforas, tanto sociais quanto psicológicas.
Vejamos o trecho a seguir que remete a consciência crítica da escritora
quanto ao papel da mulher naquela época:
Quando vocês me pediram para falar sobre […] sentei-me às
margens de um rio e ponderei sobre o significado dessas
palavras. […] as palavras não parecem tão simples (p.11), e
também a própria dificuldade de um palestrante que a principal
tarefa é dar, após um discurso de uma hora, uma pepita de
preciosa verdade para ser embrulhada nas páginas de um
certo caderno e mantida em permanente exibição (WOOLF,
2014, p. 12).
E nesse contexto é possível perceber que o modo de submissão é o
modelo de mulher que se apresentava na sociedade patriarcal, um período
que, não importava o que as mulheres sentissem, simplesmente elas
“aceitavam” o que lhes eram impostos às condições estabelecidas. O que para
a autora Virginia Woolf em seus textos é uma forma de ressaltar as
necessidades das mulheres dentro da sociedade abordadas em um mundo
machista a partir de uma narrativa de descrição simples, enfatizada pelos atos
de resistência as práticas sociais de privilégios atribuídos aos homens.
A análise feita por Virgínia Woolf em “Judite: a irmã de Shakespeare” faz
comparações de vida de um homem e de uma mulher, as punições e
facilidades do homem em conseguir uma posição na sociedade nos leva a
discorrer sobre o cânone literário que trata de contradições sócias- históricas
de regras e representações de autores reconhecidos e respeitados pelo meio
literário.
Essa discussão analisa a exclusão da mulher na literatura não fazendo
parte do interesse de críticos o que acarreta na falta de conhecimento, e assim,
paramos para observar somente os clássicos que sempre são de homens,
brancos, europeus dentre outros fatores que se nos percebem mais diversos
clássicos sem identificar a presença das mulheres.
Os textos de Virgínia Woolf são uma reflexão sobre a condição feminina
sob os posicionamentos machistas na sociedade. É importante ressaltar a
relevância de discutirmos as formas que essa escritora descreve e aborda
sobre essas mulheres de maneira há entendermos o tempo e espaço os quais
elas se encontram utilizando recursos que de forma sutil colocasse nos textos
essas discussões.
2. REFLEXÕES SOBRE A “CONDIÇÃO” MULHER
O termo mulher muito é usado pela sociedade para fazer distinções
sexuais biológicas e socioculturais atribuídos às mulheres ao longo da história,
o que torna a luta por igualdade de direitos e o reconhecimento merecido uma
resistência a esses atos pertencentes do sistema patriarcal acarretado de
preconceitos e dificuldades.
No intuito de mostrar a forma simbólica dos textos literários que
tempos discute igualdade de direitos e de gêneros e fazem reflexões sobre o
que é ser mulher na sociedade, sobretudo na sociedade contemporânea, na
defesa por um mundo profissional e intelectual no combate ao machismo
social, destacamos as experiências adquiridas através dos enfrentamentos
profissionais de muitas mulheres usarem pseudônimos masculinos para
obterem êxitos no meio literário.
Aqui estou eu, a perguntando-me por que as mulheres não
escreviam poesia durante a era elisabetana, e não tenho
certeza de como eram educadas; se alguém as ensinava a
escrever; se possuíam salas próprias; quantas mulheres
tinham filhos antes dos vinte e um anos; o que, em resumo,
elas faziam das oito da manhã até às oito da noite [...] Na
verdade, arrisco-me a dizer que Anônimo, que escreveu tantos
poemas sem cantá-los, com frequência era uma mulher... Isso
pode ser verdadeiro ou falso quem pode afirmar? , mas o
que é verdadeiro aqui, ao que me parece, revendo a história da
irmã de Shakespeare como eu a inventei, é que qualquer
mulher que tenha nascido com um grande talento no século
XVI certamente teria enlouquecido, atirado em si mesma ou
terminado seus dias em um chalé nos arredores da vila, meio
bruxa, meio feiticeira, temida e escarnecida (WOOLF, 2014, p.
36-38).
A crítica feita pela autora à posição que as mulheres ocupavam na
sociedade e a educação feminina precária em relação à dada aos homens trata
questões sociais que rebatem temas machistas referentes à domesticação das
mulheres que muitas vezes precisamos enfrentar e combater com frequência
na sociedade contemporânea em relação a igualdades de gêneros.
