RESENHA DE "ATUAÇÃO TEATRAL E ENSINO DE LÍNGUA ESTRANGEIRA" [SILVA, EDUARDO DIAS – JUNDIAÍ, SP: PACO EDITORIAL, 2017]
Lucimar Pinheiro da Silva SAMPAIO1
RESENHA
No livro Atuação teatral e ensino de Língua Estrangeira, o autor Eduardo Dias da Silva traz uma metapesquisa interpretativa de modalidade documental, para entrelaçar texto teatral e oralidade, no processo ensino-aprendizagem de Língua Estrangeira – LE. Uma obra que, já no título, demonstra que o leitor entrará em contato com uma proposta inovadora de ensino, vislumbrando ação pedagógica por meio da atuação corporal.
Trata-se de uma pesquisa situada no campo da Linguística Aplicada – LA, na qual a linguagem é investigada num processo de interação, considerando aspectos sociais e históricos dos sujeitos envolvidos. A obra está dividida em cinco capítulos cujos títulos fazem referência ao contexto teatral, como um convite ao leitor para participar de uma encenação por meio do texto.
Inicialmente conta com o prefácio da Profa. Dra. Cristina Casadei Pietraróia, da FFLCH – USP, que deixa claro que o livro, além de ter uma construção envolvente, será de grande valia para docentes que têm como meta de ensino transformar suas práticas pedagógicas.
No 1º capítulo – Sinopse – o autor relata um pouco dos seus 15 anos de experiência como educador, para que o leitor entenda o que o instigou a realizar a pesquisa em tela, a qual envolve texto teatral, postura corporal, voz e oralidade nas práticas de ensino de LE (Francês). Para isso, cita autores que embasarem teoricamente sua linha de pesquisa, evidenciando que o foco não é o de criar uma nova metodologia, mas sim, inspirar outros educadores. Sendo assim, por que não por meio do teatro?
O capítulo 2 – Os Roteiristas – traz teorias de língua e linguagem utilizadas na investigação; conceitos e definições do texto teatral enquanto texto estético em Ubersfeld, (1996), Pierra (2006) e Pavis (2002); teoria dos gêneros discursivos de Bakhtin (2010); o papel da linguagem no processo de enunciação; e a apropriação da oralidade como mediadora de práticas de ensino e do corpo no processo de interação e aprendizagem de LE, com Marcuschi (2010), Meschonnic (2010) e Bajard (2002). Toda essa trajetória teórica vai de encontro ao profissional reflexivo de Perrenoud (2008) e Schön (2000), que busca analisar suas próprias práticas, para que, segundo o próprio autor, a problematização sirva para motivar as ações. Este capítulo, para estabelecer um melhor percurso teórico, foi subdivido em: 1) Língua, linguagem, gêneros discursivos e texto teatral; 2) Corpo e voz; e 3) Sujeitos reflexivos.
No capítulo 3 – Diretores – é possível compreender o que é uma metapesquisa qualitativa, a qual serviu de viés metodológico desta investigação. Este capítulo apresenta também a hermenêutica-fenomenológica com Ricoeur (1976) e Gadamer (1997) que tem o objetivo nesta obra de inserir filosoficamente o texto teatral e suas expressões na apropriação da oralidade em práticas de ensino de LE. Após o relato da metodologia utilizada, o capítulo também é subdividido em três partes, para boa localização do leitor nesta peça: 1) Hermenêutica – Origem; 2) Ricoeur – Hermeneuta-fenomenológico; e 3) Gadamer - Hermeneuta-fenomenológico.