Segundo Duarte (2003, p. 151) [a] reação desencadeada pelo
antifeminismo foi tão forte e competente, que não promoveu um desgaste
semântico da palavra, como transformou a imagem da feminista em sinônimo
de mulher mal Amanda, machona, feia e, a gota d’água, o oposto de
“feminismo”. A forma que a descaracterização da palavra “feminista” passou a
ser representada causou no meio literário feminino, rejeição atribuída aos
estereótipos formados a partir dessa representação.
No ensaio “A posição intelectual das mulheres” Virgínia Woolf aborda as
posições negativas atribuídas às mulheres e as discordâncias entre sexos. Por
acreditarem que as mulheres eram intelectualmente inferiores aos homens.
Esse jogo de interesses em demonstrar socialmente que as mulheres não
podem ser assim consideradas iguais aos homens que para as mulheres ter
suas opiniões respeitadas. E as reflexões da autora sobre a visão tradicional
da mulher como “anjo do lar” nos permite analisar as dificuldades femininas no
mundo do trabalho, fazendo uma observação aos textos “Anônimos”.
Neste contexto a escrita anônima que Virgínia supõe dos poemas de
assumirem a autoria por não serem capazes e vivendo sob um olhar machista,
nos faz refletir ao lermos “Cem anos de perdão”, de Clarice Lispector
3
, ao se
oculta o desejo do prazer sentido pela mulher em um período em que ela não
poderia expor diante os olhares machistas que elas foram “criadas” para
“servir”. E ver o poder da mulher mesmo imersa nessa sociedade machista ela
não é refém a outros, a satisfação de seus desejos e não se importa com as
consequências.
A tradição entre sexos, tal como a conhecemos, se produz; ou,
em outros termos, de tratar a análise objetiva de uma
sociedade organizada de cima para baixo segundo o princípio
androcêntrico (a tradição cabila), como uma arqueologia
objetiva de nosso inconsciente, isto é, como instrumentos de
uma verdadeira socioanálise... Esse desvio, indo a uma
tradição exótica, é indispensável para quebrar a relação de
enganosa familiaridade que nos liga à nossa própria tradição.
As aparências biológicas e os efeitos, bem reais, que um longo
trabalho coletivo de socialização do biológico e de biologização
do social produziu nos corpos e nas mentes conjugam-se para
inverter a relação entre as causas e os efeitos e fazer ver uma
construção social naturalizada (os “gêneros” como habitus
sexuados), como o fundamento in natura da arbitrária divisão
que está no princípio não da realidade como também da
3
Ver: Cem anos de perdão. Disponível em: http://claricelispector.blogsport.com.br
representação da realidade e que se impõe por vezes à própria
pesquisa. (BOURDIEU, 2012. p. 9-10).
Nesse sentido, é preciso que o papel da mulher ganhe destaque na
sociedade, conquistando outros espaços sociais, por isso em “As mulheres e a
ficção” Woolf averigua, dentro da tradição literária inglesa, os inícios da relação
mulher/escrita, centrando-se na figura autoral feminina. Além do mais, quanto à
questão da violência simbólica percebemos como “a ordem social masculina
encontra sua força na neutralidade que se atribui e na legitimidade que se
propõe a si mesma” (SANTANA, 2012, p. 106).
Essa ordem se institui como se a separação dos sexos fizesse parte da
ordem das coisas, natural e inevitável. Isso é o que Bourdieu analisa de modo
enérgico. Nessa perspectiva para o sociólogo francês Bourdieu
A ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica
que tende a ratificar a dominação masculina sobre a qual se
alicerça: é a divisão social do trabalho, distribuição bastante
estrita das atividades atribuídas a cada um dos dois sexos, de
seu local, seu momento, seus instrumentos; é a estrutura do
espaço, opondo o lugar de assembleia ou de mercado,
reservada aos homens, e a casa, reservada às mulheres; ou,
no interior da desta, entre a parte masculina, com o salão, e a
parte feminina, com o estábulo, a água e os vegetais; é a
estrutura do tempo, a jornada, o ano agrário, ou o ciclo da vida,
com momentos de ruptura, masculinos, e longos períodos de
gestação, femininos (BOURDIEU, 2012, p. 18).