No 4º capítulo, com outro título bastante sugestivo – O Abrir das Cortinas, o autor define, em uma breve introdução, que irá reunir as discussões dos atos teatrais anteriores, ou seja, ocorrerá a junção de todos os capítulos em busca do objetivo inicial da pesquisa: a expressão teatral e todos os seus recursos de voz e corpo, em prol da oralidade e práticas inovadoras nas aulas de LE (Francês). Para tal, recorre a Massaro (2008) e Reis (2011) e suas práticas pedagógicas enquanto professores-pesquisadores. Nesta parte da obra, a subdivisão se dá em quatro partes: 1) Os protagonistas; 2) Professor reflexivo; 3) Afetividade-subjetividade; e 4) Corpo e voz. Essa união resultou num capítulo que aliou toda a teoria explicitada anteriormente à prática proposta, com o intuito de contribuir para o campo do ensino em LA e para a construção de novas práticas no processo de ensino-aprendizagem de LE que primem pela inovação, como se observa neste excerto da obra, em palavras do próprio autor:
... a comunicação deve ser concebida como sistema dinâmico de códigos interdependentes e todo estudo criterioso sobre a comunicação deveria integrar as condutas verbais dos participantes (professores e aprendentes), no intuito de restituir, juntamente com o plano verbal, o ato comunicativo em sua totalidade. (SILVA, 2017, p.130)
Por fim, o capítulo 5 encerra a encenação proposta com o título o (Re)Abrir das Cortinas. É o momento que o leitor é convidado a refletir sobre as transformações que o autor propõe durante toda a obra, a fim de ampliar os horizontes nas práticas de ensino-aprendizagem de LE, aliando corpo, voz e texto teatral na mediação da apropriação da linguagem, “sem perder de vista a importante noção de que é nos textos e nas leituras que os sentidos são construídos” (PIETRARÓIA, 1997, p.318). O encerramento deste capítulo, no qual o autor expõe o seu desejo de encorajar outras metapesquisas, bem como o uso da hermenêutica-fenomenológica, é seguido pelo posfácio da Profa. Dra. Maria da Glória Magalhães dos Reis – LET e PosLit/Unb, que ressalta a relevância desta pesquisa para o profissional que trabalha com linguagem, tanto no intuito de refletir sobre sua prática, quanto para traçar novos caminhos no ensino.
Vê-se, assim, uma obra que realmente servirá de inspiração para muitos educadores refletirem sobre suas práticas no ensino de LE, e pesquisadores nas suas investigações em linguagem, como pretende o autor. Um livro necessário na LA, por aliar um arcabouço teórico bastante aprofundado à proposta de prática de ensino que valoriza o aprendizado autônomo e inovador. Sendo assim, um grande suporte para que se amplie as possibilidades de se ter um olhar atento à linguagem e analisá-la num viés de prática e teoria, transformando este processo educativo em um grande aprendizado, sempre em busca de melhores métodos.
REFERÊNCIAS
BAJARD, E. Caminhos da escrita – espaços de aprendizagem. São Paulo: Cortez, 2002.
GADAMER, H. G. On the scope and function of hermeneutical reflection. Tradução de G. B. Hess e Richard E. Palmer. Los Angeles: University California Press, 1997
MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita – atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2010.
MASSARO, P. R. Teatro e língua estrangeira – entre teoria(s) e prática(s). São Paulo: Paulistana, 2008.
MESCHONNIC, H. Poética do traduzir. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Perspectiva, 2010.
PAVIS, P. Le théatre contemporain – analyse des textes, de Sarraute à Vinaver. Paris: Nathan, 2002.
PERRENAUD, P. A prática reflexiva no ofício do professor: profissionalização e razão pedagógica. Tradução de Claudia Schilling. Porto Alegre: Artmed, 2008.
PIERRA, G. Le corps, la voix, le texte. Paris: L’Harmattan, 2006.
PIETRARÓIA, C. M. C. Percursos da leitura – léxico e construção de sentido na leitura em língua estrangeira. São Paulo: Annablume, 1997
REIS, M. da G. M. A expressão em cena: afetividade, o corpo e a voz da LE. In: MASTRELLA DE ANDRADE, Mariana R. (org.) Afetividade e emoções no ensino/aprendizagem de línguas: múltiplos olhares. Campinas-SP: Pontes, v.18, 2011.
RICOEUR, P. Teoria da interpretação. Tradução de Artur Morujão. Lisboa: Edições 70, 1998.
SCHÖN, D. Educando o profissional reflexivo: um novo design para o ensino e a aprendizagem. Tradução de Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2000.
UBERSFELD, A. Lire le théâtre 1. Paris. Éditions Sociales, 1996.
1 Mestre em Educação pela Universidade de Brasília. Professora da SEE-DF. Pesquisadora do GECAL/UnB/CNPq e do GIEL/UFLA/CNPq. lucimarsampaio@gmail.com