Dessa forma, o autor expõe que cabe ao analista de discurso, ao
pesquisador, sócio-analista, tentar compreender esse esquema sinóptico das
oposições pertinentes aos sexos e que, como princípio de visão e divisão
sexualizante, entram na construção social do corpo como realidade sexuada.
Essa divisão das coisas, das atividades, dos espaços e do tempo segundo a
divisão sexual, normalizada e presente em estado objetivado nas coisas e em
todo mundo social, se incorpora nos corpos e nos habitus dos agentes, “[...]
funcionando como sistemas de esquemas de percepção, de pensamento e de
ação” (BOURDIEU, 2012, p. 17).
3. A “DOMESTICAÇÃO” DO “SER MULHER”
Questionar e romper com a ação hierárquica literária fez de Virgínia
Woolf uma escritora além do intelecto atribuído as mulheres no século
passado, chegando a ser descrita no filme “As hora” através das personagens
Laura Brow que ler seu livro e sua vida muda completamente percebendo que
sua condição de mulher do lar não significava sua vida por inteiro faltava algo
em si que precisava descobrir, e Clarissa Vaughan que se vê na figura da “Mrs.
Dalloway” em que a autora faz críticas sobre o que é o ser humano?.
Mesmo em tempos diferentes a vida dessas mulheres acaba de certa
forma se ligando e assim descrevendo Woolf como uma mulher desequilibrada
emocionalmente, melancólica e indícios de impotência intelectual para
escrever. Sendo ela diagnosticada com o distúrbio bipolar, mostrando a crítica
à figura psiquiatra, profissão ainda iniciante no período. E entender que por trás
da ficção existem elementos reais que interessam questionar.
A situação das mulheres por mais que tenha uma profissão como
Virginia Woolf, causa entre os homens e a sociedade machistas desconforto e
o distanciamento entre os gêneros. Nesse intuito o filme faz uma abordagem
da mulher em seus aspectos característicos e formalizado pela sociedade que
tem conceitos normatizados em relação a homens e mulheres, formando uma
divisão na formação dos indivíduos por ser o melhor.
Observamos que análise feita por Camargo (2001, p. 3) nos faz avaliar
que a luta feminista vai além de apenas “concluir que uma mulher que defende
o direito à propriedade e o voto, além do direito a independência financeira,
seja uma militante feminista”. Ainda na leitura dessa pesquisadora, observa-se
que parece incoerente que alguém que tem todos estes direitos, além de berço
e posição social tenha interesse em lutar pelo direito de quem foi “educada
para assegurar o bem estar-social de seus próximos e para ser o espelho que
duplica a imagem do homem que se olha nele” (CAMARGO, 2001, p. 3).
É importante ressaltar o fato de que, ainda se busca igualdade a
condição da mulher no trabalho e estudo, compreensão e ações na luta dessa
conquista passam a ajudar no processo para retirar a invisibilidade do trabalho
feminino. No entanto, as mulheres ainda não conseguem se sobressair do
trabalho doméstico dificuldades em ter uma profissão fora do “lar”, pois
querendo ou não as mulheres ainda estão colocadas no mercado de trabalho
de forma inferior por serem mães, casadas entre outras representações. Uma
desculpa para não as contratarem, o que as coloca em condição de
desigualdade constante.
De acordo com os textos de Virgínia Woolf podemos ressaltar que o fato
dessas mulheres assumirem trabalhos e papéis diferentes no meio social
possibilitou uma nova visão na construção de identidades e no processo da luta
por direitos estabelecidos pela sociedade. Aborda a importância das mulheres
na sociedade faz-se intensa tanto a cargos públicos e privados quanto na
literatura e outros meios.
A influência do feminismo tem crescido na sociedade apesar dos mitos
que as envolvem no contexto histórico do sistema social. A luta feminista vem a
favor da igualdade de mulheres e homem na sociedade, seja conquistada e
mesmo com os desafios a serem enfrentados, faz da resistência um fator
necessário aos indivíduos e por consequência possa ocasionar mudanças.
Coisas de mulheres: para (des)construir
Águas
A força das mulheres
Está no cheiro
De terra molhada
Que fica depois da chuva esperada
A força das mulheres
Está na terra arrasada
Na planície devastada
Do sertão
Que se levanta
Em seu próprio pó
A força das mulheres
Um dia vai oceanar
Jorrar gotas de esperança
Irrigar a terra ferida
Mulher não é planta seca
Isso é o que importa
Mulher não é natureza morta
Sempre haverá força nas mulheres
Destino da mulher é amor
Destino da mulher é amar
Toda mulher
Pode se encontrar em suas águas
Toda mulher
Pode se encontrar nas águas do mar.
(SOBRAL, Cristiane. Águas. Disponível
em: http://latitudeslatinas.com/poemas-
de-cristiane-sobral/)
A condição da mulher é o objeto de estudo deste ensaio que, mostrado
pelas autoras analisadas vem sendo também abordado pelas escritoras
feministas na contemporaneidade. Para a escritora Cristiane Sobral que
descreve em seus textos a mulher de forma que percebamos a resistência de
ser mulher em meio ao processo de luta contra a sociedade machista que
ainda mesmo na sociedade contemporânea vem se estabelecendo.
A escritora, atriz e diretora, traz em sua obra acima citada uma
abordagem sobre a discriminação das mulheres por meio de aspectos que as
fragilizam percebendo que essas diferenças não possam ser um fator
discriminatório, e a partir daí nos faz refletir a figura e presença do indivíduo
formado pelo preconceito.
Torna-se relevante ressaltar nesse poema de Cristiane Sobral a forma
como descreve o preconceito vivenciado por mulheres, sobretudo as mulheres
ditas “do lar” a partir de metáfora. O poema (des)constrói a imagem frágil das
mulheres para além da visão machista e explora a condição imposta pela
sociedade machista em relação a esses fatos, dando poder as mulheres
caracterizando como um indivíduo forte nas diferentes situações.
A mulher no poema se caracteriza pela forma que a autora visualiza a
busca por direitos iguais e assim, vistas como sujeitos políticos resultante de
enfrentamentos desmistificando a dicotomia entre os gêneros feminino e
masculino. E assim como em seu poema “Não vou mais lavar os pratos, nem
vou limpar a poeira dos móveis, sinto muito. Comecei a ler” a ironia nas
palavras coloca as mulheres em uma visão de novas possibilidades e
conquistas “Sempre haverá força nas mulheres”.
As mulheres querem ser protagonistas da sua própria história,
estabelecer uma nova visão repleta de novas possibilidades e transformações.
E a busca de igualdade entre mulheres e homens é para que tenhamos uma
sociedade mais justa e mais humana, que possam ter direitos, sobretudo sem
discriminações, mulher.
Em outras palavras, mulheres como as autoras aqui citadas mostra que
é possível transformar a história e representação do ser mulher, mesmo com
conceitos e preconceitos estabelecidos socialmente até mesmo por mulheres.
Estamos questionando para buscarmos entender um período atual em que as
mulheres exercem cada vez mais uma atividade profissional em que
conseguem se permitir casar ou o, ter ou não filhos. Ser mãe é pensado e
pesado como forma de evoluir como indivíduo. Não se trata de uma escravidão
do lar e sim como forma de conhecimento e sentido e autonomia individual
querer ou não, uma opção.
Enfim, ainda hoje muitos pais e mães reproduzem e naturalizam um tipo
de discurso reflexo do comportamento considerado machista, quando se trata
da criação de seus filhos, seguindo os aspectos dentro do padrão como foram
educados. Instigam costumes e falam de modo que vai naturalizando nesses
indivíduos a repetição desse modelo de ser e representar. Seja na forma como
separam seus filhos com coisas de menino e coisas de menina, tanto no meio
familiar quanto no contexto social, fazendo, portanto, parte da vida cotidiana de
muitos indivíduos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho apresentamos uma análise do que entendemos ser a
forma com que o “ser mulher” está representado socialmente em um contexto
sociohistoricamente situado. Passamos a entender mais sobre a “condição”
mulher, após a “domesticação da mulher”, enfim ressaltamos a (des)construção
dessa representação social e profissional da mulher.
Dessa forma, por meio dos enfoques dado por nós, embora existam
algumas práticas voltadas à atuação de dominação masculina, ser mulher,
segundo nossa compreensão é ser múltipla; mulher dona de casa, esposa,
mãe, filha, ter um trabalho fora de casa, sobretudo corresponder às
expectativas enquanto a seu papel social já estabelecido.
Este estudo propôs por meio da análise do discurso social sobre o ser
mulher, questionar o uso de poder em relação a mulher, induzidas nas
obrigações impostas no âmbito familiar e social, no qual a maioria das
mulheres neste contexto era vista como um ser domesticável, o que não
contribui com o rompimento desse termo e fato desenvolvido cotidianamente.
Deste modo, temos nos espaços públicos e privados sentidos da
dominação masculina versus o ser mulher, no entanto, mais que uma
(des)construção, o que se busca a partir dessa análise de caráter político,
econômico e cultural, observado na sociedade contemporânea, propor essa
(des)construção e desnaturalização.
Aliado a isso, compreendemos que dentre os espaços e papéis
propostos a mulheres e homens o que se entende são determinados pelo
desempenho de tarefas e funções fixas desenvolvidas durante a história
cotidiana desses indivíduos, fomentada pelo fato dicotômico de ser do gênero
considerado frágil e sensível.
A mulher no seu contexto de atuação representado socialmente ainda
requer a discussão dos pressupostos que em termos gerais evidencie as
identidades femininas e que não mais seja o sexo frágil, e que saia da ótica da
beleza e vaidade. Esse pensamento determina e constrói ao longo do tempo
representações na sociedade, como uma estratégia de poder. Entretanto, em
nosso entendimento não queremos determinar quem é neste contexto os
mocinhos e os bandidos, mas propor uma reflexão sobre esses fatos e
conceitos de representação.
A partir da leitura do texto “Um teto todo seu” se pode identificar e
analisar diferentes abordagens em outros textos que contribuíram com o
trabalho, seus personagens e poesias. O processo, em si, parte de uma
abordagem cristalizada e vista como algo natural, marcada pelas estruturas
ideológicas.
Neste intuito a contemporaneidade é marcada pela necessidade de
mudanças de valores e mentalidades que possam contribuir para desmistificar
essa relação de poder. Torna-se, uma reação, uma resistência as essas
questões, percebendo a posição da mulher atualmente na (des)construção
desses paradigmas. Enfim, os sujeitos se entrelaçam na construção de outras
identidades historicamente pautada pela cultura do lugar que se esteja inserido.
Para tanto, no poema Eu, etiqueta”, de Carlos Drummond de Andrade
(1984) apresenta o que propomos discutir em nossas abordagens enquanto o
ser mulher na sociedade como uma visão estereotipada, o deixar ser
identificados e resumidos pela sociedade a que somos parte por “etiqueta”, um
rótulo:
Meu corpo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes
Gritos visuais,
Ordens de aviso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, premência,
Indispensabilidade... (ANDRADE, 1984. p.85).
Os versos acima descritos pelo autor nos faz refletir não o
consumismo pela sociedade, mas perceber neles uma metáfora a diferença e a
necessidade de não perceber mais a mulher como objeto de consumo por meio
de seu corpo “feminino”. É ir contra a condição atribuída ao corpo da mulher
pelo homem. Aponta contra o que a sociedade patriarcal formulou durante o
período de colonização do Brasil e sua permanência nos dias atuais.
REFERÊNCIAS
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Miramax Filmes, 2002. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Z-e2E1Sjy3Y, Acesso em: 24 de
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1984.
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Tradução Maria Helena
Kühner. 11. ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2012.
CAMARGO, Mônica Hermini de. Versões do feminino: Virginia Woolf e
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Modernas), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo, 2001.
DUARTE, Constância Lima. Feminismo e Literatura no Brasil. Instituto
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SANTANA, Eder Fernandes. A resistência à dominação masculina em
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da FENORD / Fundação Educacional Nordeste Mineiro. v. 2 (2012- ).
Teófilo Otoni: FENORD, 2012, pp. 99-115.
SOBRAL, Cristiane. Águas. Disponível em:
http://latitudeslatinas.com/poemas-de-cristiane-sobral/ Acesso em: 20 de
abr. 2018.
WOOLF, Virgínia. Profissões para mulheres: e outros artigos femininos.
Posição intelectual da mulher. In: Um teto todo seu. Editora:
Tordesilhas, 2014.